Desmonte do Estado, dolarização, mordaça e porrete: a motosserra de Milei

Obcecado em tornar o país colônia estadunidense, o presidente eleito argentino pretende desnacionalizar a economia o mais rápido possível.

Javier Milei posa com o embaixador estadunidense na Argentina, Marc Stanley. Foto: Twitter/Reprodução

A eleição presidencial do fascista Javier Milei neste domingo (19) na Argentina faz emergir como esterco, com as devidas cores, formas e odores, o compromisso com a absoluta negação do Estado nacional. São propostas integrais de capitulação ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial como privatização dos setores estratégicos, mercantilização da saúde e educação; dolarização; imposição da lei da mordaça à comunicação – com o fechamento dos canais e agências públicos – e potencialização do porrete contra a consciência crítica e a todos que se interponham no caminho de entrega e submissão ao amo do Norte.

Para explicitar sua dimensão e significado, vale a saudação do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que “Milei fará a Argentina grande outra vez”, e do magnata Elon Musk, que de olho no lítio patrocinou recentemente o golpe na Bolívia: “agora, a Argentina tem a prosperidade por diante”. Convidado pelo ultraneoliberal para a posse, Jair Bolsonaro disse que “a esperança volta a brilhar na América do Sul”. Sobre a cartilha do FMI, Milei reconheceu vir emudecendo qualquer projeto de desenvolvimento soberano pois está “dialogando desde antes das eleições”.

“É triste para a América Latina e já veremos que o neoliberalismo não tem proposta para a sociedade”, se contrapôs o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, liderando a reação. “Esperamos do progressismo argentino as avaliações que permitam aos nossos povos aprender com as lições da história”, declarou o mandatário.

Milei e a lista de imundícies

Uma vez eleito, Milei aprofundou a lista de imundícies, frisando que “tudo o que possa estar em mãos do setor privado vai estar”. Para isso, aquele que até o dia anterior se autoproclamava como “libertário”, prometeu reprimir na base do cacetete tudo o que se interponha no descaminho dos seus amos.

A estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF) – equivalente à nossa Petrobrás – será uma das primeiras estatais a serem privatizadas, informou, esbravejando contra o ex-ministro da Economia de Cristina Kirchner, Axel Kicillof, atual governador da província de Buenos Aires. Segundo Milei, primeiro a YPF precisa ser recomposta, pois “desde que o senhor Kicillof decidiu nacionalizá-la, foi feita uma deterioração em termos de resultados para que ela valha menos do que quando foi expropriada”. Nada tão falso, uma vez que foi quem Kicillof e Cristina quem permitiram que 51% da empresa fosse mantida sob controle estatal.

Sérgio Massa perdeu o rumo

Infelizmente Sérgio Massa não manteve o prumo de Kicillof. Com a economia nacional em frangalhos, devido ao cumprimento do acordo do ex-presidente Maurício Macri (2015-2019) com o FMI, a fragilidade do mercado interno se acentuou e a inflação disparou, reduzindo cada vez mais o poder aquisitivo dos salários. E o voto de protesto se expandiu.

Milei, que conta com Jorge Macri – primo de Maurício – como chefe de Governo da Cidade Autônoma de Buenos Aires (CABA), antecipa que será “reprimido” como “crime” todo e qualquer protesto à cartilha privatista do FMI e do Banco Mundial – que precisará de uma maioria inexistente na Câmara e no Senado. “Se Deus quiser não, mas podem acabar causando uma situação delicada na rua. Isso geralmente acontece na capital federal. Estamos trabalhando, já conversamos sobre isso, justamente para manter a ordem nas ruas”, declarou o presidente, chamando de foras da lei a todos que se interpuserem ao seu governo, da mesma forma como fez Macri.

A Lei de Aluguéis, modificada há poucas semanas pelo Congresso para amenizar a superexploração dos inquilinos será revogada em favor da especulação imobiliária. Na maior desfaçatez, Milei disse que “a única coisa que a nova legislação fez foi causar danos”. Sem dizer para quem. E dando um passo a mais, se comprometeu a garantir que os aluguéis sejam estabelecidos “em qualquer moeda”, isto é, em dólar, euros ou qualquer outra que institucionalizem a lei da selva.

Da mesma forma como chutou e desmontou maquetes do Banco Central em programas de televisão, apontou que “o fechamento do é uma obrigação moral” e acrescentou que para isso é necessário “dolarizar” a economia. “Propomos que a moeda seja a escolhida pelos indivíduos”, destacou o marionete estadunidense.

Coroando o processo de resistência aos seus desvarios e capitulações, ao qual condenou como “Ministério da Propaganda”, se comprometeu em privatizar os meios públicos, a Rádio Nacional, a TV Pública e a agência de notícias Télam, a maior do país. A divulgação de toda e qualquer informação que saia do controle da mídia hegemônica, proclamou, é “negativa”, pois traz “mentiras e abona a campanha do medo” contra os que sucumbem à ideologia estrangeira.

________________________________________________________________________________________________________________

*A reprodução deste conteúdo é livre e gratuita, desde que citadas a fonte e a lista de entidades apoiadoras da cobertura.

A Agência ComunicaSul está cobrindo as eleições de 2023 na Argentina graças ao apoio das seguintes entidades: jornal Hora do Povo, Diálogos do Sul, Barão de Itararé, Portal Vermelho, Correio da Cidadania, Agência Saiba Mais, Agência Sindical, Viomundo, Fórum 21, Instituto Cultiva, Asociación Judicial Bonaerense, Unión de Personal Superior y Profesional de Empresas Aerocomerciales (UPSA), Sol y Sombra Bar, Federação dos Trabalhadores em Instituições Financeiras do RS (Fetrafi-RS); Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe-RS); Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos; Federação dos Comerciários de Santa Catarina; Confederação Equatoriana de Organizações Sindicais Livres (CEOSL); Sindicato dos Comerciários do Espírito Santo; Sindicato dos Hoteleiros do Amazonas; Sindicato dos Trabalhadores das Áreas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisa, e de Fundações Públicas do Rio Grande do Sul (Semapi-RS); Federação dos Empregados e Empregadas no Comércio e Serviços do Estado do Ceará (Fetrace); Federação dos Trabalhadores no Comércio e Serviços da CUT Rio Grande do Sul (Fetracs-RS); Intersindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT-PR); Associação dos Assistentes Sociais e Psicólogos do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (AASPTJ-SP), Federação dos/as Trabalhadores/as em Empresas de Crédito do Paraná (FETEC-PR), Sindicato dos Trabalhadores em Água, Resíduos e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema-SP); Sindicato dos Trabalhadores em Água, Resíduos e Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina  (Sintaema-SC), Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada no Estado do Paraná (Sintrapav-PR), Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp Sudeste-Centro), Sindicato dos Escritores no Estado de São Paulo, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal de Santa Catarina (Sintrajusc-SC); Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário do Estado de Santa Catarina (Sinjusc-SC), Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal em Pernambuco (Sintrajuf-PE), mandatos populares do vereador Werner Rempel (PCdoB/Santa Maria-RS) e da deputada federal Juliana Cardoso (PT-SP) e dezenas de contribuições individuais.

Autores