Sem financiamento, universidades argentinas estão à beira do colapso

As universidades têm o mesmo orçamento do ano passado, mas recebem contas 270% mais caras. Reitores promovem uma lei para sobreviver.

foto: Divulgação Unco

As universidades argentinas estão enfrentando uma crise financeira sem precedentes devido ao desfinanciamento do governo, o que está levando várias instituições a um estado de inadimplência nos pagamentos dos serviços operacionais básicos, como limpeza, luz e gás. Com o mesmo orçamento do ano anterior e uma inflação superior a 270%, as universidades estão se encontrando incapazes de cobrir suas despesas, o que ameaça interromper suas operações no segundo semestre deste ano.

O fenômeno denunciado pelo jornal Página 12, ocorreu em moldes semelhantes durante o Governo Bolsonaro com universidades federais. Governos de extrema direita têm as universidades públicas como alvo de suas políticas de desmonte, por concentrarem os intelectuais que criticam políticas de governo ultraliberais. No caso de Bolsonaro, havia uma política deliberada de desqualificação do ambiente universitário e científico, espalhando desinformação para colocar a opinião pública contra estas instituições. Assim que assumiu, o Governo Lula descontingenciou o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia (FNDCT), que fez as universidades voltarem a respirar.

A Universidade Nacional de Comahue (UNCo) anunciou que, devido à falta de fundos, não conseguirá pagar pelos serviços essenciais de funcionamento em março. Outras instituições também estão enfrentando dificuldades semelhantes, com o aumento exponencial dos custos de energia elétrica e outras despesas básicas. Embora a inflação destes serviços sejam impagável (270%), o orçamento das universidades continua arrochada nos limites do ano anterior.

Reitores e autoridades universitárias alertam que, se a situação não melhorar, o início do segundo semestre letivo poderá estar em risco, deixando milhões de estudantes e funcionários sem saber o que o futuro reserva para eles. A paralisia poderá deixar 300 mil trabalhadores docentes e não docentes nas ruas e 2,5 milhões de estudantes no limbo, sem hipóteses de prosseguirem as suas carreiras. Em resposta a essa crise iminente, legisladores estão discutindo um projeto de lei de emergência para garantir a sobrevivência das universidades durante esse período turbulento.

Beatriz Gentile, reitora da UNCo, destacou a gravidade da situação, enfatizando que a falta de recursos compromete não apenas as operações diárias das universidades, mas também seu futuro a longo prazo. Ela ressaltou que cortes severos nos serviços essenciais já estão sendo feitos, e que as negociações com fornecedores para encontrar soluções viáveis estão em andamento.

A Universidade Nacional de Quilmes registrou na semana passada situação semelhante que foi comunicada através de suas redes sociais. Com consumo equivalente, o gasto com energia elétrica no primeiro bimestre de 2023 foi de 4.827.120 pesos, enquanto no primeiro bimestre deste ano o valor chegou a 20.125.103 pesos. A partir da #universidadenemergencia, ele divulgou concretamente a situação que enfrenta tanto para sua comunidade como para o resto da sociedade.

Na mesma linha do que mencionam Gentile e UNQ, outras instituições já racionalizam o uso de papel higiênico, como a Universidade Nacional de Rosário. Da UBA (Universidade de Buenos Aires), alertaram que as atividades dos hospitais universitários já correm sério risco de interrupção, aos quais em muitos casos os pacientes serão atendidos sem assistência social. Há também casos em que os programas de bolsas de auxílio tiveram que ser cortados para os alunos carentes, bem como a suspensão das atividades de pesquisa e extensão.

Além disso, as universidades estão buscando formas alternativas de financiamento e mobilizando a comunidade acadêmica e a sociedade em geral para enfrentar essa crise. Marchas e protestos estão sendo organizados para chamar a atenção para a situação precária das instituições de ensino superior e exigir ações do governo para resolver o problema.

Enquanto isso, os sindicatos docentes planejam uma greve de 48 horas para destacar não apenas a falta de financiamento para despesas operacionais, mas também a inadequação dos aumentos salariais oferecidos pelo governo, que não acompanham a inflação atual.

Dobrando a aposta, o Ministério da Educação cancelou o envio de recursos ao Centro Regional de Memória e Direitos Humanos da UNLP Espacio exESMA por ser considerado um “centro de doutrinação ideológica”, onde são cursadas carreiras como jornalismo esportivo e outros cursos de artes.

Apesar dos desafios enfrentados, as universidades argentinas continuam a desempenhar um papel crucial na sociedade, fornecendo respostas de qualidade para proteger a população, mesmo em meio a uma crise financeira. Suas contribuições, tanto durante a pandemia de Covid-19 quanto em outras emergências, demonstram a importância de proteger e financiar adequadamente essas instituições vitais para o desenvolvimento do país.

A Universidade Nacional do Chaco Austral foi uma das que dão importantes respostas à sociedade, quando, diante do surto de dengue, aumentou em 4.000 unidades por dia a produção de repelentes para comercializá-los a preços acessíveis e gratuitos, dependendo do caso. Um papel alinhado com o desempenhado por outros durante a pandemia de Covid, ao criar centros de diagnóstico e desenvolver kits indígenas devido à impossibilidade de importá-los.

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