Saudades de Pomar, Arroyo e Drummond
Por Péricles de Souza*
Em setembro de 1976, há 30 anos, encontrei-me com Pedro Pomar, em São Paulo. Estivemos um dia inteiro num “aparelho”. Debatemos a situação política e passamos em revista estado por estado que eu “acompanhava” no Nordeste. Na
Publicado 15/12/2006 13:15 | Editado 04/03/2020 16:21
Recebi do camarada “Mário” texto da Comissão Política sobre as eleições municipais próximas. Seu conteúdo mantinha flexão já iniciada em 74 quanto à participação em eleições durante o regime militar: deveríamos apoiar candidatos progressistas. Pomar só tinha um exemplar datilografado do texto e eu precisava levar uma cópia. Fizemos uma manuscrita, metade ditada por ele e escrita por mim, metade o contrário. Tenho este texto em “papel pautado” mas não consigo encontrá-lo. Algum jovem pode estar perguntando: e por que não tiraram Xérox?
Ao nos separarmos ele comunicou-me da reunião do CC prevista para dezembro. Dei-lhe número de telefone em Salvador para onde eu viria dia 8/12 e receberia telefonema codificado indicando a data exata da reunião. Em São Paulo “faria ponto”andando no Viaduto da Biblioteca do Tatuapé onde seria encontrado, provavelmente por Sérgio Miranda, que me levaria a Elza Monnerat e esta ao local da reunião.
Dia 8 vim a Salvador e hospedei-me, clandestino, na casa da Pituba para aguardar o telefonema de Pomar mas os telefones do Parque Jardim da Luz estavam mudos e a Telebahia realizava obras no local. Passados dois dias retornei a Aracaju. Dia 16, à noite, soube da “queda da Lapa” pela voz de Cid Moreira.
Convivi com os três mortos da rua Pio XI (Pioxi como dizia Drummond). Guardo deles a imagem de pessoas absolutamente dedicadas à luta do povo, de grandes dirigentes comunistas, de homens íntegros.
Fazem muita falta.
Em tempo:
Fac-simnile de documento da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo publicado no livro de Wladimir Pomar, com a biografia do pai, indica que a repressão sabia da presença de Pedro Pomar na reunião da Lapa. Isso contraria avaliação anterior de que a repressão imaginava Pomar no exterior e Amazonas na casa da Lapa.
Durante muito tempo intrigou a direção do Partido o fato de a identidade fria de João Amazonas, de conhecimento de pouquíssimas pessoas, ter sido descoberta pela repressão após a queda da Lapa. Até que João lembrou-se de ter feito radiografias usando aquela identidade e de que os filmes estariam na casa.
Estavam na casa também intervenções escritas por vários membros do CC sobre a guerrilha do Araguaia. O procedimento de escrever as intervenções foi adotado face à complexidade da discussão e ao fato de o CC se reunir em duas turmas por razões de segurança Precisamos encontrar esses escritos preciosos.
*presidente do PCdoB da Bahia