Região Metropolitana do Rio registra recorde de crianças baleadas em 2023

Instituto Fogo Cruzado mostra aumento de 213% em um ano e evidencia a urgência no combate à violência armada

Mortes de crianças por arma de fogo estão associadas a operações policiais ou bala perdida | Foto: Carl de Souza/reprodução

A Região Metropolitana do Rio de Janeiro enfrentou um aumento significativo no número de crianças baleadas durante tiroteios em 2023, segundo dados divulgados pelo Instituto Fogo Cruzado nesta segunda-feira (29).

Ao menos 25 crianças foram atingidas por disparos de arma de fogo, igualando a marca registrada em 2018, durante a Intervenção Federal, porém com uma taxa de letalidade ainda mais alta. Em 2023, das 25 crianças baleadas, 10 morreram, enquanto em 2018 foram registrados quatro óbitos entre as mesmas 25 vítimas.

Como se não bastasse, o ano de 2023 apresentou um aumento drástico de 213% no número de crianças baleadas em relação a 2022, quando foram registradas oito vítimas. Entre as 25 crianças atingidas no ano passado, oito foram baleadas durante ações e operações policiais, resultando em três mortes e cinco feridos. Além disso, 16 crianças foram vítimas de balas perdidas, com seis mortes e 10 feridos.

O número de crianças baleadas durante as comemorações de Réveillon também chama atenção. Desde 2018, foram registrados quatro situações em viradas de ano, com duas crianças perdendo a vida. Os casos ocorreram em Vigário Geral em 2018, no Rio Comprido em 2021, em Mesquita em 2023 e em São João de Meriti no início deste ano.

Crianças baleadas no Grande Rio nos últimos sete anos, segundo o relatório:

  • 2023: 25 vítimas – 10 mortas e 15 feridas
  • 2022: 8 vítimas – 2 mortas e 6 feridas
  • 2021: 17 vítimas – 4 mortas e 13 feridas
  • 2020: 22 vítimas – 8 mortas e 14 feridas
  • 2019: 23 vítimas – 6 mortas e 17 feridas
  • 2018: 25 vítimas – 4 mortas e 21 feridas
  • 2017: 19 vítimas – 7 mortas e 12 feridas

Futuro exterminado

Com o objetivo de chamar a atenção para a violência armada no cenário urbano do Grande Rio, que atinge muitas crianças e adolescentes, o Instituto Fogo Cruzado criou a plataforma Futuro Exterminado. No mapa interativo é possível consultar informações individuais sobre cada uma das vítimas, os locais e a circunstância dos crimes.

Dados atualizados mostram que, desde 2016, 632 pessoas entre 0 e 17 anos foram baleadas na região. Isso quer dizer que, em média, a cada quatro dias uma criança ou adolescente é baleado. Desse total, 283 perderam a vida e 349 ficaram feridos.

Além disso, um em cada três dos jovens atingidos foi vítima de bala perdida – 201 no total. As situações incluem crianças e adolescentes a caminho da escola ou da padaria, brincando no quintal ou correndo com amigos. Como a Ághata, morta no Complexo do Alemão em 2019.

Quase metade do total de vítimas eram crianças ou adolescentes atingidos durante operações policiais (286 pessoas, equivalente a 47,6%). Uma em cada quatro ocorrências ocorreu na Zona Norte da capital, com o Complexo do Alemão liderando em número de casos mapeados: 11 mortes e 6 feridos.

Instituto Fogo Cruzado

O Instituto Fogo Cruzado utiliza tecnologia para coletar e divulgar dados abertos sobre violência armada, visando fortalecer a democracia e preservar vidas. Com uma metodologia própria e inovadora, o Instituto produz mais de 30 indicadores sobre violência nas regiões metropolitanas do Rio, Recife e Salvador. Através de um aplicativo de celular, o Fogo Cruzado recebe e disponibiliza informações sobre tiroteios, checadas em tempo real, formando o maior banco de dados aberto sobre violência armada da América Latina.

Veja a íntegra do relatório aqui.

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