No El País, Lula destaca união progressista mundial contra extremismos

Jornal espanhol El País publicou artigo do presidente, que destacou relações bilaterais, a retomada econômica do Brasil e como deve ser a resposta aos ataques à democracia

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião com o Presidente do Governo da Espanha, Pedro Sánchez, e delegação empresarial, no Palácio do Planalto. Brasília - DF. Foto: Ricardo Stuckert / PR

Nesta quarta-feira (6), o jornal espanhol El País publicou artigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o título “A resposta aos ataques à democracia é melhorar a vida das pessoas”. A publicação ocorre por ocasião da visita oficial do presidente do governo da Espanha, Pedro Sánchez, ao Brasil.

No texto endereçado aos espanhóis, o presidente salientou que o país foi um dos primeiros que visitou assim que retornou ao poder, lembrando da importante parceria econômica que estabelecem com fluxo anual de 3,3 bilhões de dólares.

Ao longo do artigo, Lula ressalta as riquezas mundiais em contraste com as guerras, pobreza e a fome que ainda persistem em diversos locais ao apontar que estas mazelas “desafiam nosso senso de humanidade”.

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Neste sentido, observa que manutenção das desigualdades tem sido terreno fértil para o extremismo, que – apesar de não terem sido citadas diretamente no texto – servem para atacar a democracia e os processos eleitorais, como no 8 de Janeiro no Brasil e a invasão ao Capitólio, nos EUA.

Mesmo com estas situações, Lula indica que o povo brasileiro e espanhol souberam escolher como enfrentariam esse momento mundial e optaram por “governos que acreditam que a chave para responder aos ataques à democracia é melhorar a vida das pessoas”.

A partir daí, o brasileiro indica a melhora da economia nacional e a queda do desemprego, além de lembrar da retomada de programas de transferência de renda e da política de valorização do trabalho, que marcaram seus dois primeiros mandatos. Lula ainda lembrou da presidência brasileira no G20 – utilizado como mesa de negociações para uma Aliança Global de Combate à Fome e à Pobreza.

Por fim, destaca que é responsabilidade dos líderes globais trabalharem pelo humanismo, solidariedade e cooperação. “Poucas vezes na história o apoio entre forças progressistas mundiais, como a parceria que temos com a Espanha, se fez tão necessário e urgente quanto agora. É nossa responsabilidade trabalhar juntos para que a indiferença não prevaleça sobre o humanismo e para que as injustiças que se espalham dentro dos países e entre eles deem lugar à solidariedade e à cooperação.

Confira o artigo na íntegra em português:

“A resposta aos ataques à democracia é melhorar a vida das pessoas”

A Espanha foi um dos primeiros países que tive a honra de visitar no início do meu terceiro mandato, como etapa importante do retorno do Brasil ao mundo.

Neste 6 de março, será a vez do Brasil receber a visita do Presidente de Governo Pedro Sánchez. 

A Espanha é o segundo principal país de origem de investimento direto estrangeiro no Brasil. O estoque de investimentos é de cerca de 60 bilhões de dólares e o fluxo anual, de cerca de 3,3 bilhões de dólares nos últimos anos.

Mas não é com qualquer parceiro econômico que compartilhamos tantas afinidades culturais e políticas.

Centenas de milhares de espanhóis contribuíram para forjar a identidade nacional brasileira.

Temos em comum valores fundamentais, como a defesa da democracia e dos direitos humanos, a promoção de políticas de inclusão social, e o compromisso com o desenvolvimento sustentável e com o enfrentamento da crise climática.

Isso é fundamental em um momento em que estamos passando por mudanças profundas na ordem internacional, que desafiam nosso senso de humanidade.

Em um mundo que gasta US$ 2,2 trilhões por ano em armamentos, a paz continua sendo privilégio de alguns, enquanto guerras provocam destruição, sofrimento e mortes de inocentes.

Em um mundo que produz riquezas da ordem de 105 trilhões de dólares por ano, mais de 735 milhões de pessoas seguem não tendo o que comer.

Nas últimas décadas, um modelo econômico excludente concentrou a renda e ampliou disparidades. A desigualdade tornou-se terreno fértil para o extremismo.

Quando a democracia falha em garantir o bem-estar do povo, prosperam figuras que vendem soluções simplistas para problemas complexos, semeando a desconfiança no processo eleitoral e nas instituições políticas. 

Enfrentamos um preocupante aumento da extrema direita e de suas tradicionais ferramentas de desagregação social: o autoritarismo, a violência, a precarização do trabalho, o negacionismo climático, o discurso de ódio, a xenofobia, o racismo e a misoginia.

Nossas sociedades, felizmente, apostaram em governos que acreditam que a chave para responder aos ataques à democracia é melhorar a vida das pessoas.

O Brasil voltou a figurar entre as dez maiores economias do mundo. A economia brasileira cresceu 2,9% e o desemprego caiu para 7,6%, menor índice desde 2015.

Ampliamos programas de transferência de renda e reinstituímos a política de valorização do trabalho e do salário mínimo. Aprovamos uma reforma tributária que finalmente corrigirá as distorções que vinham onerando mais quem tem menos. Buscamos na Espanha inspiração para projeto de lei, enviado nesta semana ao Parlamento brasileiro, para assegurar os direitos dos trabalhadores por aplicativos. Reduzimos o desmatamento na Amazônia em 50% e apoiamos o esforço espanhol no combate à desertificação.

Estamos fazendo nacionalmente o que acreditamos que precisa ser feito internacionalmente.

Na presidência brasileira do G20, lançaremos uma Aliança Global de Combate à Fome e à Pobreza, mobilizando recursos para a implementação políticas de eficácia testada e comprovada. Defenderemos a criação de um imposto global sobre bilionários. Proporemos iniciativas para garantir o trabalho decente. Promoveremos uma transição justa para uma economia de baixo carbono, de modo a garantir que a COP30, que sediaremos no coração da Amazônia, resulte em soluções eficazes para o planeta.

Poucas vezes na história o apoio entre forças progressistas mundiais, como a parceria que temos com a Espanha, se fez tão necessário e urgente quanto agora.

É nossa responsabilidade trabalhar juntos para que a indiferença não prevaleça sobre o humanismo e para que as injustiças que se espalham dentro dos países e entre eles deem lugar à solidariedade e à cooperação.

Foto: Ricardo Stuckert / PR

*Com informações Planalto e El País