EUA podem apressar resolução no Conselho de Segurança sob mandato do Brasil

Diplomatas avaliam que EUA devem preferir dar protagonismo ao Brasil, do que à China, que assume amanhã, com resolução que permita ajuda humanitária, sem exigir cessar-fogo

Uma bandeira das Nações Unidas hasteada em um acampamento, operado pela Agência de Assistência e Obras das Nações Unidas (UNRWA), para palestinos deslocados no oeste de Khan Younis, Gaza, na terça-feira, 17 de outubro de 2023.

O tom da reunião desta segunda-feira (30) no Conselho de Segurança da ONU foi de repúdio à mais um oportunidade histórica sob paralisia dos membros permanentes com a crise humanitária em Gaza. No entanto, há uma especulação entre diplomatas de que este último dia sob a presidência do Brasil, pode servir de pressão para que os EUA aceitem um texto de resolução sobre o conflito. 

O mandato brasileiro  termina nesta 3ª feira (31). O ministro Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, passa o bastão para a China, que atravessará o mês novembro, que pode ser definitivo para o destino do conflito. O Conselho de Segurança das Nações Unidas concluiu sua sétima reunião consecutiva sem chegar a uma resolução sobre o conflito.

A iminente mudança pode impulsionar potências a costurarem uma última resolução, com “o texto possível”. Além da escalada de invasão terrestre de Israel e o tom contundente de críticas de líderes árabes, acredita-se que os EUA não vão querer deixar para a China o protagonismo deste momento histórico e prefira enaltecer a neutralidade do Brasil. Esta avaliação tem sido feita por diplomatas presentes em Nova York para veículos de imprensa.

A chegada, nesta quarta-feira, da maior rival dos Estados Unidos no palco geopolítico pode tornar a diplomacia de Xi Jinping a protagonista global do momento mais importante do conflito. Desta forma, os americanos podem ter interesse em impulsionar um texto “possível” ainda sob a presidência do Brasil.

Israel e EUA não aceitam qualquer menção no texto a cessar-fogo ou similares, como pausa humanitária. Assim, o texto deverá buscar por termos que garantam auxílio humanitário e a saída de reféns e de cidadãos estrangeiros da zona de conflito.

Caso nada disso se confirme, nesta terça, com a saída do Brasil da presidência rotativa e com a China assumindo a função durante o mês de novembro, a tendência é que se torne mais difícil a aprovação de qualquer texto.

Conselho de Segurança

O Conselho de Segurança da ONU é o responsável por zelar pela paz internacional. Ele tem 5 integrantes permanentes: China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos. Fazem parte do conselho rotativo Albânia, Brasil, Equador, Gabão, Gana, Japão, Malta, Moçambique, Suíça e Emirados Árabes.

A agenda brasileira na liderança do Conselho de Segurança foi dominada pelo conflito entre Israel e o Hamas, iniciado em 7 de outubro. 

Ao discursar na chamada Cúpula da Paz, em Cairo (Egito), em 21 de outubro, Vieira disse que a “paralisia do Conselho de Segurança está tendo consequências tremendas na vida dos civis” –algo que, segundo ele, “não é do interesse da comunidade internacional”. 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já criticou o Conselho de Segurança em diversas ocasiões. Em 26 de agosto, por exemplo, disse que o órgão “deveria ser da segurança, da paz e da tranquilidade”, mas “que faz a guerra sem conversar com ninguém”. 

Em 27 de outubro, Lula chamou o direito de veto dos integrantes permanentes do Conselho Segurança de “uma loucura”. A declaração foi feita depois que proposta brasileira sobre a guerra entre Israel e Hamas não foi aprovada. A resolução teve 12 votos a favor, 1 contra e duas abstenções, mas não foi aprovada porque o único voto contra foi dado pelos Estados Unidos, integrante permanente do órgão e com direito a veto. 

O presidente voltou a defender uma reforma no Conselho para abrigar mais integrantes permanentes. O tema é pauta de Lula desde seu 1º mandato, mas atualmente não há perspectiva para uma mudança efetiva no órgão.

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