Com 3.324 mortes, crianças são quase metade das vítimas em Gaza

O número não inclui cerca de mil crianças desaparecidas em escombros. Em três semanas, o total supera a média anual de crianças mortas em conflitos, desde 2019.

UNICEF/UNI448902/Ajjour

O número de crianças mortas em Gaza em apenas três semanas ultrapassou o número anual de crianças mortas nas zonas de conflito do mundo desde 2019, disse a Save the Children. 

Desde 7 de outubro, quando deflagrou-se o conflito, mais de 3.389 crianças foram mortas, incluindo pelo menos 3.324 em Gaza, 36 na Cisjordânia e 29 em Israel, de acordo com os Ministérios da Saúde de Gaza e de Israel, respectivamente. O número de crianças mortas em apenas três semanas em Gaza é superior ao número de crianças mortas em conflitos armados a nível mundial – em mais de 20 países – ao longo de um ano inteiro, nos últimos três anos.

É relatado que pelo menos 6.360 crianças em Gaza também ficaram feridas, bem como pelo menos 180 crianças na Cisjordânia e pelo menos 74 crianças em Israel. Mais de 200 pessoas, incluindo crianças, permanecem reféns dentro de Gaza. A quantidade de órfãos ainda não foi notificada, são mais de mil desaparecidas e 6.360 feridos com risco de morte em hospitais em colapso.

“Três semanas de violência arrancaram crianças das famílias e destruíram as suas vidas a um ritmo inimaginável. Os números são angustiantes e com a violência não só continuando mas também aumentando em Gaza neste momento, muito mais crianças continuam em grave risco”, disse o diretor nacional da Save the Children no território palestino ocupado, Jason Lee.

As crianças representam mais de 40% das mais de 8.000 pessoas mortas em Gaza e mais de um terço de todas as vítimas mortais no território palestiniano ocupado e em Israel. Com mais 1.000 crianças dadas como desaparecidas em Gaza e supostamente enterradas sob os escombros, o número de mortos é provavelmente muito maior.

Evacuação de feridos

Na sexta-feira, as forças israelenses anunciaram “operações terrestres ampliadas” na Faixa de Gaza, com a Save the Children alertando que isso traria mais mortes, feridos e sofrimento, ao mesmo tempo que apelava a um cessar-fogo imediato.

A Sociedade do Crescente Vermelho Palestino (PRCS) informou que o hospital al-Quds está atualmente prestando atendimento a centenas de pacientes feridos, enquanto Israel ordena evacuação para ataque. Cerca de 12 mil civis deslocados, a maioria crianças e mulheres, também procuraram refúgio no edifício do hospital.

“Reiteramos – é impossível evacuar hospitais cheios de pacientes sem colocar suas vidas em risco”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), no X. Muitos dos pacientes são bebês recém-nascidos ou prematuros que precisam de cuidados intensivos.

“A morte de uma criança é demais, mas estas são violações graves de proporções épicas. Um cessar-fogo é a única forma de garantir a sua segurança. A comunidade internacional deve colocar as pessoas à frente da política – cada dia passado a debater está a deixar crianças mortas e feridas. Crianças devem ser protegidos em todos os momentos, especialmente quando procuram segurança em escolas e hospitais.”

O risco de crianças morrerem devido a ferimentos nunca foi tão elevado, com a ONU a relatar que um terço dos hospitais em toda a Faixa de Gaza já não estão operacionais devido a cortes de eletricidade e a um “cerco total” por parte do Governo de Israel que bloqueia a entrada de bens como combustível e remédios. De acordo com Médicos Sem Fronteiras, a escassez de anestesia resultante significou a amputação de crianças sem alívio da dor.

Tragédia incomparável

De acordo com os últimos três Relatórios Anuais do Secretário-Geral da ONU sobre Crianças e Conflitos Armados, um total de 2.985 crianças foram mortas em 24 países em 2022, 2.515 em 2021 e 2.674 em 2020 em 22 países. Em 2019, 4.019 crianças foram mortas.

Pelo menos 74 crianças em Israel ficaram feridas, segundo a mídia israelense. Devido à situação atual, as informações e números fornecidos pelos ministérios da Saúde de Israel e Gaza não podem ser verificados de forma independente. 

Segundo a organização, as crianças sofrerão o peso da intensificação dos ataques em Gaza, com probabilidade de mais mortes, feridos e angústia, para não mencionar o sofrimento de graves impactos na saúde mental a longo prazo. As crianças também sofrem com a fome, a falta de abrigo e enfrentam o terror todos os dias . Com a ajuda limitada capaz de chegar até eles, uma catástrofe humanitária se aproxima.

“O assassinato e a mutilação de crianças, juntamente com os ataques a escolas e hospitais, constituem uma violação grave e os responsáveis devem ser responsabilizados pelos seus atos”, diz a Save The Children.

Autor