Censos demográficos e mudanças de sociedade no Brasil

Os censos demográficos de 2010 e 2022 indicaram a passagem para a sociedade de serviços sob os impactos do ingresso do Brasil na Era Digital

(Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

No período colonial (1500-1822) e parte do império brasileiro (1822-1871) não houve censo demográfico nacional. As contagens populacionais eram esparsas e sem metodologia científica precisa, pois serviam fundamentalmente como indicações de habitantes para medir a imposição tributária e a base de referência policial.

Somente no fim do segundo império (1840-1889) foi realizado o primeiro e único censo demográfico conduzido pelo regime monárquico no país. De 1872 a 1935, a Diretoria Geral de Estatística produziu cinco Censos demográficos realizado por padres, delegados, subdelegados, juiz de paz, entre outros coletadores de dados pelo país.

Com a implantação do IBGE, em 1936, o Brasil passou a contar com a presença de agentes de Estado que realizam censos demográficos com as melhores metodologias cientificas e tecnológicas disponíveis. Dessa forma, o país passou a dispor de informações sobre a realidade do povo brasileiro que contribuem tanto para o desenvolvimento de novas políticas públicas, como para o aperfeiçoamento das já existentes.

Os censos demográficos permitem também registrar trajetórias populacionais ao longo do tempo. Entre 1872 e 2023, por exemplo, o Brasil realizou o conjunto de 13 censos demográficos que revelaram distintas mudanças na sociedade brasileira. Mas em períodos de fortes perturbações políticas, como nos anos de 1880, 1910 e 1930, o Brasil não realizou o censo demográfico.

No ano de 1990, por exemplo, não teve a realização do censo demográfico, tendo ocorrido em 1991. Também em 2020, o Brasil não teve o censo demográfico. Pela primeira vez na história nacional, o censo demográfico realizado em 2022 somente aconteceu por decisão do Supremo Tribunal Federal.

Destaca-se que os seis primeiros censos demográficos (1872, 1890, 1900, 1920, 1940 e 1950) expressaram as características pertencentes da longeva e primitiva sociedade agrária em transição do mercantilismo escravista para o capitalismo selvagem.

Os cinco censos demográficos referentes a segunda metade do século 20 (1960, 1970, 1980, 1991 e 2000) apontaram a consolidação incompleta da sociedade urbana e industrial na periferia do capitalismo mundial.

No primeiro quarto do século 21, os dois últimos censos demográficos realizados (2010 e 2022) indicaram a passagem para a sociedade de serviços sob os impactos do ingresso do Brasil na Era Digital.

Considerando essa perspectiva histórica, constata-se como as comunidades pensantes, gestoras e midiáticas do país detêm, pelo valoroso trabalho de ibegeanas e ibegeanos, elementos primorosos e genuínos da materialidade pertencente à realidade nacional a ser analisada, interpretada e alterada em conformidade com a correlação de forças políticas em movimentos não necessariamente convergentes.

*Marcio Pochmann é presidente do IBGE

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