Trabalhadores encerram greve histórica nas montadoras de Detroit

Salário dos trabalhadores terá aumento real imediato de 11%. Até abril de 2028, montadoras deverão dar outro aumento (também real) de 25%.

O presidente da UAW, Shawn Fain, durante piquete na Ford de Detroit. Foto: Paul Sancya

O sindicato UAW (United Auto Workers), que representa a maioria dos trabalhadores do setor automotivo nos Estados Unidos, anunciou na quinta-feira (2) o fim da maior greve na história das grandes montadoras de Detroit – General Motors (GM), Ford e Stellantis. Em sete semanas de paralisação, os metalúrgicos conquistaram o apoio da opinião pública e viram até o presidente Joe Biden participar de um piquete – algo sem precedentes na história norte-americana.

Mesmo estimativas mais conservadoras apontam que ao menos 45 mil trabalhadores cruzaram os braços nas “big three” (as três gigantes) de Detroit, que produzem cerca de 3.415 veículos por dia. As perdas econômicas foram superiores a US$ 10,42 bilhões (o equivalente a mais de R$ 51 bilhões). De acordo com o Anderson Economic Group, o prejuízo das fabricantes de automóveis foi de US$ 4,3 bilhões (cerca de R$ 21 bilhões).

Iniciada em 15 de setembro, a histórica greve arrancou conquistas econômicas expressivas para os trabalhadores – as melhores em mais de 40 anos. . Desde a grande crise capitalista de 2007/2008, esses trabalhadores da indústria automobilística sofriam com arrochos salariais e perda de direitos.

Conforme os três acordos coletivos fechados pelo UAW – um para cada montadora –, os salários terão aumento real (além da inflação) de 11%. Esse reajuste será imediato. Até abril de 2028, as empresas deverão dar outro aumento (também real) de 25%.

Além disso, o piso da categoria será elevado em 70%, favorecendo especialmente os novos trabalhadores. Haverá um bônus de ratificação para os metalúrgicos de US$ 5 mil e a criação de um subsídio de custo de vida para trabalhadores horistas e assalariados. As condições de segurança no local de trabalha também terão de avançar, assim como as garantias contra demissões. Os veículos elétricos, futuro da indústria, demandam menos componentes e, portanto, menos postos de trabalho. Assim, a transição dos automóveis com motores de combustão interna para carros a bateria está no centro do debate.

Ao longo da negociação, as montadoras insistiam em reajustes imediatos de 10% e complementares de 23%. Em meio à greve, o anúncio de lucros acima dos esperados na GM e na Ford, no terceiro trimestre, enfraqueceu o discurso patronal. “O nosso sindicato mostrou ao mundo o que é possível quando trabalhadores se unem para lutar por mais direitos”, declarou, em uma live, o presidente do UAW, Shawn Fain.

Embora os acordos só valham para quem trabalha na GM, na Ford e na Stellantis, o impacto das negociações beneficiará operários de outras montadoras. Segundo Shawn Fain, a prioridade do movimento, agora, é organizar trabalhadores não sindicalizados. As próprias fabricantes com plantas fora de Detroit já tentam se antecipar para conter manifestações e greves.

É o caso da Toyota e da Honda, multinacionais japonesas cujos funcionários não são representados por sindicatos nos Estados Unidos. Cientes da pressão crescente no chão da fábrica, essas montadoras já se comprometeram em melhorar os contratos dos trabalhadores. Na quarta-feira (1), a Toyota informou que dará aumento de 9% nos salários. A Honda também acenou com reajustes salariais, mas ainda não divulgou valores.

Shawn Fain, o líder do UAW, não passou recibo. “A Toyota não está dando aumentos pela bondade do seu coração”, disparou o sindicalista. “A Toyota é a maior e mais lucrativa empresa automobilística do mundo e poderia, simplesmente, ter aumentado salários há um mês ou há um ano. Eles aumentaram agora porque a empresa sabe que estamos indo atrás deles.”

Com o fim da paralisação nas fabricantes de Detroit, as atenções do sindicalismo norte-americano se voltam, agora, para outras greves igualmente simbólicas. Atores e roteiristas continuam a enfrentar os grandes estúdios de Hollywood. Em Las Vegas e no sul da Califórnia, a luta dos trabalhadores da hotelaria por melhores salários e benefícios continua.

As greves nos Estados Unidos mobilizaram centenas de milhares de trabalhadores apenas em 2023. Apesar do desemprego em baixa e dos indicadores macroeconômicos em situação relativamente estável, os norte-americanos sofrem com a alta no custo de vida e da desigualdade – o que foi agravado com a pandemia de Covid-19. Quando o ano começou, apenas 6% dos trabalhadores do setor privado eram sindicalizados. Greves vitoriosas, como a do UAW, podem mudar esse cenário.

Autor