Medo da inflação afeta apoio popular ao governo Lula

Cresceu de 23% para 33% o índice de eleitores para os quais a economia piorou nos últimos 12 meses, Os números da pesquisa mostram que as oscilações positivas no apoio ao governo ainda dependem de discursos e entrevistas presidente.

Em dois meses, a aprovação ao trabalho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) caiu de 60% para 54%, conforme pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (25). A queda acima da margem de erro (que é de dois pontos percentuais) ocorreu em todos os segmentos, menos entre os eleitores com 60 anos ou mais. Já a desaprovação passou de 35% para 42%.

O período da pesquisa abrange os 21 dias em que o presidente despachou no Palácio da Alvorada, sua residência oficial, após se submeter a uma cirurgia no quadril. Fora de eventos públicos, Lula praticamente não fez pronunciamentos, não participou de gravações ou entrevistas, nem participou de sua live semanal, o Conversa com o Presidente. A lacuna, ao que tudo indica, comprometeu os resultados do levantamento.

Mas o principal fator para a popularidade em declínio do governo é a visão mais pessimista a respeito da atividade econômica – uma provável influência do noticiário sobre a opinião pública. De agosto para outubro, cresceu de 23% para 33% o índice de eleitores para os quais a economia piorou nos últimos 12 meses. Os que creem em melhora são 33%, e os que acham que a atividade econômica ficou do mesmo jeito são 33%.

Essa avaliação afeta as expectativas dos brasileiros para os próximos 12 meses. O otimismo ainda prevalece, mas o número dos que apontam que a economia vai melhorar caiu de 59% para 50%. Os pessimistas, que creem em piora econômica em 12 meses, são agora 28% – eram 22% em agosto.

Embora a inflação esteja sob controle – sobretudo na comparação com três últimos anos do governo Jair Bolsonaro (PL) –, cresce a percepção contrária. Houve crescimento nos percentuais de brasileiros que viram preços mais altos “das contas” (de 48% a 57%), “dos alimentos” (de 37% para 42%) e “dos combustíveis” (de 31% para 43%). O medo da inflação é igualmente crescente – 47% apostam que os preços vão aumentar.

Se há o noticiário negativo de um lado, há também as redes sociais de outro. “A guerra da comunicação não mudou nada em relação a campanha”, analisou Felipe Nunes, diretor da Quaest. “Eleitores do Lula continuam se informando mais pela TV, eleitores do Bolsonaro buscando informação mais pelas redes, sites, blogs e portais de notícia. São dois campos distintos.”

Diferenças à parte, Lula ainda está perdendo a batalha da comunicação e não consegue “criar gordura” em sua popularidade. Passados quase dez meses da posse, pode ser cedo para que as principais ações do governo sejam mais capitalizadas aos olhos da opinião pública, sobretudo entre os beneficiários de programas sociais e econômicos.

Os números da pesquisa Genial/Quaest, porém, mostram que as oscilações positivas no apoio popular à administração federal ainda dependem, em boa medida, de discursos e entrevistas do próprio presidente. Com Lula de licença médica, é como houvesse um mutismo do governo – não da oposição. Alguma coisa está fora da ordem.

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