Guerra escala com ataques de Israel contra o Irã, após retaliações

Embaixada brasileira comunica cidadãos residentes no país sobre riscos, embora o mundo apele contra a escalada regional do conflito

Os sistemas de defesa aérea do Irã foram disparados em várias partes do país na manhã desta sexta-feira (19), após relatos de explosões perto do aeroporto e de uma base aérea do exército na província de Isfahan, no centro do país, em meio a tensões crescentes com Israel, de acordo com a mídia estatal.

Nesta sexta-feira, também houve relatos de explosões no Iraque e na Síria. As notícias surgiram horas depois de a mídia norte-americana ter informado que altos funcionários dos EUA disseram que mísseis israelenses atingiram território iraniano.

Os sistemas de defesa aérea sobre a cidade de Tabriz, na parte noroeste do Irã, também foram ativados.

Os voos foram suspensos em várias regiões, incluindo a capital Teerã e Isfahan. Mas cerca de quatro horas depois foram retomados e não houve relatos de vítimas.

A agência de notícias estatal síria SANA disse que aproximadamente às 2h55 de sexta-feira, o “inimigo israelense lançou uma agressão com mísseis”. Israel teve como alvo os “locais de defesa aérea da Síria na região sul. A agressão gerou perdas materiais”, informou.

Esta escalada ocorre menos de uma semana depois de o Irã ter lançado mais de 300 mísseis e drones contra Israel em resposta a um ataque israelense ao complexo da embaixada iraniana na Síria, em 1 de abril, que matou sete membros do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC). 

Isfahan abriga a instalação de conversão de urânio do país. Além disso, a instalação de enriquecimento de urânio de Natanz também está localizada na província. Isfahan também abriga uma importante base aérea iraniana que abriga a antiga frota iraniana de F-14 Tomcats fabricados nos EUA, que foram adquiridos antes da revolução islâmica de 1979.

Brasileiros no Irã

O embaixador do Brasil no Irã, Eduardo Gradilone Neto, afirmou que está em contato constante com os brasileiros residentes no país desde o ataque de Israel na noite de quinta-feira, 18 de abril de 2024. Em meio à situação de tensão, o corpo diplomático brasileiro orienta os cidadãos brasileiros a estocarem água e alimentos, embora avalie o impacto da ofensiva na população como “muito baixo”.

“Os brasileiros estão sendo informados. E nós estamos avaliando. Ontem [quarta-feira, 17 de abril] nosso adido de Defesa nos alertou sobre as possibilidades de ataques nesses lugares. Cabe agora ver quais foram os danos”, declarou Gradilone.

O embaixador destacou a importância do acompanhamento da situação e da prontidão diante de possíveis desdobramentos. A segurança e o bem-estar da comunidade brasileira são prioridades para a equipe diplomática brasileira no Irã.

O ataque de Israel na região aumentou a preocupação entre os estrangeiros que residem no país. O acompanhamento próximo por parte da embaixada visa garantir que os brasileiros estejam devidamente informados e preparados para eventualidades decorrentes da situação atual.

Dúvidas

A mídia iraniana, citando autoridades iranianas, estava minimizando o incidente. Relatos não confirmados da mídia iraniana sugeriram que os ataques foram potencialmente lançados usando pequenos quadricópteros – essencialmente helicópteros não tripulados e operados de forma autônoma.

Israel não assumiu a responsabilidade pelo ataque e os militares também não comentaram.

As emissoras dos EUA citaram autoridades americanas dizendo que mísseis israelenses atingiram o Irã . De acordo com uma reportagem da CNN, os EUA foram notificados antecipadamente do ataque, mas “não deram luz verde”.

Numa conferência de imprensa, o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Antonio Tajani, disse que o governo dos EUA disse ao grupo de nações G7 que foi informado “no último minuto” por Israel sobre o ataque “mas não houve partilha do ataque pelos EUA. Foi uma mera informação”.

Segundo alguns analistas, independentemente da extensão dos danos, o suposto ataque envia uma mensagem ao Irã sobre a vulnerabilidade da sua segurança. De certa forma, Israel usa o ataque para mapear alvos, algo que o Irã também fez em território israelense. Mostra também que é capaz de alcançar os alvos no centro do país.

O ataque no Irã revelou divisões dentro de Israel. O ministro da segurança de extrema direita, Itamar Ben-Givr, sugeriu, numa publicação nas redes sociais, que o suposto ataque era fraco e deveria ser uma dura resposta militar após o ataque retaliatório em 13 de abril.

O líder da oposição, Yair Lapid, revidou. “Nunca antes um ministro causou danos tão graves à segurança do país, à sua imagem e ao seu status internacional”, escreveu Lapid no X. “Em um tweet imperdoável de uma palavra, Ben-Gvir conseguiu zombar e envergonhar Israel de Teerã para Washington”, disse ele.

Imagem compara população, pessoal na ativa e na reserva, PIB e orçamento militar entre os dois países

O pano de fundo

Israel e o Irã são rivais de longa data na região. Não é do ataque em Damasco que começou a escalada. Há meses, o Irã tem perdido suas lideranças militares em vários ataques em diferentes países. O Irã, por sua vez, tem mantido uma pressão constante sobre Israel através dos seus aliados, especialmente o Hezbollah no Líbano.

Os receios de uma guerra regional em grande escala aumentaram no início de abril, quando o Irã acusou Israel de bombardear a sua missão diplomática em Damasco, na Síria e retaliou em 13 de abril, com mais de 300 mísseis e drones atingindo Israel pela primeira vez.

Na quinta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Hossein Amirabdollahian, avisou que o Irã não hesitaria em dar “uma resposta decisiva e adequada a [Israel]” em caso de ataque. Contudo, nesta sexta-feira, quando um comandante iraniano foi questionado nos meios de comunicação social se o ataque provocaria uma resposta, ele disse: “Já viram a resposta do Irã”.

Repercussão internacional

Da Alemanha e da Rússia ao Japão e ao Egipto, países de todo o mundo apelaram à “desescalada” após o suposto ataque israelense ao Irã.

Na região, Omã disse que condenava “o ataque israelense”, ao mesmo tempo que denunciava “os repetidos ataques militares de Israel na região”, disse um comunicado.

O Egito disse estar “profundamente preocupado” com a escalada das hostilidades entre os dois países.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Jordânia, Ayman Safadi, disse que as retaliações israelo-iranianas devem acabar, alertando contra o perigo de uma escalada regional.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, apelou à cautela para evitar uma maior intensificação do conflito no Médio Oriente. 

Na China, o Ministério dos Negócios Estrangeiros disse que a China “tomou nota dos relatórios relevantes e opõe-se a quaisquer ações que aumentem ainda mais as tensões”.

Na Rússia, o Kremlin afirmou que estava a examinar relatórios sobre o alegado ataque de Israel e apelou a ambas as partes para que exercessem contenção.

O secretário-chefe de gabinete do Japão, Yoshimasa Hayashi, disse: “O Japão está profundamente preocupado com a situação no Oriente Médio e condena veementemente quaisquer ações que levem à escalada da situação.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou que os EUA não participaram de nenhuma operação ofensiva.

Em Capri, Itália, o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que as nações do G7 estavam empenhadas em trabalhar para uma “desescalada” na região.

A companhia aérea alemã Lufthansa disse que suspendeu os seus voos para Tel Aviv até a manhã de sábado e evitará voar através do espaço aéreo iraquiano devido à situação de segurança na região.

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