Julgamento dos ‘Panama Papers’ começa oito anos após o escândalo

Escândalo de lavagem de dinheiro ainda tem impacto no mundo. Em 2016, abalou governos e expôs altos escalões. Confira as implicações no Brasil.

Após oito anos desde o estouro do escândalo de evasão fiscal conhecido como “Panama Papers”, o julgamento de 27 pessoas envolvidas em lavagem de dinheiro terá início nesta segunda-feira (8). O caso trouxe à tona a prática de esconder ativos em empresas offshore por parte de indivíduos ricos ao redor do mundo.

O escritório de advocacia Mossack Fonseca, central no escândalo dos Panama Papers, fechou suas portas em 2018, alegando “danos irreparáveis” à sua reputação em decorrência do escândalo.

As revelações de 2016 abalaram governos, expuseram figuras de alto escalão e desencadearam investigações em diversas partes do mundo, abalando a reputação do Panamá como centro financeiro offshore.

Entre os réus que serão julgados em um tribunal criminal panamenho estão Jurgen Mossack e Ramon Fonseca Mora, fundadores do escritório de advocacia que protagonizou o escândalo.

Leia também: A Rede Globo e os “Panama Papers” – O que só foi divulgado na Holanda 

Os documentos vazados, totalizando 11,5 milhões de arquivos, implicaram figuras influentes, incluindo bilionários, políticos e até mesmo estrelas do esporte e cinema. Vários países conseguiram recuperar US$ 1,36 bilhão em multas e impostos de indivíduos mencionados nos Panama Papers.

O primeiro-ministro islandês Sigmundur David Gunnlaugsson e o ex-primeiro-ministro paquistanês Nawaz Sharif estão entre os políticos que foram forçados a renunciar ou desqualificados de seus cargos após serem implicados nos documentos.

Impacto no Brasil

Os Panama Papers, vazados para o jornal alemão Sueddeutsche Zeitung e compartilhados com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, revelaram a extensão da prática de ocultação de ativos por indivíduos e entidades em empresas offshore, muitas delas operadas pela firma de advocacia Mossack Fonseca.

Leia também:Panama Papers: como o governo Temer atua para proteger Macri

No desenrolar do escândalo dos Panama Papers, um capítulo crucial se desenhou em 2023 no Panamá, onde os principais protagonistas, Mossack e Fonseca, enfrentaram acusações de lavagem de dinheiro, com um elo importante para o Brasil, através do caso “Lava Jato” envolvendo a Odebrecht. Este episódio, que ainda aguarda uma sentença final, lança luz sobre as práticas obscuras que permeiam o mundo das finanças internacionais e suas ramificações nos círculos políticos.

A promotoria solicitou penas de até 12 anos de prisão para os acusados, ressaltando a gravidade das acusações e o impacto corrosivo que tais atividades têm sobre a integridade dos sistemas financeiros e judiciais. Enquanto aguardamos a decisão judicial, a tensão permanece alta, alimentada pela expectativa sobre o desfecho deste julgamento emblemático.

Além disso, os dados revelados nos Panama Papers e a subsequente investigação trouxeram à tona a magnitude do problema da evasão fiscal e do uso de offshores para ocultar recursos ilícitos. Entre os mais de 214.000 entes jurídicos identificados, aproximadamente 1.700 têm conexões diretas com o Brasil, destacando a extensão das operações ilícitas que cruzam as fronteiras nacionais.

Leia também:América Latina invisível: crise generalizada nos governos neoliberais

No âmbito político, a revelação de que políticos de sete partidos brasileiros mantinham contas em empresas offshores abalou o panorama político do país. Partidos como PDT, PMDB, PP, PSB, PSD, PSDB e PTB viram seus membros sendo implicados nos documentos dos Panama Papers, lançando dúvidas sobre a transparência e a integridade de suas operações financeiras.

O PMDB de Michel Temer, à época, foi a legenda com mais integrantes mencionados nos documentos da empresa panamenha. Já o PT e demais partidos ligados ao Palácio do Planalto não tiveram nenhuma offshore no exterior atribuída a seus correligionários.

Dentre os nomes envolvidos, destacam-se figuras proeminentes da elite financeira e empresarial brasileira, como Joseph Safra, a família Marinho, Abílio Diniz e os Gerdau, entre outros. Essas conexões com offshores revelam uma prática disseminada entre os mais ricos e poderosos do país, destacando a necessidade urgente de reformas para combater a evasão fiscal e a corrupção sistêmica.

Leia também:Escândalo que envolve Globo e FHC “dorme” nas mãos de Janot há um ano 

O empresário Jorge Paulo Lemann, homem mais rico do Brasil e acionista de empresas como InBev, Burger King e Heinz; aparece como diretor ou presidente de pelo menos 20 offshores. Em 10 delas, está lado a lado dos parceiros da AB Inbev Carlos Alberto Sicupira e Marcel Herman Telles. Recentemente, estiveram todos envolvidos na fraude contábil que levou à falência das Lojas Americanas.

O empresário José Hawilla, dono da Traffic, atuante no setor de marketing esportivo, também aparece nos papers acompanhado de Lírio Albino Parisotto, dono da Innova, petroquímica gaúcha. Hawilla é um dos envolvidos no escândalo de corrupção chamado de “Fifagate”. Ele fechou acordo de delação premiada com a Justiça dos EUA. Além de pagar propina a dirigentes de futebol em 1991, o empresário se declarou culpado dos crimes de obstrução de Justiça e corrupção e aceitou pagar US$ 151 milhões ao governo norte-americano.

Vários desses citados nos Panama Papers sequer se pronunciaram em defesa. Outros alegaram terem comunicado o Banco Central brasileiro da existência das empresas offshore.

Leia também:Paulo Guedes tem offshore milionária em Paraíso Fiscal

Por fim, os Panama Papers não apenas expuseram a corrupção e a fraude financeira, mas também catalisaram um debate global sobre essas questões. O impacto dessas revelações ecoou nos mais altos escalões do poder, levando à queda de governantes e à abertura de investigações em todo o mundo.

Os Panama Papers continuam a ter impacto global, com diversas investigações fiscais e criminais em andamento. O julgamento é um marco no desdobramento desse escândalo de evasão fiscal que, mesmo após oito anos, ainda reverbera globalmente, evidenciando os desafios enfrentados na regulação e combate à corrupção e evasão fiscal em escala internacional.

Leia também:Denúncias sobre Globo, Mossack Fonseca e Brasif dormem na PGR

Autor