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A militância vai definir o sucesso de nosso plano eleitoral, diz Sorrentino

Walter Sorrentino, Secretário Nacional de Organização do PCdoB, diz que a campanha eleitoral dos comunistas já começou e busca eleger pelo menos dois senadores e até 20 deputados federais, para aprofundar as mudanças iniciadas no primeiro mandato do presi

Entrevista com Walter Sorrentino, a José Carlos Ruy




Partido Vivo: A campanha começou em julho. Que características já podem ser visualizadas?
Walter Sorrentino: Cada campanha tem sua particularidade política, própria do quadro onde se inscreve. Esta já mostra algumas características importantes. Será uma campanha curta, concentrada. Isso se deve à nova legislação eleitoral, aliás à Lei Bornhausen, que conseguiu atrasar a campanha, porque mais uma vez se modificou as regras durante o jogo. Isso colocou obstáculos ainda maiores a uma campanha popular, buscando inibi-la. Na verdade, abriu caminho para as forças conservadoras para uma campanha ainda mais cara. São apenas 60 dias para esclarecer, motivar e mobilizar os eleitores.


Partido Vivo: A tendência é de dois turnos?
Walter Sorrentino: Deve-se estar preparado tanto para um segundo turno, quanto para buscar liquidar a parada no primeiro turno. Pesquisas não dirigem campanha e não podem motivar ânimo ou desalento. Elas são muito fluidas neste momento e é preciso estar muito crítico à forma como são concebidas. O pesquisador Nelson Breve demonstrou, no sítio Carta Maior, como a última pesquisa do IBOPE-Globo-Folha alterou a ponderação dos estratos pesquisados desfavorecendo Lula. O que não tem lugar é sentimento de salto alto. As conquistas populares nunca foram fáceis no nosso Brasil, mais ainda quando se trata da Presidência da República. E as forças conservadoras aliam sagacidade e crueldade sem par nessas horas.


Por outro lado, a disputa avulta também porque estão em jogo 27 governos estaduais, 27 Senadores e 513 deputados federais, que terão enorme papel em constituir maior governabilidade para o futuro governo Lula. Pode-se aquilatar, por exemplo, o peso que teria eleger, pela primeira vez, um governador do bloco de esquerda num estado como São Paulo.


O centro da tática é reeleger Lula para prosseguir com as mudanças




Partido Vivo:
Quais foram as diretivas apontadas pela Comissão Política Nacional do PCdoB sobre a disputa?
Walter Sorrentino: Estamos situados com clareza nesse quadro. Visamos sustentar o centro da nossa tática: reeleger Lula para dar seguimento e aprofundamento às mudanças iniciadas. O governo Lula terá grande papel histórico em integrar socialmente a população brasileira – marginalizada por sucessivos modelos concentradores de renda, ao lado de integrar o continente sul-americano e de ter estabelecido bases poderosas para retomar investimento, diversificar a matriz energética e muitas obras mais. O que a direita conservadora visa derrotar é essa possibilidade que se abre, sob condução de forças avançadas da nação brasileira. A campanha Lula e sua mensagem são a ponta de lança do debate que os comunistas querem levar aos eleitores, buscando, ao mesmo tempo, o voto em seus candidatos ao governo, senado e deputados comunistas.




Uma característica distintiva é que é uma campanha à reeleição, com Lula na condição de Presidente, combinada com a de candidato. E vai ser uma eleição altamente polarizada. Não nos enganemos sobre isso: nada justifica espírito rotineiro. Talvez seja uma das eleições mais importantes de todas as que vivenciamos desde a redemocratização. Porque está clara a radicalidade imposta à disputa pela direita conservadora, desde o início da crise política. Eles visam barrar as mudanças, truncar a marcha por um novo projeto nacional de desenvolvimento, desmoralizar a esquerda, fazer vingar o preconceito contra um homem do povo governar o país. Hoje não têm tanques à sua disposição para vergar a democracia e participação popular, mas está a seu serviço o grosso dos meios de comunicação, cujo papel é muito poderoso, sem falar no poder econômico. Tudo isso à revelia de qualquer controle social! Hoje, por exemplo, é claro o comportamento da mídia, quase como um todo: só pautas negativas sobre a atividade do presidente-candidato. Estão sendo inescrupulosos a ponto de tentar jogar esquemas criados por eles, no Ministério da Saúde do governo FHC, para o atual governo que, aliás, foi quem lancetou o tumor!


