Retrospectiva: As principais notícias com repercussão mundial em 2023

Os principais fatos que marcaram o mundo em 2023. Palestina, Conflito na Ucrânia, rebelião anticolonial na África, fortalecimento dos BRICS, etc.

Manchado por sangue, o ano de 2023 ficará marcado pelo genocídio contra o povo palestino, promovido pelo regime sionista de Israel

Dez marcas principais do cenário mundial – 2023

Posse do presidente Lula.

Intentona golpista de 8 de janeiro em Brasília.

Continuidade da Operação Especial Militar da Rússia na Ucrânia, com clara percepção de que a Otan e o regime neofacista de Zelensky estão sendo derrotados.

Tanques das forças armadas ucranianas destruídos na direção de Zaporozhye / Foto: Ministério da Defesa da Rússia – TASS

Genocídio perpetrado contra o povo palestino, tendo como pretexto os acontecimentos de 7 de outubro. Em que pese a imensa tragédia humanitária, com os assassinatos massivos de civis palestinos, principalmente crianças, nunca Israel e EUA estiveram tão isolados e a questão palestina voltou à pauta. O desfecho da luta na Ucrânia e na Palestina afetará o futuro do mundo como um todo, redesenhando o mapa político na Eurásia e no Oriente Médio.

Rebeliões de caráter anticolonial na África ocidental (em Mali, Burkina Faso e Níger).

Protesto no Níger contra a presença do exército francês, chamado de “criminoso” no cartaz do manifestante

Fortalecimento do BRICS. – A 15ª Cúpula do BRICS decide pela expansão do grupo, convidando “a República Argentina, a República Árabe do Egito, a República Federal Democrática da Etiópia, a República Islâmica do Irã, o Reino da Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos a tornarem-se membros de pleno direito do BRICS a partir de 1º de janeiro de 2024”, segundo consta da declaração final. A 15ª Cúpula foi um marco que fortaleceu o BRICs. Na última semana de 2023, o novo presidente argentino, Javier Milei, comunicou oficialmente que o país desistiu do processo de adesão ao bloco, não obstante, dezenas de países aguardam o sinal verde para a adesão.

Apesar da guerra de propaganda que falava em estagnação chinesa, a recuperação econômica da China pós-pandemia é um fato. Além disso, a China está vencendo uma batalha estratégica, ao superar o cerco tecnológico. Estes e outros fatores obrigaram os EUA a uma certa flexão no embate com o país asiático, expressa na reunião entre Biden e Xi Jinping em Washington, em novembro.

Dificuldades econômicas na Zona do Euro. Dados de dezembro revelam que agrava-se o risco de recessão técnica. Os indicadores de atividade na indústria e nos serviços na zona do euro continuaram, durante o mês de dezembro, a apontar para uma contração, tornando ainda mais provável a entrada da economia em recessão técnica na segunda metade do ano. A Alemanha, principal economia da zona do euro, que em maio entrou em recessão técnica, igualmente deve terminar o ano com uma contração de 0,4% do PIB, de acordo como projeções de outubro de 2023 do Ministério da Economia. Na Alemanha, fica clara uma divisão entre as classes dominantes, em que setores da grande indústria não querem se submeter à pressão dos EUA no sentido de provocar uma clivagem entre a Alemanha e a Rússia, especialmente no que tange ao problema energético.

A vitória, em maio, da extrema-direita chilena na eleição para o Conselho Constitucional e agora o triunfo de Javier Milei na Argentina, mostram o vigor da extrema-direita na região. Particularmente, a eleição de Milei representa um sério revés para o projeto de integração latino-americana. Porém, o texto preparado pela direita para a nova constituição chilena foi rechaçado pelos eleitores. Na Argentina, o pacotaço de Javier Milei provocou fortes protestos. Com poucos dias de governo, pesquisas apontam que a popularidade do novo presidente já sofre abalos importantes. 

A situação em Cuba foi, durante todo o ano, marcada pelo agravamento das condições materiais, por conta do bloqueio que não arrefece, com drásticas consequências, com alguns fazendo comparações entre o atual período e o chamado período especial vivido pelo país caribenho após o fim da URSS em 1991. Embora o povo cubano resista em defesa do socialismo, com a liderança do Partido Comunista, a situação é grave e exige que se intensifiquem ações de solidariedade a Cuba.

Outros acontecimentos de destaque no cenário internacional em 2023

ÁFRICA

– Em abril estoura a guerra civil no Sudão que continua até o momento e já fez milhares de vítimas.

Área destruída pelo conflito em Cartum, no Sudão / Foto: AFP

AMÉRICA LATINA E CARIBE

– Forte repressão, no início do ano, aos protestos no Peru contra o governo Dina Boluarte, que desmascarou-se como um fantoche da extrema-direita peruana.

– Brasil volta à CELAC.

– O novo Chanceler brasileiro, Mauro Vieira, ao tomar posse, declara que a “ideologia” da política externa brasileira seria a ideologia da integração latino-americana.

– Normalizada as relações diplomáticas do Brasil com a Venezuela inclusive com a visita de Celso Amorim a Caracas.

