Presidente russo nega interesse em invadir países vizinhos, em rara entrevista aos EUA

Putin afirmou que a Rússia desenvolveu armamentos avançados que a tornam invencível, destacando que os líderes ocidentais perceberam que “não podem infligir uma derrota estratégica à Rússia”.

Durante uma entrevista transmitida nesta quinta-feira (8), o presidente russo Vladimir Putin afirmou categoricamente que a Rússia não tem interesse em invadir países como a Polônia ou a Letônia, desmentindo especulações e teorias que sugerem o contrário.

Os comentários de Putin surgiram durante uma rara entrevista de duas horas concedida ao apresentador de televisão norte-americano Tucker Carlson, que foi gravada em Moscou na terça-feira (6) e transmitida no tuckercarlson.com. Questionado sobre a possibilidade de enviar tropas russas para a Polônia, membro da OTAN, Putin respondeu enfaticamente que tal ação só seria considerada em caso de um ataque da Polônia à Rússia, enfatizando que a Rússia não tem interesse em iniciar conflitos com seus vizinhos.

“Apenas em um caso: se a Polônia atacar a Rússia. Por que? Porque não temos interesse na Polônia, na Letônia ou em qualquer outro lugar. Por que faríamos isso? Simplesmente não temos qualquer interesse”, declarou Putin, durante a entrevista.

A entrevista, realizada em Moscou, foi dublada para o inglês, e Putin iniciou abordando as relações da Rússia com a Ucrânia, Polônia e outros países. O Kremlin afirmou que Putin concordou em conceder a entrevista a Carlson devido à abordagem diferenciada do apresentador em relação ao conflito na Ucrânia, que contrasta com a cobertura “unilateral” de muitos meios de comunicação ocidentais.

Tucker Carlson é conhecido por suas conexões próximas com o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, e sua entrevista com Putin ocorre em um momento de tensões geopolíticas e incertezas. Trump apelou pela desescalada do conflito na Ucrânia, enquanto a administração Biden tem apoiado fortemente o governo do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy.

Carlson também destacou durante a entrevista que grande parte da cobertura midiática ocidental sobre a guerra na Ucrânia tende a favorecer Kiev, evidenciando a polarização na interpretação dos eventos por parte da imprensa internacional.

Derrota impossível

Durante a entrevista, o presidente russo, Vladimir Putin, fez uma série de afirmações marcantes, incluindo a declaração de que é “impossível” derrotar a Rússia. Foi a primeira vez que Putin concedeu uma entrevista à imprensa ocidental desde 2019.

“Até agora, tem havido alvoroço e gritaria sobre infligir uma derrota estratégica à Rússia no campo de batalha”, disse o presidente russo ao comentador e analista político conservador. “Mas agora, aparentemente, estão começando a se dar conta de que isso é difícil de alcançar, se é que é possível de alguma forma. Na minha opinião, é impossível por definição.”

Falando em russo e com dublagem em inglês, Putin abordou diversos assuntos, incluindo a guerra na Ucrânia, as relações com os Estados Unidos e questões geopolíticas mais amplas.

O presidente russo destacou que a Ucrânia começou o conflito em 2014, após a deposição do então presidente Viktor Yanukovich, e acusou o país de não cumprir acordos anteriores para encerrar as hostilidades. Ele também sugeriu que a Rússia estava disposta a chegar a um acordo para encerrar o conflito, mas que a Ucrânia recuou quando as tropas russas se retiraram das proximidades de Kiev.

Além disso, Putin abordou a questão da expansão da guerra para países vizinhos, como Polônia e Letônia, negando qualquer intenção de invadir esses países, a menos que fossem atacados primeiro.

A entrevista também abordou questões como a libertação do jornalista Evan Gershkovich, do Wall Street Journal, que está preso na Rússia há quase um ano. Putin indicou que seria possível alcançar um acordo para sua libertação, mas ressaltou a necessidade de negociações.

O Wall Street Journal divulgou um comunicado afirmando que Gershkovich é um jornalista e que o jornal continua a exigir sua libertação imediata.

A Casa Branca minimizou o impacto da entrevista, alertando os telespectadores para considerarem a fonte, dada a natureza do entrevistado.

As declarações mais marcantes

Confira abaixo algumas das declarações mais notáveis de Putin durante a entrevista concedida a Tucker Carlson:

Invadir a Polônia, a Lituânia ou outro país da Otan ‘está absolutamente fora de questão’

Essa afirmação veio em meio a preocupações crescentes entre países bálticos e outros países europeus de que a Rússia pudesse invadi-los após a ação militar na Ucrânia.

Se os EUA querem que a guerra acabe, ‘têm de parar de fornecer armas [à Ucrânia]. O conflito acabaria em poucas semanas’

Putin sugeriu que o fim do conflito na Ucrânia depende dos Estados Unidos, argumentando que, se eles interromperem o fornecimento de armas para Kiev, a guerra poderia acabar rapidamente. Essa afirmação ocorre em um momento em que o Senado dos EUA aprovou um projeto de lei para expandir a ajuda militar à Ucrânia, enfrentando forte oposição na Câmara dos Representantes.

‘Eles não podem infligir uma derrota estratégica à Rússia’

Putin afirmou que a Rússia desenvolveu armamentos avançados que a tornam invencível, destacando que os líderes ocidentais perceberam que “não podem infligir uma derrota estratégica à Rússia”.

‘A Ucrânia é um Estado artificial que foi formado pela vontade de Stalin’

Putin argumentou que a Ucrânia é uma nação artificial criada por Josef Stalin, líder da antiga União Soviética. Ele afirmou que a ideia de uma Ucrânia independente surgiu da mente de Vladimir Lênin e foi implementada como parte de um programa de “indigenização” imposto pela URSS.

‘É possível chegar a um acordo’ para a libertação do jornalista americano preso na Rússia

Putin indicou que um acordo poderia ser alcançado para a libertação de Evan Gershkovich, jornalista do Wall Street Journal preso na Rússia sob acusação de espionagem. Ele sugeriu que a liberdade de Gershkovich poderia ser parte de uma troca de prisioneiros entre os dois países.

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