Lula de novo, com a força do povo


Partido Vivo: E as condições de largada, como estão?
Walter Sorrentino: A partida foi positiva. Lula se fortaleceu nos últimos meses, mas ainda se deve suar muito a camisa para liquidar a parada. A mensagem de campanha, realçando “Lula de novo, com a força do povo” sintetiza de forma acurada o que está em jogo. Está instalado o Comitê Central da campanha, conclui-se a elaboração de um programa para o segundo mandato (com convergência entre o governo e os partidos da coligação), e estão sendo elaborados os materiais de campanha. Uma agenda de Lula para uma campanha popular já está em curso. É preciso acentuar o significado de uma engenharia política competente, para atrair outros aliados nos estados, no todo ou em parte, formar conselhos políticos suprapartidários em cada estado para coordenar a campanha presidencial, integrando forças, buscando simpatia ou neutralidade para Lula em outros palanques estaduais. Numa campanha tão disputada, é na política que se perde ou se ganha.


Há um conjunto substancial de apoio nas candidaturas nos Estados, seja a governador e senador, seja nas chapas de federais. PT e PCdoB estão coligados em todos os 27 estados. Em 16 deles está também o PSB e em 6 o PMDB, como foi o caso bem importante de Minas Gerais. Essas coligações PT-PCdoB, somadas àquelas onde o PSB encabeça, podem chegar ao governo em até 11 estados, no primeiro ou segundo turno. Em outros Estados contamos com outras forças, particularmente do PMDB. Este partido, isoladamente, é o que pode conquistar maior número de governos, de doze a quinze, dos quais pelo menos 9 apóiam Lula direta ou indiretamente. Claro que o bloco de oposição PSDB e PFL está forte nessa disputa, disputando até 17 governos de estados, como expressão do quanto é preciso acumular forças e aprofundar mudanças para alterar o quadro político eleitoral do país.




O PCdoB quer eleger dois senadores e até vinte deputados




Partido Vivo:
E quanto à campanha própria dos comunistas?
Walter Sorrentino: O PCdoB também já deu a partida em sua campanha própria, com algum atraso, dadas as dificuldades materiais e os esforços de montagem dos esquemas político-eleitorais. É perspectiva do Partido eleger pelo menos dois senadores e alcançar até 20 deputados federais. É possibilidade que pode ser realizada, se tivermos competência em equacionar alguns desafios.


Os comunistas tiveram tradição elevada de campanhas eleitorais quando estávamos oposição. Hoje, a coisa mudou, embora as mudanças no país recém se iniciaram. É preciso aprofundá-las. Por isso, a nossa experiência de campanha é ainda muito valiosa, porque os comunistas seguem sendo oposição ao atraso, à falta de direitos sociais, à falta de maior desenvolvimento econômico do país. Temos candidatos que dedicam a vida a um ideal, que é a construção de um país justo e desenvolvido, com oportunidade para todos. A transparência e lisura tem sido pilares da atuação de todos eles.




Partido Vivo: Quais desafios foram apontados?
Walter Sorrentino: Um deles é realizar uma campanha praticamente suprapartidária para nossos deputados federais, isto é, garantir que se efetivem dezenas de dobradas eleitorais que ampliem o horizonte de chegada da campanha. Isso se beneficia do esforço em ampliar o apoio à campanha Lula, com forças dispersas em diversas legendas partidárias. O outro é garantir recursos materiais para uma campanha extensa e volumosa. O que se trata é de compreender o nível do embate em curso no país, o nível das forças postas em movimento na disputa. Por isso, uma das responsabilidades maiores dos candidatos e dos principais dirigentes é exatamente sustentar esse esforço, com perspectiva política e concentração de esforços.