– Normalizada as relações diplomáticas do Brasil com Cuba.

– Brasil recusa-se a assinar resoluções atacando a Nicarágua.

– Conduzidas pelo presidente Gustavo Petro, avançam as negociações de paz entre governo, a ELN e outros grupos guerrilheiros na Colômbia.

– Miguel Díaz-Canel é reeleito presidente da República de Cuba em abril.

– O conservador Santiago Peña, do Partido Colorado, foi eleito presidente do Paraguai no dia 30 de abril. Com a vitória do seu candidato, o Partido Colorado completará 75 anos de poder nos últimos 80 anos (só ficou fora entre 2008 e 2013).

– Cúpula realizada em Brasília, no dia 30 de maio, com líderes dos 12 países da América do Sul, mostra Brasil recuperando prestígio internacional e impulsiona a integração latino-americana.

– Colômbia, no início de junho, anuncia retorno à Unasul.

– Bernardo Arévalo, candidato de centro-esquerda, vence a eleição presidencial na Guatemala em agosto. A direita, instrumentalizando o Ministério Público e a Justiça, tenta impedir a posse do novo presidente, marcada para 14 de janeiro.

– Depois de Guillermo Lasso acionar a “morte cruzada” e antecipar as eleições equatorianas, é eleito o direitista Daniel Noboa, que derrotou, em outubro, a candidata da Revolução Cidadã, Luisa González, por 52,3% dos votos, ante 47,7%. O mandato tampão de Naboa vai até maio de 2025. Durante a campanha, no dia 9 de agosto, é assassinado o candidato Fernando Villavicencio. A morte de Villavicencio, candidato do campo conservador, teria favorecido a direita na disputa, segundo alguns analistas.

– Morre, no dia 29 de agosto, aos 80 anos, Guillermo Teillier del Valle, presidente do PC do Chile.

– Nayib Bukele, presidente de El Salvador, governa o país há quase dois anos (desde fevereiro de 2022) sob estado de exceção. No dia 1º de dezembro afastou-se da presidência para dedicar-se a sua reeleição, embora a Constituição salvadorenha vete explicitamente a recondução. Bukele promove feroz perseguição contra a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional e é franco favorito para a eleição presidencial de fevereiro.

– A tensão na região de Essequibo entre a Venezuela e a Guiana, muito rica em petróleo, aumenta com o resultado do referendo promovido pelo governo venezuelano, no qual 95% dos eleitores apoiaram a reivindicação territorial. No entanto, recentes negociações parecem ter diminuído os temores de um conflito. Mesmo assim, em clara provocação, o Reino Unido deslocou um navio de guerra para a região.

Presidente Lula se reúne com presidentes de países da América do Sul / Foto: Ricardo Stuckert

ÁSIA

– Xi Jinping é reeleito, em março, para um terceiro mandato de 5 anos como presidente da República Popular da China e presidente da Comissão Militar Central.

EUA

– Aprofunda-se a divisão da sociedade estadunidense. Trump é indiciado em 91 acusações criminais e considerado inelegível pela Suprema Corte do estado do Colorado e pela secretária de Estado do Maine, sem que isso, até agora, afete decisivamente o resultado das pesquisas eleitorais que apontam um favoritismo do ex-presidente contra Biden em 2024.

EURÁSIA

– Motim do Grupo Wagner, liderado por Yevgeny Prigozhin no dia 23 de junho, ameaça Putin. O Motim tem curta duração. Cerca de dois meses depois, Prigozhin morre em acidente aéreo.

– Em setembro, o Azerbaijão ocupou o território da autoproclamada República de Nagorno-Karabakh (também conhecida como República de Artsakh), de maioria armênia, que se rendeu e deixará de existir a partir de 1º de janeiro. Maior parte da população armênia fugiu.

Yevgeny Prigozhin, chefe de uma rebelião militar peculiar

EUROPA

– Massivos protestos na França contra a reforma da previdência de Macron desencadeia forte repressão policial.

– Charles III é coroado Rei da Inglaterra em maio, depois da morte da rainha Elizabeth.

– Tribunal Constitucional da Espanha promulga, em maio, o direito ao aborto, 13 anos depois da lei ter sido aprovada.

Foto: © REUTERS / PHILIPPE WOJAZER

GEOPOLÍTICA

– Lula veta o envio de munição para a Ucrânia e defende o cessar-fogo e negociações sem pré-condições, fazendo ainda uma corajosa denúncia de que alguns países desejam a continuidade do conflito.

– Irã e Arábia Saudita retomam relações diplomáticas em acordo mediado pela China e assinado em Pequim, em março.

– Honduras estabelece relações com a China em março. No continente americano, apenas Haiti e Paraguai reconhecem Taiwan.

– Lula visita a China e reforça os laços entre os dois países. Luciana Santos, presidenta do PCdoB e Ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, fez parte da delegação.

– A Finlândia torna-se o 31º membro da Otan em abril. A Suécia, que também pediu membresia, enfrenta a oposição da Turquia que exige contrapartidas para aprovar a adesão.

