Governadores unem-se contra Milei no corte de gás e petróleo na Argentina

Nesta segunda, governadores detalham sua posição contra os cortes do fundo de coparticipação provincial, anunciados por Javier Milei

Os governadores Alberto Weretilneck (Río Negro), Rolando Figueroa (Neuquén), Gustavo Melella (Tierra del Fuego), Ignacio Torres (Chubut) e Sergio Ziliotto (La Pampa).

Os governadores da região patagônica da Argentina, incluindo Alberto Weretilneck (Río Negro), Rolando Figueroa (Neuquén), Gustavo Melella (Terra do Fuego), Ignacio Torres (Chubut) e Sergio Ziliotto (La Pampa), uniram forças em um conflito aberto com o governo nacional sobre cortes nos fundos de coparticipação. Este embate gerou apoio significativo e uma estratégia comum entre os líderes provinciais, sem distinção política: dos Juntos pela Mudança aos peronistas. Nesta segunda (26), haverá coletiva de imprensa onde mais detalhes da posição dos governadores serão fornecidos.

A situação começou quando Javier Milei, presidente do partido libertário, estava a caminho de Washington e viu nas redes sociais a reação dos governadores à advertência de Ignacio Torres, de Chubut, sobre a possibilidade de cortar o envio de gás e petróleo ao restante do país caso a província não receba os fundos exigidos do governo nacional. O conflito se estendeu rapidamente, com quase todos os governadores patagônicos, independentemente de afiliação política, expressando apoio a Torres.

Os líderes provinciais decidiram adotar uma estratégia conjunta. Caso o governo nacional não responda às demandas, eles planejam aderir à medida de Chubut de não fornecer petróleo e gás ao restante do país e buscarão aprovar uma lei no Congresso para proteger a coparticipação. Além disso, discutem a possibilidade de denunciar o ministro da Economia, Luis Caputo, pela retirada de recursos.

“Todas as províncias estão sendo submetidas a esta extorsão e ao corte de fundos. Não é, como sustenta Milei, contra os governadores, mas contra o povo das províncias”, escreveu o governador de Buenos Aires, o kirchnerista Axel Kicillof.  Já um grupo de 11 vice-governadores emitiu uma nota dizendo que Milei “põe a mão no bolso dos enfermeiros, dos policiais, dos professores, dos funcionários públicos, dos comerciantes, dos operários da construção civil, etc, para aprofundar suas políticas de empobrecimento generalizado de nossa comunidade”.

Em meio a esses desdobramentos, o governo de Chubut apresentará uma queixa formal no tribunal. Recentemente, um juiz federal emitiu uma medida para impedir o governo nacional de eliminar ou reduzir o Fundo de Compensação do Interior, destinado ao financiamento do sistema de transporte interurbano, atendendo a um pedido de Torres.

Enquanto isso, na Casa Rosada, o presidente Milei celebrou sua participação na reunião conservadora nos Estados Unidos, minimizando as críticas dos governadores. Sua equipe disse que ele apenas ria das repercussões nas redes sociais das “bobagens de Nachito”. Por outro lado, Torres enfrentou ataques do presidente, mas manteve sua posição firme, recebendo apoio de diversos setores políticos. Ele também mencionou um argumento corrente de que Milei se esmera em acumular inimigos novos a cada dia.

A disputa sobre os fundos de coparticipação também gerou tensões internas no PRO, com a presidente do partido, Patrícia Bullrich, fazendo declarações que irritaram Torres. “Não só é obsceno fazer essa ameaça, mas são afirmações que afugentam os investimentos, a criação de emprego e o progresso do nosso país”, argumentou ela. Enquanto isso, especula-se sobre a possível interferência do ex-presidente Mauricio Macri para apaziguar a situação e buscar um novo acordo com Milei, derrotado no Congresso com sua lei Omnibus.

A ampla solidariedade a Torres veio de diversas partes do espectro político, com mensagens de apoio de governadores, vice-governadores e até mesmo reitores de universidades patagônicas, destacando a importância de promover um sistema federal equitativo e instando o governo nacional a abrir um diálogo para resolver a questão.

Desgaste rápido: 15 pontos em dois meses

Em apenas dois meses desde sua posse, Milei enfrenta uma queda significativa em sua imagem positiva, com uma pesquisa recente indicando uma mudança dramática na percepção pública. De acordo com os dados do Centro de Estudos de Opinião Pública (CEOP), liderado por Roberto Bacman, agora são mais os que têm uma opinião negativa do presidente (54%) do que os que têm uma opinião positiva (46%).

A pesquisa também abordou a recente tensão entre o governo central e os governadores provinciais, com uma maioria dos entrevistados concordando que os governadores agiram corretamente ao defender os interesses de suas províncias e o federalismo. Esse desgaste na relação entre a Casa Rosada e os governadores representa um novo desafio para a administração de Milei, que enfrenta uma situação cada vez mais tensa e desafiadora.

Esses resultados contrastam com as declarações do presidente e de seus assessores, que continuam a falar de um apoio de 56%. No entanto, a pesquisa do CEOP, que entrevistou 1.329 cidadãos de todo o país, revela uma queda acentuada na imagem de Milei desde sua posse, quando sua imagem positiva era de 61%.

O líder do CEOP descreve a situação como inédita na história recente da Argentina, observando que nenhum presidente perdeu quinze pontos em sua imagem tão rapidamente após assumir o cargo. O presidente Milei, no entanto, parece ignorar ou minimizar essa realidade, concentrando-se em seu apelo às redes sociais.

A pesquisa também revela que as expectativas em relação ao governo de Milei caíram drasticamente, com a maioria das pessoas não acreditando que as condições irão melhorar em abril, como afirmou o presidente. Além disso, muitas das medidas propostas pelo governo, como a dolarização e a eliminação dos subsídios aos transportes e serviços públicos, enfrentam forte oposição da população.

Apesar do apoio persistente entre os jovens, especialmente aqueles com idades entre 16 e 25 anos, a administração de Milei enfrenta crescente descontentamento e resistência da população em relação ao ajuste econômico e às políticas propostas.

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