PF ouve Ramagem após arquivos relacionarem espionagem com golpe

As novas informações, deletadas pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, foram descobertas por meio de aparelho israelense adquirido pela corporação

Alexandre Ramagem (Foto: Marcos Oliveira/ Agência Senado)

No depoimento desta terça-feira (5) à Polícia Federal (PF), o ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) será confrontado com novos fatos que relacionam espionagem com a tentativa de golpe de Estado.

O candidato derrotado a prefeito do Rio de Janeiro é acusado de comandar no governo anterior a chamada “Abin Paralela” pela qual espionava os adversários de Bolsonaro.  

A PF recuperou arquivos deletados pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que revelam novas conexões entre os atos golpistas e o monitoramento de autoridades.

De acordo com a GloboNews, os arquivos delatados foram recuperados no computador de Cid por aparelho israelense adquirido pela corporação.

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Pressionado pelo avanço das investigações, o ex-ajudante resolveu delatar os esquemas, mas pelo jeito não revelou todos fatos. Com essas novas descobertas, por exemplo, não se sabe como ficará a situação dele no inquérito.

Os novos achados também adiaram a conclusão do inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado, que deve indiciar Bolsonaro e mais cinco.

Os demais são o general Walter Braga Netto [candidato a vice na chapa do ex-presidente], o general e ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, o general e ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) Augusto Heleno, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o ex-comandante da Marinha Almir Garnier.

Depoimentos

No inquérito, a PF ouviu os depoimentos dos ex-comandantes do Exército, Marco Antonio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Júnior, que revelam o plano golpista.

Por exemplo, Freire Gomes disse à PF que se reuniu com Bolsonaro no dia 7 de dezembro, no Palácio da Alvorada, quando lhe foi apresentado o teor de um decreto golpista.

Gomes disse que “sempre posicionou que o Exército não atuaria em tais situações; que inclusive chegou a esclarecer ao então presidente da República Jair Bolsonaro que não haveria mais o que fazer em relação ao resultado das eleições e que qualquer atitude, conforme as propostas, poderia resultar na responsabilização penal do então presidente da República”.

O ex-comandante da Aeronáutica relatou também que o general Freire Gomes ameaçou prender o ex-presidente caso levasse adiante uma tentativa de golpe de Estado.

“Em uma das reuniões dos Comandantes das Forças Armadas com o então Presidente da República, após o segundo turno, depois de o presidente Jair Bolsonaro aventar a hipótese de atentar contra o regime democrático, o General Freire Gomes afirmou que se caso tentasse tal ato, teria que prender o presidente da República”, afirmou.

Adesão

O ex-comandante da Aeronáutica ainda garantiu que o chefe da Marinha, Almirante Almir Garnier Santos, colocou tropas à disposição para atender ao pedido de Bolsonaro numa reunião com ex-ministro Paulo Nogueira.

Na ocasião, tanto Freire Gomes quanto Baptista Júnior teriam se recusado a ver a minuta que estava na mesa do ex-ministro da Defesa.

“Que em uma das reuniões com os Comandantes das Forças Armadas, dentro do contexto apresentado pelo então presidente Jair Bolsonaro de possibilidade de utilização da GLO, o Almirante Almir Garnier afirmou que colocaria suas tropas à disposição de Jair Bolsonaro. Que tal posição foi dissonante dos demais Comandantes (Exército e Aeronáutica)”, diz o ex-comandante no depoimento.

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