Palanque golpista testa fidelidade de governador e prefeito a Bolsonaro

Tarcísio e Nunes mantém a expectativa em torno da participação no ato do próximo domingo, em defesa de Bolsonaro. Temem ouvir o coro de “traíras” entre os bolsonaristas se não forem

Tarcísio de Freitas, Ricardo Nunes e Jair Bolsonaro compareceram ao 53º aniversário da Rota, em São Paulo em outubro de 2023.

O ato convocado por Jair Bolsonaro (PL) para o dia 25 de fevereiro na Avenida Paulista, em São Paulo, está gerando tensões nos bastidores políticos, especialmente para o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e o prefeito paulistano, Ricardo Nunes (MDB). Ambos são cobrados pela imprensa e pelos bolsonaristas a se posicionarem publicamente, após hesitarem em apoiar o ex-presidente e confirmar presença no palanque golpista.

A convocação do ato pelo ex-presidente surge em meio a investigações que o envolvem em suspeitas de participação em uma trama golpista. Bolsonaro afirmou que o evento é uma oportunidade para se defender das acusações que tem enfrentado. Caso seja processado e condenado pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de Direito e associação criminosa, Bolsonaro poderá pegar uma pena de até 23 anos de prisão e ficar inelegível por mais de 30 anos.

No entanto, há preocupações de que o tom do ato possa ser golpista, apesar de Bolsonaro ter pedido aos apoiadores que evitem levar faixas ou cartazes ofensivos, ao contrário de outros atos que tiveram materiais pedindo o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), prisão de ministros como Alexandre de Moraes e intervenção militar, por exemplo. A ausência de Tarcísio e Nunes no evento poderia ser interpretada como uma afronta ao bolsonarismo e comprometer suas relações políticas. Eles temem serem acusados de traidores pela multidão.

A relação entre Bolsonaro e os dois políticos têm sido pauta de discussões nos últimos tempos. O governador tem sido criticado por interações amistosas com o presidente Lula e por não se manifestar em defesa de Bolsonaro após a recente operação da Polícia Federal. Já o prefeito conseguiu o apoio de Bolsonaro à sua candidatura, mas sua fidelidade ao ex-presidente tem sido questionada. Ambos foram questionados pela imprensa sobre as acusações contra Bolsonaro e evitaram falar.

Líderes bolsonaristas em São Paulo confirmaram que Tarcísio e Nunes serão cobrados a tomarem partido em favor de Bolsonaro, sob risco de perderem apoio da direita em caso de omissão. Ambos confirmaram a presença no ato, após muita pressão, mas “sem bater o martelo”. A expectativa dos bolsonaristas é lotar o palanque de políticos, com pressão sobre figurões da direita, além dos dois mencionados.

Aliados de Nunes temem associá-lo demais a Bolsonaro e seu discurso golpista, enquanto outros acreditam que esta associação já está mais que consolidada.

Um que foi às redes sociais reclamar foi o coronel da PM Ricardo de Mello Araújo, cotado para ser vice do PL na chapa de Nunes. Ele criticou a ausência de posicionamento de “governadores eleitos nas costas do presidente Bolsonaro” após a apreensão do passaporte do ex-presidente e a prisão em flagrante de Valdemar Costa Neto. Nunes teme perder o apoio do PL na disputa à reeleição.

Diante desse cenário, a pressão política sobre os dois governantes tende a aumentar, com a possibilidade de suas decisões influenciarem significativamente seus futuros políticos e suas relações com o bolsonarismo.

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