Aleida Guevara exalta papel da mãe e princípios do pai “Che”

Em entrevista a Eduardo Moreira, do ICL Notícias, Aleida destaca princípios revolucionários de Che Guevara, explica célebre frase atribuída ao revolucionário e o que espera para Cuba

Aleida Guevara. Foto: Prensa Latina

Em entrevista a Eduardo Moreira, do ICL Notícias, Aleida Guevara March, filha de Ernesto “Che” Guevara, exaltou o papel da mãe, de mesmo nome, em sua criação e disse que o pai não falou ou escreveu a célebre frase “há que endurecer, mas sem perder a ternura, jamais”, ainda que falasse coisas nesse sentido.

Moreira gravou o documentário “Vai pra Cuba, Eduardo!”, em que teve a oportunidade de entrevistar a médica Aleida e o presidente da ilha, Miguel Díaz-Canel. No canal ICL, divulgou trecho da entrevista neste final de semana como prévia do que virá por aí.

A filha de um dos mais célebres guerrilheiros da história com a cubana Aleida March de la Torre destacou na gravação o papel de sua mãe: “Foi fortaleza da existência. Se hoje somos homens e mulheres socialmente úteis, é porque ela nos educou, nos formou à imagem do nosso pai, mas, acima de tudo, com respeito e amor ao povo cubano. O mérito, realmente, não é ser filha de Che, é ser filha de uma mulher que o amou extraordinariamente e que cumpriu seu papel na vida, ou seja, criar seus filhos com esses valores, esse amor, com esse carinho”, disse Aleida Guevara, que tem três irmãos.

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Em certa pergunta, ela trouxe um esclarecimento sobre a frase “há que endurecer, mas sem perder a ternura, jamais”, uma das mais conhecidas atribuídas a Che. Segundo Aleida, o pai nunca teria dito a frase, que surge com os estudantes franceses no final dos anos 60. No entanto, pondera que Che dizia “coisas nesse sentido”, porém, mais do que isto, “colocava em prática o que falava.”

“Sempre foi um homem muito solidário, em primeiro lugar. Muito respeitoso com o ser humano. Esse era um princípio inviolável para ele. Primeiro é preciso ouvir as pessoas, ver como elas vivem, como sentem, para depois poder julgar […] Gostava muito de aprender e escutar os outros. Mas sim, quando precisava ser forte, ele era. Quando havia um problema de princípios, não perdoava. Essas são coisas que um revolucionário não pode permitir. É por isso que a frase se encaixa tão bem”, explica.

Che com os filhos do segundo casamento. Foto: Reprodução

E continua: “Ele [Che] dizia que um verdadeiro revolucionário precisa ter uma grande capacidade de amar. Porque se não tem essa capacidade, não se pode entregar a vida a uma causa. Papai, colocou em prática tudo o que disse. Por isso que é tão lindo o que [Eduardo] Galeano disse sobre ele: ‘É o mais renascedor de todos’ […] Ele nunca exigiu nada de ninguém que ele mesmo não fosse capaz de fazer sozinho. Por uma questão de princípio. Não exigir de ninguém algo que você não é capaz de fazer. É por isso que ele foi um militar extraordinário. Porque sempre liderou pelo exemplo. E o povo o seguia até as últimas consequências”.

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Ao falar sobre os princípios do pai dentro de casa, revelou que ele renunciou o salário de ministro e ficou com o de comandante. Além disso, quando descobriu que a família recebia cota especial de abastecimento ficou revoltado e estabeleceu que em sua casa só entraria o que estava estabelecido pela “libreta” (caderneta de abastecimento). Aleida diz que ficaram sem sapatos e roupas íntimas, assim como todo o povo cubano na época, logo após a revolução: “Este modo de ver o mundo fazia com que Che não permitisse privilégios em relação ao restante do povo cubano”, elucida.

Para ela, “se um dirigente se afasta do que está vivendo o seu povo, não o conhece, não o sente. Como ele não sente, não pode resolvê-lo”, complementa.

Fidel, Aleida e Che. Foto: Reprodução

A médica conviveu com o pai guerrilheiro até os quatro anos e meio, por isso nutre as memórias com base na vivência com familiares, fotografias e estudo.  A imagem que ficou desse período é de que o pai trabalha muito, até 16 horas por dia. Com as missões revolucionárias dele, o viu pela última vez aos cinco anos e meio e soube de sua morte prestes a completar sete anos.

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Para consolá-la, antes da notícia oficial, o “tio” Fidel Castro disse a Aleida e para sua irmã: “Quando os homens morrem da maneira que querem morrer, não se deve chorar por eles”.

Sobre o que espera de Cuba para o futuro, concluiu: “Quero que milhas filhas vivam com a mesma dignidade que eu vivi. E isso requer uma revolução, portanto é um princípio para nós, para que as novas gerações de cubanos possam aproveitar a vida, possam sentir o orgulho de ser cubano. É necessária essa revolução, precisa ser aperfeiçoada, ser melhorada, tem muito problemas, é verdade, mas temos que continuar o caminho. Não podemos, de forma alguma, negligenciar os magníficos homens e mulheres que tivemos e que tornaram a revolução possível, a sustentaram com todo esforço, todo amor. Não se pode negligenciar isso de nenhuma maneira”, finalizou de forma emocionada.

Veja a entrevista: