Pressão de empresários a Milei é sinal de estalido social na Argentina

Representantes de 17 grandes empresas se reuniram nesta quarta (6) com o ministro da economia do país para manifestar preocupação com a forte queda nas vendas do varejo

Foto: Reproduçáo

Empresários argentinos dos segmentos de alimentos e bebidas e de bens de consumo se reuniram, nesta quarta (6), com o ministro da Economia do país, Luis Caputo, para manifestar preocupação com a forte queda nas vendas do varejo desde o início deste ano.

Além de uma queda de 8% das vendas nos supermercados, cerca de 61% das empresas da Argentina afirmaram ter reduzido a sua produção e 69% diz ter sofrido quedas nas vendas.

A disparada descomunal dos preços dos produtos e serviços no país vizinho se deve à chegada do presidente Javier Milei à Casa Rosada e à implementação de políticas austericídas e liberalizantes. Anarcocapitalista assumido, Milei declarou guerra ao Estado em benefício do livre mercado e do fortalecimento do setor privado.

Porém, ao que parece, as principais empresa de consumo massivo ligaram o alerta vermelho para a perda do poder de compra da população gerado pelo descontrole total da inflação. Em novembro, último mês do ex-presidente Alberto Fernández no governo, a inflação alcançou 12,5%, mas disparou para 25,5% em dezembro e 20,6% em janeiro após a posse de Milei, maiores altas mensais desde 1991.

Ao todo, 17 representantes se encontraram com Caputo e o secretário de Comércio, Pablo Lavigne, no Palácio da Fazenda. Estiveram à mesa multinacionais do setor de bens de consumo como Johnson & Johnson,

Loreal, Unilever e Procter & Gamble e de alimentação, como Quickfood SA, Arcor, Danone, Coca Cola e Nestlé.

Outras empresas nacionais também participaram da reunião: Mondelez, Mastellone, Molinos Río de la Plata, Molinos Cañuelas, Compañía Industrial Cervecera, Quilmes, Establecimiento Las Marías e Las Tres Niñas.

“Basicamente ele (Caputo, ministro da economia) ouviu os setores. Expressamos preocupação geral com a queda acentuada nas vendas. Ele nos pediu clareza na dinâmica de preços, como no caso de promoções e descontos”, afirmou uma das fontes ouvidas pela Infobae.

O encontro ocorre na semana seguinte em que o governo argentino comemorou o primeiro superávit primário da economia dos últimos 12 anos. O resultado se deve ao corte de subsídios e assistência do governo federal aos mais pobres, parte do plano motosserra do líder da extrema-direita.

Enquanto o governo contém gastos e apregoa contra o que chama de “castas”, a população do país vem sucumbindo à pobreza. Em janeiro, o consumo massivo embalado sofreu uma retração de 3,8% na comparação com o mesmo mês em 2023, segundo a consultora Scentia. O levantamento registrou que as vendas nos supermercados caíram 8% no mesmo período.

A consultoria ressalta a possibilidade de que a mudança dos hábitos devida a inflação tenha se intensificado durante a disparada dos preços. A velocidade da queda do poder de compra dos salários foi tão grande que a deterioração do poder de compra chegou a 20% em apenas dois meses, segundo a secretaria do Trabalho.

Até mesmo os trabalhadores com remuneração “estável” perderam poder aquisitivo, mesmo com reajustes salariais mais regulares.

O índice Ripte, que mede a variação nominal dos salários deste grupo de trabalhadores que apresentam estabilidade no emprego no último ano, mostrou que em fevereiro o rendimento dessas famílias subiu 14,7%, quase seis pontos percentuais atrás do ritmo inflacionário daquele mês.

“É provável que também se intensifiquem hábitos que já vimos, com maior frequência nas idas aos mercados, mas com menos produtos por compras, para que se tenha mais cuidado com os gastos em cada ato de compra”, diz a Scentia.

Para os próximos meses, é possível que se inicie um lento processo de desinflação ocasionado pelo baixo consumo das famílias. Neste contexto de queda do consumo, as empresas já sinalizam que irão começar a rever os seus preços para não perderem mais vendas e evitarem o aprofundamento da paralisação da atividade.

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