Saudades de Pomar, Arroyo e Drummond

Por Péricles de Souza*

Em setembro de 1976, há 30 anos, encontrei-me com Pedro Pomar, em São Paulo. Estivemos um dia inteiro num “aparelho”. Debatemos a situação política e passamos em revista estado por estado que eu “acompanhava” no Nordeste. Na

Recebi do camarada “Mário” texto da Comissão Política sobre as eleições municipais próximas. Seu conteúdo mantinha flexão já iniciada em 74 quanto à participação em eleições durante o regime militar: deveríamos apoiar candidatos progressistas. Pomar só tinha um exemplar datilografado do texto e eu precisava levar uma cópia. Fizemos uma manuscrita, metade ditada por ele e escrita por mim, metade o contrário. Tenho este texto em “papel pautado” mas não consigo encontrá-lo. Algum  jovem pode estar perguntando: e por que não tiraram Xérox?


 




Ao nos separarmos ele comunicou-me da reunião do CC prevista para dezembro. Dei-lhe número de telefone em Salvador para onde eu viria dia 8/12 e receberia telefonema codificado indicando a data exata da reunião. Em São Paulo “faria ponto”andando no Viaduto da Biblioteca do Tatuapé onde seria encontrado, provavelmente por Sérgio Miranda, que me levaria a Elza Monnerat e esta ao local da reunião.


 




Dia 8 vim a Salvador e hospedei-me, clandestino, na casa da Pituba para aguardar o telefonema de Pomar mas os telefones do Parque Jardim da Luz estavam mudos e a Telebahia realizava obras no local. Passados dois dias retornei a Aracaju. Dia 16, à noite, soube da “queda da Lapa” pela voz de Cid Moreira.


 




Convivi com os três mortos da rua Pio XI (Pioxi como dizia Drummond). Guardo deles a imagem de pessoas absolutamente dedicadas à luta do povo, de grandes dirigentes comunistas, de homens íntegros.


 




Fazem muita falta.


 


 




Em tempo:


 




Fac-simnile de documento da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo publicado no livro de Wladimir Pomar, com a biografia do pai, indica que a repressão sabia da presença de Pedro Pomar na reunião da Lapa. Isso contraria avaliação anterior de que a repressão imaginava Pomar no exterior e Amazonas na casa da Lapa.


 




Durante muito tempo intrigou a direção do Partido o fato de a identidade fria de João Amazonas, de conhecimento de pouquíssimas pessoas, ter sido descoberta pela repressão após a queda da Lapa. Até que João lembrou-se de ter feito radiografias usando aquela identidade e de que os filmes estariam na casa.


 




Estavam na casa também intervenções escritas por vários membros do CC sobre a guerrilha do Araguaia. O procedimento de escrever as intervenções foi adotado face à complexidade da discussão e ao fato de o CC se reunir em duas turmas por razões de segurança Precisamos encontrar esses escritos preciosos.




*presidente do PCdoB da Bahia