Governo Meloni teme greve geral prevista para sexta (17) na Itália

Mudanças no orçamento de 2024 ameaçam trabalho, salários, investimentos, saúde e segurança pública, alem de aposentadorias.

Manifestação de sindicatos em outubro

A Confederação-Geral Italiana do Trabalho (Cgil), maior sindicato da Itália, e a União Italiana do Trabalho (UIL), outro dos maiores, marcaram uma greve para a sexta-feira (17) contra medidas do governo da premiê de ultradireita Giorgia Meloni. A greve começará às 8h (horário local), atingindo inclusive as escolas. Haverá uma manifestação na Piazza del Popolo, em Roma.

Na segunda-feira, 20 de novembro, será a vez da Sicília fazer sua greve; na sexta-feira, 24, das regiões do Norte; na segunda-feira, 27, da Sardenha e, finalmente, na sexta-feira, 1 de dezembro, das regiões do Sul.

Durante conferência de imprensa, representantes da CGIL e da Uil, destacaram que o governo deveria trabalhar para unir o país, mas, ao contrário, mensagens contraditórias estão sendo enviadas de Roma. Ele citou a proposta “inaceitável” de reintrodução de gaiolas salariais, como uma das preocupações. Além disso, criticaram o projeto de regionalismo diferenciado, argumentando que isso aumentaria as disparidades entre o Norte e o Sul do país, prejudicando as perspectivas de crescimento econômico e social.

A questão da saúde foi central nas críticas, com acusações de desinvestimento nos cuidados de saúde públicos em favor do fortalecimento dos cuidados de saúde privados. Especialmente a Lei Orçamentária, segundo os sindicatos, desfavorece os serviços públicos de saúde.

Falou-se ainda da luta contra o emprego precário, a não renovação de contratos, a demanda por um salário mínimo, a luta contra o crime organizado, a segurança no local de trabalho, as pensões e a não autossuficiência.

A Uil Calábria critica o confisco de fundos para o Sul pelo governo, a redução de verbas destinadas a combater a pobreza e a falta de garantias para a renovação de contratos. Ela aponta a inconsistência entre as palavras e ações do governo, afirmando que estão prontos para atacar e voltar ao trabalho para o bem do país.

Houve alertas sobre a falta de investimentos concretos no crescimento regional do Sul. Há preocupações em relação a infraestruturas a modernizar, o êxodo de jovens em busca de oportunidades, o retrocesso econômico e social, e o fracasso no combate à evasão fiscal.

Ameaças e provocações

O governo solicitou aos sindicatos nesta terça-feira (14) o cancelamento da greve geral programada para o próximo dia 17 de novembro, sexta-feira, convocada em protesto contra medidas propostas no projeto de Lei Orçamentária para 2024. O apelo foi formalizado em uma carta enviada pelo Ministério de Infraestruturas e Transportes da Itália, sob o comando do vice-premiê e ministro Matteo Salvini.

Salvini, que é ministro dos Transportes, criticou a greve planejada, ameaçando tomar medidas para limitá-la. Ele alega que milhões de italianos seriam “feitos reféns” pelos sindicatos, referindo-se ao protesto como um “capricho de aproveitar um fim de semana prolongado”. “Uma minoria de filiados a siglas radicais não pode prejudicar todo um país”, disse num tom provocativo que apenas incita ainda mais os trabalhadores.

Os principais sindicatos do país foram os destinatários do documento, que insta-os a reconsiderarem a greve, enfatizando a importância do “respeito pelas regras e bom senso”. A autoridade da greve havia sugerido o adiamento do protesto, alegando que não atendia aos requisitos para uma greve geral.

No entanto, ambos os sindicatos, CGil e Uil, apesar de excluir o setor de transportes aéreos e limitar a greve dos bombeiros a quatro horas, decidiram manter a greve, argumentando que a interpretação de que não se trata de uma greve geral é equivocada.

O líder da Cgil, Maurizio Landini, expressou descontentamento com a posição da autoridade de greve, acusando-a de ser “compatível” com as demandas do governo. Por outro lado, Pierpaolo Bombardieri, secretário da UIL, destacou que seria “desagradável” se Salvini proibisse ou limitasse ainda mais o protesto, considerando isso como uma tentativa de minar o direito à greve.

A oposição apoia a parada. “Meloni humilha os trabalhadores pisoteando seus direitos de greve”, disse Elly Schlein, do Partido Democrático (PD). “Subscrevemos completamente as razões da greve”, disse o líder do antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), Giuseppe Conte.

“Confirmamos a greve. É hora de mudar o país. Salvini deveria ter mais respeito pelos trabalhadores que, ao fazer greve, estão perdendo dinheiro para melhorar este país”, disse o secretário-geral da Cgil, Maurizio Landini.

A discussão sobre o direito à greve ganhou destaque na Itália, com a oposição ao governo Meloni sugerindo uma “francesização” do diálogo social. O governo, por sua vez, enfatizou seu compromisso com medidas orçamentárias que beneficiam os trabalhadores, destacando a expansão do orçamento direcionada para famílias de renda médio-baixa e trabalhadores empregados.

O debate sobre o direito à greve continua, com o governo indicando que fará cumprir rigorosamente as leis que regulam o serviço mínimo em setores essenciais. Os sindicatos, por sua vez, ressaltam a importância da greve como um ato de responsabilidade, mantendo as manifestações planejadas para demonstrar desacordo com o orçamento proposto para 2024.

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