– Os ministros das Relações Exteriores da Rússia, Irã, Turquia e Síria concordaram em criar um roteiro para a normalização das relações entre Ancara e Damasco, proposta formulada pelo chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, em maio. O processo ainda está em andamento pois a Turquia recusa-se a sair do território sírio a pretexto de “combate ao terrorismo” e a Síria considera que só pode normalizar relações quando as tropas turcas desocuparem seu território.

– No dia 5 de maio a OMS declarou oficialmente o fim da emergência da pandemia de Covid-19 após mais de três anos e quase 7 milhões de mortes.

– Por decisão unânime, a Síria foi readmitida, em maio, na Liga Árabe. Os EUA protestaram energicamente.

– Forças russas conquistam, no dia 20 de maio, Bakhmut, que os russos chamam de Artyomovstk, cidade na qual os ucranianos tiveram perdas imensas.

– O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, conquistou a reeleição, no dia 28 de maio, ao vencer o segundo turno contra Kemal Kilicdaroglu, por 52,2% dos votos contra 47,8%. Kemal contou com apoio de Washington, segundo declarou o próprio Erdogan.

– No dia 4 de junho tem início a contraofensiva ucraniana, derrotada pelas forças russas.

– Cúpula da OTAN na Lituânia frusta Ucrânia ao não garantir adesão do país à organização imperialista.

– Organização para a Cooperação de Xangai é fortalecida pela adesão do Irã e pelo pedido formal de ingresso de outros países, como a Bielorrússia.

– Conselho de Segurança da ONU reúne-se para debater, pela primeira vez, a Inteligência Artificial que, segundo advertência chinesa, pode se transformar em um “cavalo descontrolado”.

– Relações China-Rússia ficam fortalecidas com a visita de Putin à Pequim em outubro.

– Governo Lula assume firme posição diante do genocídio palestino, exigindo o cessar-fogo permanente e denunciando Israel pelos crimes e por buscar inviabilizar a solução dos dois Estados.

– No dia 27 de outubro a ONU aprova uma resolução exigindo uma “trégua duradoura” na Faixa de Gaza e o início negociações. A resolução, aprovada pela ampla maioria das nações (120 votos a favor, 14 contra, e 45 abstenções) foi ignorada por Israel.

– As gigantescas manifestações no mundo árabe, na Europa e nos EUA, contra o genocídio promovido por Israel, levam os EUA e o regime sionista a um grau inédito de isolamento.

– Brasil assume presidência do G20 no dia 10 de dezembro, com mandato até 30 de novembro de 2024.

– Xi Jinping visita Hanói, onde chegou em 12 de dezembro, e relações China-Vietnã ganham o status de “relações estratégicas”.

Soldados russos comemoram queda de Bakhmut

ORIENTE MÉDIO

– Israel ataca, no início de março, o aeroporto de Aleppo (Síria) sabotando a entrega de ajuda humanitária – O aeroporto é o principal ponto de chegada de ajuda humanitária para a região, principalmente após os terremotos que aconteceram em fevereiro, causando mais de 50.000 mortes na Turquia e na Síria.

– Começam negociações de paz entre Iêmen e Arábia Saudita, no momento ainda em andamento.

– No dia 6 de abril, Israel invade a Mesquita de Al-qsa e bombardeia a faixa de Gaza

– Em abril, o Ministro da Educação de Israel, Yoav Kisch, postou um tweet que dizia: “Uma nação! Uma bandeira! Um país!”, parafraseando um lema nazista “Ein Volk, Ein Reich, Ein Führer”, que traduzido significa: “Um povo, uma nação, um líder”.

– Síria e Arábia Saudita anunciam, em abril, a retomada dos serviços consulares e voos entre os dois países depois de sete anos sem contatos oficiais.

– No dia 9 de maio, novo ataque de Israel a Gaza. 13 palestinos são mortos, quatro crianças.

– Israel é abalado por expressivos protestos contra a reforma judicial promovida por Benjamin Netanyahu.

– Nos dias 19 e 20 de junho, Israel atacou Jenin, deixando pelo menos uma centena de feridos e seis mortos.

– Nesta mesma data (19/06) terroristas israelenses promoveram um “pogrom” contra a cidade palestina de Turmus Ayya. Centenas de colonos israelenses armados e mascarados mataram um palestino, destruíram ou danificaram 35 imóveis e 50 veículos. Segundo o prefeito de Turmus Ayya, Lafi Adeeb, eram entre 200 e 300 os atacantes, embora a agência AP mencione 400.

Palestinos contra soldados da ocupação em Jenin, na Cisjordânia, segunda-feira 19 de junho de 2023 / Foto Wafa

Eu odeio os esquecidos / Que não provam deste vinho / Sanguíneo das multidões. / É deles que nasce a guerra / E são a fonte da morte / Eu sou a fonte da vida: Força, amor, trabalho, paz. / E se a força esmorecer / E se o amor se dispersar / E se o trabalho parar / E a paz for gozo de poucos / EU SOU AQUELE QUE DISSE: Eu sou a fonte da vida / Não conta o segredo aos grandes / E sempre renascerás. / FORÇA!… AMOR!… TRABALHO!..

Trecho de “Café”, de Mário de Andrade, publicado postumamente em 1955.

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