Lula se reúne com presidente da Guiana para discutir crise territorial com a Venezuela

Reuniões bilaterais servirão para o Brasil medir a febre entre os dois governos, e avaliar riscos de segurança para a fronteira, assim como argumentar por uma solução.

Brasília (DF), 29/05/2023 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no Palácio do Planalto. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está programado para se encontrar com o chefe de governo da Guiana, Irfaan Ali, na próxima quinta-feira (29), em Georgetown, capital do país vizinho, para discutir a agenda bilateral. Este encontro acontece em meio à escalada da disputa entre Venezuela e Guiana pela região de Essequibo, um território historicamente contestado pelos dois países.

A viagem de Lula tem como principal compromisso a participação no encerramento da 46ª Cúpula de Chefes de Governo da Comunidade do Caribe (Caricom), onde o Brasil foi convidado como um observador especial. No entanto, a confirmação da reunião entre o presidente brasileiro e seu homólogo guianense demonstra a preocupação mútua em relação à crise territorial.

Um dos pontos a serem discutidos durante o encontro é a crise entre Guiana e Venezuela pela região de Essequibo. A nomeação de um governador para Essequibo por parte do governo venezuelano, assim como a divulgação de um novo mapa que inclui o território em questão, têm aumentado as tensões na região.

A embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina do Ministério das Relações Exteriores (MRE), destacou que o Brasil busca uma solução negociada para o conflito e reforçou a neutralidade do país nessa questão. Ela também mencionou o diálogo em andamento entre os presidentes da Venezuela e da Guiana, ressaltando o papel do Brasil como facilitador nesse processo.

Em dezembro de 2023, Maduro e Ali assinaram uma declaração conjunta comprometendo-se a não usar a força um contra o outro na disputa por Essequibo. Desde então, o Brasil tem desempenhado um papel ativo na mediação do diálogo entre os dois países, juntamente com São Vicente e Granadinas e Dominica.

A viagem de Lula também incluirá uma reunião com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em São Vicente e Granadinas, durante a 8ª cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), no dia 1º de março. No entanto, o encontro acontece em meio a críticas ao presidente venezuelano por suas ações que colocam em risco o Acordo de Barbados, um pacto que prevê eleições transparentes na Venezuela ainda neste ano. Este encontro servirá como uma oportunidade para avaliar a postura do governo venezuelano em relação à crise e para discutir possíveis soluções para o impasse.

Recentemente, pelo menos 12 funcionários de um escritório local do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) deixaram a Venezuela após o governo determinar sua saída. Essa medida gerou preocupações adicionais sobre o compromisso do governo Maduro com os direitos humanos e a democracia.

Além disso, a situação na Venezuela foi agravada pela proibição da candidatura da líder da oposição María Corina Machado nas eleições presidenciais e pela prisão da ativista Rocío San Miguel, acusada de terrorismo pelo governo Maduro.

Além disso, Lula também se encontrará com o primeiro-ministro Ralph Gonsalves, mediador do diálogo entre Venezuela e Guiana, durante a cúpula da Celac. Essas reuniões destacam a importância do Brasil como um ator regional na busca pela estabilidade e pela paz na América Latina e no Caribe.

75% do território

No fim do ano passado, a Venezuela realizou consulta popular que aprovou a incorporação de Essequibo, região disputada pelos dois países há mais de um século, que perfaz quase 75% do território da Guiana. O governo venezuelano também autorizou a exploração de recursos naturais na região e nomeou um governador militar para área. Foi o estopim para que as tensões entre os dois países aumentassem desde então.

A descoberta de petróleo transformou a Guiana em um dos países que mais se desenvolvem na América do Sul. O governo brasileiro chegou a reforçar a presença de tropas militares em Roraima, que faz fronteira com os dois países, e defendeu a resolução da controvérsia entre as duas nações por meio de um diálogo mediado. O Brasil é o único país que faz fronteira simultânea com Guiana e Venezuela, e um eventual conflito militar poderia ameaçar parte do território brasileiro em Roraima.

A visita de Lula à Guiana e sua subsequente reunião com Maduro em São Vicente e Granadinas refletem o compromisso do Brasil em buscar uma solução diplomática para a crise entre Venezuela e Guiana, garantindo a segurança e a estabilidade na região.

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