Biden deflagra guerra comercial com a China, resgatando política de Trump

Biden aumenta impostos sobre importações chinesas para proteger indústria americana estratégica de carros elétricos, insumos tecnológicos e energias limpas.

100% de impostos sobre veículos elétricos chineses representam um desestímulo à transição energética, segundo a indústria chinesa. Imagem do salão de automóveis em Xi'an, Província de Shaanxi, noroeste da China, em 1º de maio de 2024. (Xinhua/Zhang Bowen)

Nesta terça-feira (14), o governo dos Estados Unidos anunciou um aumento significativo nas tarifas de importação sobre produtos chineses, totalizando US$ 18 bilhões, com o objetivo declarado de proteger os trabalhadores e empresas norte-americanas de práticas comerciais desleais por parte da China.

O aumento substancial nas tarifas ocorre sobre uma série de importações chinesas, incluindo veículos elétricos, células solares, semicondutores e baterias avançadas. A medida visa proteger as indústrias estratégicas americanas de uma concorrência considerada injusta, sustentada por subsídios chineses.

Biden também expressou apoio à manutenção das tarifas sobre mais de US$ 300 bilhões em produtos chineses implementadas pelo ex-presidente Trump, apesar de suas críticas anteriores a essas tarifas durante sua campanha presidencial em 2020. Ele havia até prometido aos chineses revogar algumas tarifas de Trump e voltou atrás.

No universo do mercado liberal consensuado por Washington, o protecionismo industrial de Biden e Trump também pode ser considerado uma concorrência injusta para o resto do mundo. Foi assim, que os americanos pressionaram indústrias do mundo todo em seu favor. Agora, conforme sua conveniência reverte toda a economia liberal em seu benefício e faz parecer que é a China a criminosa. A explosão de investimentos dos EUA nessas mesmas indústrias também é desleal com a indústria similar de outros países.

Essas medidas representam uma escalada na guerra comercial, indicando a disposição de Biden em manter uma postura firme contra a China. Em um discurso na Casa Branca, o presidente comparou sua abordagem à de seu antecessor, acusando Trump de promessas vazias de aumentar as exportações e impulsionar a produção, sem cumprir.

As tarifas aumentadas visam áreas estratégicas como energia limpa e semicondutores, nas quais os Estados Unidos estão investindo significativamente. Biden aposta nesses investimentos para criar empregos de classe média e conquistar estados indecisos que abrigam partes dessas indústrias. As novas alíquotas afetarão uma ampla gama de produtos, desde veículos elétricos e baterias de lítio até semicondutores e painéis solares, com aumentos que, em alguns casos, quadruplicarão as taxas atuais de 25% para 100%.

Entre as principais mudanças anunciadas estão:

  • Veículos elétricos chineses: As tarifas serão quadruplicadas, passando de 25% para 100%, ainda em 2024.
  • Baterias: As tarifas das baterias de íons de lítio para veículos elétricos e suas partes aumentarão de 7,5% para 25% neste ano, e o mesmo ocorrerá com as baterias de lítio para outros usos a partir de 2026.
  • Semicondutores: As tarifas saltarão de 25% para 50% a partir de 2025.
  • Painéis solares: O imposto de importação sobre células solares chinesas dobrará, passando de 25% para 50%.
  • Aço e alumínio: As tarifas sobre importações chinesas de aço e alumínio mais do que triplicarão ainda neste ano, de 7,5% para 25%.
  • Produtos médicos: As taxas sobre seringas, agulhas e equipamentos de proteção individual aumentarão significativamente, chegando a 50% em 2024 para alguns itens.

Em resposta, o Ministério do Comércio da China expressou forte insatisfação com a decisão dos EUA, afirmando que tomará medidas firmes para defender seus direitos e interesses.

A Casa Branca defendeu a medida, argumentando que ela complementa os pacotes de investimento interno aprovados pela administração Biden nos últimos anos. Segundo o governo dos EUA, esses investimentos já catalisaram mais de US$ 860 bilhões destinados a indústrias do futuro, como veículos elétricos, energia limpa e semicondutores, criando novos empregos e ajudando comunidades desfavorecidas.

Além disso, os EUA buscam conter uma possível inundação de produtos ligados à energia limpa, subsidiados pela China, que distorcem os preços e prejudicam empresas e trabalhadores americanos. O governo chinês, por sua vez, classificou tais afirmações como “infundadas”.

A medida marca mais um capítulo na crescente tensão comercial entre as duas maiores economias do mundo, com implicações significativas para o comércio global e as relações bilaterais.

Repercussões

A resposta à decisão de Biden foi mista. Líderes sindicais, legisladores democratas e alguns grupos industriais elogiaram a medida, enquanto o Comitê Nacional Republicano a criticou, argumentando que Biden não está sendo duro o suficiente com a China. A retórica eleitoral visa a demonstrar que Trump fará ainda mais, ao proibir produtos chineses no país e taxar ainda mais importações de todo o mundo.

A Federação Nacional de Varejo, que representa muitas empresas que adquirem ou vendem produtos chineses, apelou a Biden para reverter o curso e suspender as tarifas que vão recair sobre os consumidores como inflação. Os impostos são considerados regressivos para a população, por atingir os mais pobres. Houve também quem considerasse que as medidas afetam o avanço das energias limpas no país.

A China, por sua vez, criticou as tarifas, chamando-as de manipulação política que afetaria negativamente a cooperação bilateral. O país prometeu tomar medidas para defender seus interesses. O protecionismo no caso de veículos elétricos também foi considerado um desestímulo à transição energética.

As medidas apontam para uma dificuldade dos EUA enfrentarem o crescimento econômico da China seguindo as regras liberais defendidas por eles para o resto do mundo. Diante da capacidade industrial dos chineses e a eficiência da gestão estatal da economia, só restou quebrar todas as regras do comércio global, como faz a Europa, e sancionar a economia chinesa com super-impostos e protecionismo pesado que foi combatido por décadas nos organismos internacionais.

Os aumentos tarifários afetarão cerca de US$ 18 bilhões em importações anuais da China e incluem uma quadruplicação das tarifas sobre veículos elétricos chineses, de 25% para 100%. Biden espera fortalecer a proteção das indústrias americanas, especialmente aquelas relacionadas à energia limpa.

Apesar das preocupações com os potenciais impactos sobre os consumidores americanos, a administração Biden justificou as tarifas como uma resposta necessária às práticas comerciais injustas da China, incluindo subsídios estatais e roubo de propriedade intelectual.

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