Americanas planeja novo enxugamento após demissões em massa e fraude bilionária

Em meio à impunidade de fraudadores da empresa, milhares de trabalhadores lutam para não serem os únicos a pagarem pelos crimes da direção.

A sede da varejista no Rio de Janeiro será a maior atingida pelas demissões em março.

No cenário econômico atual, a gigante varejista Americanas enfrenta desafios, com demissões em massa, resultados financeiros negativos e uma fraude bilionária que abalou suas estruturas. Diante desse contexto turbulento, a empresa se prepara para mais uma fase de reestruturação, com um novo enxugamento previsto para os próximos meses.

Nos últimos dias, executivos da varejista têm sido convocados para conversas com o CEO, Leonardo Coelho. O objetivo é diminuir em até metade o gasto com pessoal, num enxugamento que mira sobretudo os empregados que trabalham na sede, no Rio de Janeiro.

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Demissões em massa e prejuízos financeiros

Em 2023, a Americanas anunciou a demissão de 10.637 funcionários, encerrando o ano com um total de 32.486 colaboradores. No entanto, mesmo com essas medidas, a empresa ainda enfrenta dificuldades financeiras, com a iminência da homologação do plano de recuperação judicial, o que sinaliza novas mudanças em seu quadro de pessoal.

Os resultados financeiros divulgados pela Americanas para os nove primeiros meses do ano passado revelam uma realidade preocupante. A receita despencou 45,1%, para R$ 10,29 bilhões, e um prejuízo de R$ 4,6 bilhões. As vendas digitais foram as mais impactadas, contrastando com uma queda menos significativa nas vendas físicas.

Fraude bilionária e desconfiança no ambiente digital

Além dos problemas financeiros, a Americanas também enfrenta os desdobramentos de uma fraude bilionária que veio à tona em meados de novembro do ano passado. A divulgação dos balanços revisados de 2021 e 2022 revelou uma perda de quase R$ 20 bilhões, levando a empresa a entrar com um pedido de recuperação judicial em janeiro de 2023.

A BDO, empresa responsável pela auditoria externa das demonstrações financeiras, negou-se a opinar sobre os números apresentados pela Americanas, alegando falta de acesso a informações e incertezas sobre a continuidade operacional da companhia. Essa posição gerou insegurança no mercado, aumentando a preocupação com os rumos da empresa.

Um dos indicadores-chave, o Volume Bruto de Mercadorias (GMV), evidenciou uma queda alarmante de 77% no ambiente digital, enquanto as unidades físicas apresentaram uma redução mais moderada de 4,4%. Essa discrepância reflete a desconfiança dos clientes no ambiente digital, especialmente em relação à entrega de produtos, e o receio dos vendedores em não receber os repasses pelas vendas realizadas.

Apesar do desempenho relativamente melhor das lojas físicas, muitas foram fechadas, culminando no encerramento de 99 unidades ao longo do período analisado.

Perspectivas futuras

Diante desse cenário catastrófico, a Americanas se vê diante da necessidade de implementar mudanças significativas para garantir sua sustentabilidade e recuperação. A expectativa é de um novo enxugamento no quadro de pessoal, com foco sobretudo nos colaboradores que trabalham na sede, no Rio de Janeiro.

Analistas destacam a importância da homologação e cumprimento do plano de recuperação, bem como a necessidade de mudanças na governança corporativa para reconquistar a confiança dos investidores e do mercado. Também apontam a importância de uma governança corporativa robusta e transparente, assim como a necessidade de uma resposta eficaz para lidar com as questões levantadas pela fraude bilionária, que envolve sócios majoritários da empresa.

Em meio às incertezas e aos obstáculos, a Americanas enfrenta um período decisivo, no qual a capacidade de adaptação e transformação será fundamental para garantir sua sobrevivência e sucesso futuros. Por outro lado, os trabalhadores precisarão estar mobilizados para não serem os únicos a pagarem pelos crimes cometidos pela direção da empresa.

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