A vida quadro a quadro
Saem no Brasil, biografias em quadrinhos do guerrilheiro argentino Che Guevara e do escritor tcheco Franz Kafka.
Publicado 06/01/2007 09:31 | Editado 04/03/2020 16:37
A biografia se estabeleceu como um dos mais produtivos filões do mercado editorial. Os quadrinhos, outra área que fez um up-grade de vendas, não ficaram de fora da onda e também fizeram sua contribuição. As mais recentes a chegarem por estes lados são ´Che – uma biografia´, de Kim Yong-hwe, e ´Kafka de Crumb´, de Robert Crumb e David Zane Mairowitz. Na lupa dos biógrafos visuais, os polêmicos Che Guevara e Franz Kafka.
Cada biografia segue caminhos tão distintos que dão testemunho da própria diversidade do quadrinho que vem sendo publicado no Brasil nos últimos anos.
De longe, “Che” vai ser confundido com um mangá. Entretanto, os mais atentos logo vão descobri-lo (corretamente) um manhwa, a quadrinho da escola coreana e, de fato, parente próximo das produções japonesas.
Na história, o autor faz um panorama ágil da vida de Che, partindo de seu nascimento e sua criação na Argentina às aventuras na América Latina e seu envolvimento com causas revolucionárias em todo o mundo. O livro transita entre o drama e o humor. Este último dá as cartas nas páginas finais de cada capítulo. Nelas, Kim Yong-hwe explica de forma despojada as principais situações e conceitos ligados à atuação do guerilheiro.
Por sua vez, a biografia de Kafka é uma espécie de história ilustrada (alternando páginas de prosa com desenhos). Entretanto, a diferença reside no simples -porém significativo – fato do tal ilustrador ser Robert Crumb. Ícone das histórias em quadrinhos underground norte-americano, Crumb ilustra com quadrinhos, onde recria passagens da vida de Kafka e de seus livros.
Apesar de seguro e elegante, o texto de Mairowitz fica em segundo plano quando divide espaço com a arte de Crumb. O quadrinhista consegue dar vida às neuroses de Kafka, estejam elas em seus diários (como nas muitas descrições de sua própria morte) ou em obras como “A metamorfose” e “O processo”.
Crumb é um mestre da autobiografia. Suas histórias costumam ser protagonizadas ou coadjuvadas por uma versão ilustrada de sua própria pessoa. Tanto que o Kafka de Crumb acaba se revelando uma espécie de alter-ego do próprio ilustrador, ele mesmo um neurótico de carteirinha.
Delano Rios, do Diário do Nordeste