Universidade Federal do Ceará concede diploma póstumo a Bergson Farias
Vítima da ditadura no Araguaia, militante do PCdoB e estudante de química foi morto em 1972. Entrega da titulação aos familiares acontecerá na próxima sexta (16)
Publicado 14/05/2025 19:09 | Editado 14/05/2025 19:10

A Universidade Federal do Ceará (UFC) concederá o título de graduação post mortem a Bergson Gurjão Farias, aluno da instituição e militante do PCdoB morto por agentes da ditadura militar há mais de 50 anos, na região onde ocorreu a Guerrilha do Araguaia, no Sul do Pará.
A titulação póstuma do ex-estudante de química foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Universitário em dezembro de 2024, quando também foi inaugurado o Espaço Cultural Bergson Gurjão Farias. O evento acontecerá nesta sexta-feira (16), véspera do seu aniversário, às 17h30 na Concha Acústica da Reitoria e será aberto ao público.
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“Bergson tinha aquele idealismo, uma consciência cívica muito grande. Quando ele desapareceu, depois que a gente soube da morte dele, foi aquela dor. Mas foi uma dor que a gente sabia que foi a escolha dele, que ele não fez nada disso sem pensar; era ele, a consciência dele”, descreve a irmã Ielnia Farias Johnson, de 79 anos, que reside nos Estados Unidos e que estará na homenagem, juntamente com outros familiares e membros do PCdoB.
Segundo Ielnia, “se ele tivesse terminado o curso e recebesse o diploma como todos os alunos, acho que teria sido o dia mais feliz da vida do papai e da mamãe. Para mim, vai ser muita emoção”.
Luta pela democracia
Nascido em 17 de maio de 1947, em Fortaleza, Bergson começou sua militância no movimento estudantil no final dos anos 1960, tendo sido vice-presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) na UFC. Em outubro de 1968, foi preso durante o 30º Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), em lbiúna (SP), quando acabou sendo expulso da universidade.
Em 1º de julho de 1969, foi condenado a dois anos de reclusão pela Justiça Militar. Com isso, passou a atuar na clandestinidade e mudou-se para a região de Caianos no sudeste do Pará, onde estava sendo preparada a Guerrilha. Lá, ficou conhecido como Jorge.
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Conforme aponta o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, tendo como base informações do dirigente comunista Angelo Arroyo, Bergson teria sido o primeiro militante da Guerrilha vítima de execução sumária, em maio de 1972, pelos agentes da repressão que estavam em campanha na região para acabar com a resistência do PCdoB.
Segundo o Memorial da Resistência de São Paulo, o então guerrilheiro José Genoíno afirmou que viu o corpo de Bergson com inúmeras perfurações, durante um interrogatório.
Identificação
Dos cerca de 70 militantes e camponeses que fizeram parte da Guerrilha do Araguaia e que foram mortos pelos militares, Bergson foi um dos únicos — assim como Maria Lúcia Petit — a ter seus restos mortais encontrados e entregues à família.
Os remanescentes ósseos foram achados em expedição feita à região em 1996 e identificados 13 anos depois por exame de DNA. Em 6 de outubro de 2009, os restos mortais de Bergson Gurjão foram transferidos de Brasília para Fortaleza em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), velado na Reitoria da UFC e sepultado no cemitério Parque da Paz. Quatro meses depois, em 21 de fevereiro de 2010, a mãe dele, Luiza, faleceu aos 95 anos.
Na semana passada, membros da Comissão Nacional Memória e Justiça do PCdoB e familiares de mortos e desaparecidos se reuniram com a ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo e trataram da necessidade de se intensificar o trabalho de resgate e identificação dos que tombaram na Guerrilha do Araguaia.
Com informações da UFC