Partido Vivo: E quanto à campanha propriamente dita?
Walter Sorrentino: O decisivo é uma campanha de massa. No caso, realça o peso dos redutos eleitorais. Deve se concentrar todas as energias em reforçar a votação nesses redutos, onde temos trabalho concentrado, sobretudo nas regiões metropolitanas onde é maior a concentração de eleitores. Isso indica a ponderação da agenda de campanha dos candidatos, e também o peso da militância na campanha, que deve ser capaz de tensionar a atividade de campanha mesmo na ausência deles. Do mesmo modo, reforça a necessidade de um forte visual dos candidatos e muitos carros de som para uma atividade permanente nas cidades. Portanto, devemos saber fazer uma campanha permanente, mesmo na ausência do candidato – seja Lula, sejam os(as) candidatos(as) a governo e senado, sejam os próprios candidatos a deputados pelo Partido. Campanha não é só agenda do candidato, mas o apoio regular e persistente de um conjunto de apoiadores. Por isso, a força militante do Partido é um trunfo importante e mesmo decisivo para a vitória.


É preciso haver rigor no cumprimento nas normas eleitorais


Partido Vivo: Em que sentido a campanha deve ser trabalhada?
Walter Sorrentino: Campanha é material, movimentos políticos, atividades variadas, agenda dos candidatos. Coisas decididas com clareza e determinação em realizá-las. A cada semana, uma nova equação está montada – é preciso ultrapassar os mil e um problemas que se colocam a cada momento para enfrentar os novos que se apresentam. Não se pode olhar muito para trás – o tempo é curto. São apenas 60 dias, período que permite estabelecer uma agenda estratégica pré-concebida, ordenando o tempo a dedicar a cada área ou setor. O fundamental é chegar ao povo. Lembrar sempre que não é material de campanha que conquista votos, mas sim quem os distribui.


O segundo aspecto é o rigor no cumprimento nas normas eleitorais, extremamente restritivas e em alguns casos arbitrárias. Há muitas novas regras restritivas de campanha este ano, que em alguns casos desnorteiam. É preciso um forte esquema jurídico para impedir manobras e tentativas de impugnar atividades de campanha. E, por fim, têm enorme peso que os programas de TV na campanha, o que motiva atenção especial de quadros experimentados e negociações no seio da coligação, garantindo no mínimo o tempo próprio do PCdoB.




Partido Vivo: Para finalizar, que expectativas se podem alimentar neste momento?
Walter Sorrentino: De certo modo, campanha eleitoral é uma química que se estabelece entre o eleitor e o candidato. Ela ainda não está muito cristalizada, porque o quadro é ainda muito fluido para a maioria da população, o que torna os prognósticos muito precoces por ora, particularmente para candidatos a deputados. Neste momento, a polarização, que organiza o debate político eleitoral, está centrado na imagem de Lula, presidente e candidato. Quando engrossar o caldo de campanha de rua, com o programa de TV, com os candidatos a governos, senado e deputados, poder-se-á ter uma idéia mais clara do tipo de comportamento do eleitor, particularmente quanto aos deputados e às fortes denúncias que afetam muito deles hoje.


Aliás, os comunistas nesta campanha devem elevar bem alto sua voz no tocante a uma maior democratização do sistema político-eleitoral no país. Porque a crise política que motiva o denuncismo hipócrita da oposição conservadora é a crise do sistema político criado por eles, com o financiamento privado de campanha e sem fidelidade partidária, que esvaziam o sistema partidário e criam o mercado de legendas no país. Uma reforma política democrática, verdadeiramente garantidora do pluripartidarismo democrático que o país precisa, é uma exigência incontornável. É, aliás, compromisso de um segundo mandato de Lula colocar em pauta esse debate no Congresso Nacional.




Os comunistas têm por que alimentar expectativas positivas. O PCdoB cresceu, aumentou seu prestígio, seus quadros fazem diferença no cenário político, esteve inteiramente isento de quaisquer imputações éticas. Tomou um lado bem definido no enfrentamento político dos últimos anos, e ao mesmo tempo manteve suas posições próprias. Crescendo, o PCdoB ajuda o Brasil. O eleitor reconhecerá esses méritos se formos capazes de chegar a ele aos milhões, com mensagens claras e diretas e um incansável trabalho militante. Aliás, campanha é um termo derivado da guerra. O que estava organizado para tempo de paz, precisa se modificar para o tempo de campanha: descanso, agora, só depois de outubro. A militância define o sucesso de nosso plano eleitoral.