Ministério da Saúde implanta ações integradas para prevenir avanço da dengue

As ações do governo envolvem campanhas de comunicação, monitoramento, treinamento, imunização, investimento em vacina nacional, controle epidêmico, testagem, entre outras.

Centro de Operações de Emergência contra a dengue e outras arboviroses reunido. Foto: Walterson Rosa/MS

O aumento significativo nos casos de dengue no Brasil chama atenção para a urgência da vacinação. Dados recentes do Ministério da Saúde indicam um aumento de 273% nos casos nas quatro primeiras semanas de 2024, tornando a vacinação uma medida crucial na contenção dessa epidemia.

Recentemente, o Ministério da Saúde anunciou a inclusão da vacina Qdenga no calendário do Sistema Único de Saúde (SUS). O Brasil é o primeiro país do mundo a oferecer o imunizante no sistema público universal. A campanha, que tem previsão de começar este mês, inicialmente priorizará jovens de 10 a 14 anos em municípios com mais de 100 mil habitantes e alta transmissão de dengue.

A vacina Qdenga, desenvolvida pela farmacêutica japonesa Takeda, aportou no Brasil em julho do ano passado, trazendo esperança na prevenção da doença. Este imunizante inovador é destinado a todas as faixas etárias, de 4 a 60 anos, abrangendo tanto aqueles que nunca foram infectados quanto aqueles que já enfrentaram a dengue.

Butantan e Fiocruz

Devido à falta de estudos na faixa etária acima de 60 anos, eles não serão incluídos na campanha, mas a expectativa é que, futuramente, outras vacinas, como a do Instituto Butantan e da Fiocruz, também sejam incorporadas.

O Ministério da Saúde adquiriu toda a produção disponível do fabricante Takeda para 2024: 5,2 milhões de doses. De acordo com a empresa, a previsão é que sejam entregues ao longo do ano, até dezembro. Para 2025, a pasta já contratou outras 9 milhões de doses. 

A ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, reuniu-se neste sábado (3) com Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan, vinculado à Secretaria de Saúde do Governo do Estado de São Paulo, e Mario Moreira, presidente da Fiocruz, instituto de ciência e tecnologia do Ministério da Saúde, para viabilizar parceria estratégica visando aumentar a produção de vacinas de dengue no Brasil.

O objetivo do Ministério da Saúde é unir e coordenar esforços para ampliar o acesso de toda população às vacinas Qdenga, produzida pelo laboratório japonês Takeda, e Butantan-DV, que está em desenvolvimento pelo Instituto Butantan. As duas instituições manifestaram interesse em atuar em conjunto para acelerar a produção de vacinas no Brasil.

Na outra frente, o Ministério da Saúde garantiu o apoio à aprovação final do imunizante em desenvolvimento pelo Instituto Butantan, com o objetivo de torná-lo acessível à população brasileira o quanto antes. A candidata à vacina de dengue em desenvolvimento pelo Instituto Butantan (Butantan DV) mostrou eficácia de 79,6% em dose única, conforme resultados recém-publicados do ensaio clínico de fase 3.

O Ministério da Saúde também vai apoiar o Instituto Butantan nos próximos passos para a aprovação da vacina para chicungunya – uma inovação global para a prevenção desta doença, que deverá estar disponível no próximo ano.

A parceria entre o Ministério da Saúde, o Instituto Butantan e a Fiocruz se insere na estratégia brasileira para o fortalecimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, visando ampliar a produção nacional e a inovação para garantir o direito à vida.

Ações de governo

Nesta semana, a ministra visitou uma tenda de atendimento para casos suspeitos de dengue em Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal a 31km de Brasília. Na ocasião, Nísia reforçou que o combate à dengue está concentrado no controle dos focos do mosquito transmissor e que SUS tem condição de cuidar das pessoas, evitar o agravamento e as mortes por dengue. 

Com o início do período das chuvas e das altas temperaturas, e diante do alerta emitido pela OMS sobre o aumento das arboviroses em razão das mudanças climáticas ocasionadas pelo El Niño, o Ministério da Saúde coordenou uma série de atividades preparatórias para a sazonalidade de 2024. 

Em novembro, como parte das ações de comunicação regionalizada, o Ministério da Saúde lançou novas campanhas de mobilização social, voltadas à realidade de cada região do país e peculiaridades desse cenário epidemiológico. Em dezembro, foi instalada a Sala Nacional de Arboviroses, um espaço permanente de monitoramento em tempo real dos locais com maior incidência das doenças. Com a medida, é possível direcionar as ações de vigilância de forma estratégica nas regiões mais afetadas. 

Para apoiar estados e municípios nas medidas de prevenção e controle, o Ministério repassou R$ 256 milhões para todo o país, em uma ação de reforço do enfrentamento da doença. Ainda em 2023, o Ministério da Saúde qualificou cerca de 12 mil profissionais de saúde, entre médicos e enfermeiros, para atuarem como multiplicadores para manejo clínico, vigilância e controle da doença. 

