Bolsonaro só pode ser esquecido quando for preso, diz Ruy Castro

“Continuo a falar de Bolsonaro porque o Brasil ainda não ajustou contas com ele. Aliás, mal começou”, escreveu o jornalista

O jornalista Ruy Castro, membro da Academia Brasileira de Letras, rebateu nesta quinta-feira (2) a seus leitores que lhe cobram menos citações a Jair Bolsonaro (PL). Em sua coluna na Folha de S.Paulo, com o título “Jamais esquecer Bolsonaro”, ele afirmou que o tema pode até “manchar” o espaço, mas é inevitável enquanto todos os processos contra ex-presidente não forem julgados e ele não estiver cumprindo pena na prisão.

“Continuo a falar de Bolsonaro porque o Brasil ainda não ajustou contas com ele. Aliás, mal começou”, escreveu Ruy. Seu texto lembra que, nesta semana, o ex-presidente voltou a ser declarado inelegível por oito anos pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). As penas de inelegibilidade, porém, não são cumulativas.

“Bolsonaro respondeu a mais um processo por ter prostituído o 7/9 do Bicentenário para fins reeleitorais”, lembra o colunista. “Pena que cada condenação não se acrescente às outras para chegar a um número de três algarismos. Sou capaz de conviver com isso, desde que uma manobra de algum de seus advogados de toga não decida pela supressão da pena.”

Para Ruy Castro, o governo Bolsonaro ajudou os brasileiros a reinterpretar o que é o Estado Democrático de Direito, conquista permanentemente atacada pelo governo de destruição do ex-presidente. “Ao tentar destruí-la, ele nos ensinou o valor da democracia. Nesta, a corrupção existe e pode ser combatida. Numa ditadura, a corrupção é até em maior grau, mas não podemos sequer denunciá-la”, comparou.

O jornalista vinha sendo cobrado a parar de escrever sobre Bolsonaro “para não promovê-lo”. Segundo Ruy, essa lógica só beneficia o ex-presidente. “Engana-se quem diz que seu governo é ‘para esquecer’. Ao contrário, temos de lembrá-lo dia a dia, para aprendermos como se tentou armar a maior teia antidemocrática da história da República.”

Restam, ainda, nove ações contra Bolsonaro, seja na Justiça Eleitoral, seja no STF (Supremo Tribunal Federal). “Quando as outras nove investigações a seu respeito se completarem (e a delação de Mauro Cid não para de revelar crimes), então Bolsonaro poderá ser esquecido – num longínquo e acolhedor presídio federal”, conclui Ruy Castro.

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