PF tem indícios de que Bolsonaro recebia informações da “Abin Paralela”

O UOL revela que os dossiês ilícitos eram impressos e entregues a Bolsonaro pelo ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem, atual deputado federal do PL pelo Rio de Janeiro

Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

O cerco está se fechando contra Bolsonaro. Reportagem do UOL desta sexta-feira (2) revela que a Polícia Federal (PF) já tem indícios de que Bolsonaro recebia, no Palácio do Planalto, dossiês e documentos ilegais fabricados pelo esquema de espionagem montado na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante seu governo.

De acordo com a matéria, os documentos ilícitos eram impressos e entregues a Bolsonaro pelo ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem, atual deputado federal do PL pelo Rio de Janeiro.

As diligências da chamada “Abin Paralela” complicam a situação do ex-presidente que já é investigado como mentor intelectual dos atos golpista do 8 de janeiro, que resultaram na invasão e depredação dos prédios da Praça dos Três Poderes.

Os fatos são graves. Tudo indica que Bolsonaro usou o aparato da Abin para atender a interesses pessoais, políticos e para perseguir adversários.

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Na prática, o ex-presidente usou um órgão de Estado para montar uma estrutura igual ao extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) da época da ditadura.

A apreensão de celulares, computadores e documentos nas operações da PF de busca e apreensão contra Ramagem e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) podem trazer novos elementos para as investigações que já foram encaminhadas à Procuradoria-Geral da República (PGR) e ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Na próxima semana, a PF deve ouvir o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), para saber se ele deu aval para o esquema de arapongagem montado por Ramagem sob as ordens de Bolsonaro.

Para aliados, Heleno tem dito que o ex-diretor da Abin despachava diretamente com o ex-presidente. Contudo, a PF também já possui indícios de que Heleno tinha conhecimento de todo o esquema.

Repercussão

“O cerco vai se fechando e a situação de Bolsonaro se complica cada vez mais. Se a teoria do domínio do fato ainda estivesse na moda, já estaria preso. Pode levar um pouco mais de tempo, mas o caminho dele está traçado”, prevê o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP).

O deputado Carlos Zarattini diz que esse crime nunca foi escondido. “Em 2020, por exemplo, Gustavo Bebianno, que foi ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, denunciou em entrevista que o vereador Carlos Bolsonaro teria expressado a intenção de montar uma Abin paralela”, lembra.

“A investigação vai mostrando que os fascistas agiam como uma quadrilha disposta a permanecer no poder a qualquer custo. Cadeia Neles!”, defende o deputado Ivan Valente (PSOL-SP).

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