A pasta também normalizou os estoques de inseticidas, abastecendo todos os estados, que estavam em situação crítica desde o início de 2023. O reabastecimento também foi possível para os testes diagnósticos de controle da dengue

Prevenção

Nessa primeira fase, foram selecionados 521 municípios do país escolhidos em razão da alta incidência da doença. A organização das campanhas, incluindo datas, horários e pontos de vacinação, portanto, ficará a cargo dos governos estaduais e municipais. Será preciso conferir o cronograma com as prefeituras e as secretarias estaduais e municipais de saúde.

Devido à baixa capacidade de produção das doses, o governo brasileiro estabeleceu critérios para selecionar os municípios que terão prioridade no recebimento da vacina. Eles são: cidades de grande porte, com mais de 100 mil habitantes, e alta taxa de transmissão de dengue do tipo 2; municípios próximos a esses, pertencentes às mesmas “regiões de saúde”.

Na primeira etapa do programa de imunização, o governo adquiriu 1,4 milhão de doses da vacina da Takeda para atender crianças de 10 a 14 anos, público mais atingido neste momento pela doença. Como cada paciente precisa de duas doses, serão 700 mil beneficiados nesse início de vacinação.

A ministra da Saúde destacou que a vacina é um instrumento importante na luta contra a dengue, mas que ela não terá um efeito imediato. Por isso, ressaltou, a eliminação de água parada dentro das casas, que são focos de proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus da dengue, é fundamental para a prevenção da doença.

“Neste momento, ela [a vacina] não oferece uma resposta para a situação atual porque ela é aplicada com o intervalo de três meses, já que é uma vacina de duas doses. Ela é muito importante, mas será uma estratégia progressiva para ter um impacto que a gente espera de controlar a dengue e, no futuro, não ter mais a dengue como um problema tão importante de saúde pública”, explicou.

Nísia Trindade disse que o governo federal está trabalhando em um plano para ampliar os locais de soltura de mosquitos Aedes aegypti infectados com a bactéria Wolbachia. A bactéria impede que os vírus causadores de doenças como dengue, zika e chikungunya se desenvolvam dentro do mosquito.

A ministra esteve no Rio de Janeiro para inaugurar o primeiro dos dez polos de atendimento para pacientes com suspeita de dengue que serão abertos até o fim desta semana na cidade.

Nos polos, os pacientes poderão fazer testes rápidos de detecção da dengue e receberão um primeiro atendimento, que inclui a hidratação com soro. Caso haja necessidade, os pacientes serão encaminhados para internação em unidades hospitalares. A cidade entrou nesta segunda-feira em situação de emergência devido ao aumento de casos da doença.

Indicações e eficácia

A vacina Qdenga recebeu aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março do ano passado, destinando-se a pessoas de 4 a 60 anos. De acordo com estudos clínicos, as duas doses demonstraram eficácia geral de 80,2% na prevenção de contaminações e 90,4% na prevenção de casos graves.

A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) recomenda a proteção para todos dentro do grupo etário indicado, independentemente de já terem tido dengue anteriormente. Rosana Richtmann, diretora do Comitê de Imunizações da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), destaca a importância de considerar não apenas a idade, mas também a região de residência e histórico de dengue do indivíduo.

Quem pode se vacinar?

A vacinação é indicada para pessoas entre 4 e 60 anos. Embora, na Europa, a vacina tenha sido aprovada a partir dos 4 anos sem limite máximo de idade, no Brasil, a Anvisa delimitou até os 60 anos. Médicos têm recomendado off-label para idosos, mas alguns especialistas preferem seguir estritamente as diretrizes da Anvisa.

Para aqueles que já tiveram dengue, a vacina é ainda mais benéfica, reduzindo os riscos de complicações em uma segunda infecção, considerando os diferentes sorotipos do vírus.

Preços e onde encontrar

Após sete meses no mercado privado brasileiro, as doses da vacina podem ser adquiridas por valores que variam entre R$ 350 e R$ 490. Considerando o esquema de duas aplicações, com um intervalo de três meses, o custo final da imunização oscila entre R$ 700 e R$ 980.

Embora a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) estipule um Preço Máximo ao Consumidor (PMC) entre R$ 346,66 e R$ 390,90, a Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC) justifica o custo adicional, que inclui serviços como triagem, orientações pré e pós-vacina, além de suporte ao paciente.

É preciso ficar atento, já que há dois imunizantes distintos no mercado: a Qdenga e a Dengvaxia, do laboratório francês Sanofi. A Dengvaxia não foi incorporada ao SUS e é contraindicada para indivíduos que nunca tiveram contato com o vírus da dengue em razão de maior risco de desenvolver quadros graves da doença. Ela é indicada para a faixa etária de 6 a 45 anos.

A vacina Qdenga está disponível em laboratórios, clínicas de vacinação e farmácias, com preços variados em diferentes redes, como Droga Raia, Drogasil, Pacheco, São Paulo, Fleury, Richet Medicina e Labi.

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