CMS quer colocar povo na rua contra Bush no dia 8 de março
Por Carla Santos
Em entrevista ao Vermelho o presidente da Conam (Confederação Nacional das Associações de Moradores), Wander Geraldo da Silva, membro da Coordenação Nacional dos Movimentos Sociais (CMS), disse que o povo irá às ru
Publicado 09/02/2007 21:20
Wander disse ainda que Bush não é bem vindo ao Brasil. Para ele o Brasil não tem o que discutir com o presidente americano que busca estratégias para explorar riquezas brasileiras, e de outras nações, de forma unilateral. Para resistir ao imperialismo o presidente da Conam aposta na unidade dos países latino americanos pelo Mercosul e a ALBA e no fortalecimento do eixo sul-sul.
O militante da luta pela Reforma Urbana também declarou que é “simplismo querer comparar o processo que está acontecendo na Venezuela com o que está acontecendo no Brasil, aqui os movimentos sociais ainda sofrem com a década perdida de FHC”. Quando perguntado sobre quais motivos fazem com que em nosso país as manifestações contra a guerra e pela paz não tenham a adesão de milhões nas ruas, como acontece na Europa, Wander respondeu que o povo brasileiro expressa sua defesa da paz de diversas maneiras e que é possível fazer com que manifestações do tipo de rua cresçam ainda mais depois dos desgastes que Bush vem sofrendo dentro e fora dos EUA.
Leia abaixo a entrevista.
Dia 8 de março Bush visitará o Brasil para tratar da questão energética. Como a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) pretende recebê-lo?
Recebemos esta triste notícia da vinda do Bush na noite passada (8/2) e a idéia é discutir na pauta da CMS uma manifestação de repúdio a sua presença aqui. Ele não é bem vindo na nossa terra e nós não deixaremos passar em branco a sua visita, já que ela é contra os nossos interesses e contra a relação que o Brasil tem com outros povos, do qual o governo Bush é inimigo.
Além disso, dia 8 é o dia Internacional da Mulher, então já existe um processo de mobilização da luta das mulheres pelos seus direitos, contra o machismo. A Conam apoia essa luta e sempre jogou papel importante na sua construção. Nosso objetivo é unificar essas duas mobilizações em uma só. A melhor forma de combater a violência contra a mulher é combater a violência que o imperialismo pratica sobre os povos.
Isso significa que o caráter do dia 8 de março pode ser diferente?
Será muito maior. Significa um 8 de março na luta pelos direitos das mulheres, contra a violência que sofrem, contra o machismo e, acima de tudo, no combate à fome, à miséria e à morte que imperialismo promove e é o seu principal propulsor.
A CMS pretende realizar atividades preparatórias a estas manifestações?
A CMS tem a sua coordenação operativa que reúne-se uma vez por mês. Dia 16 de fevereiro (sexta-feira), ás 9hs na Sede Nacional da CUT, será a próxima reunião. A reunião já teria como alvo do debate o dia 8 em função do dia Internacional da Mulher, agora é preciso discutir como ajustar as novas características de repúdio a vinda do maior inimigo de todos povos. Defendemos o fora Bush do Brasil e de todas as terras.
Na sua opinião quais são as verdadeiras intenções da visita?
Penso que é arrogância e prepotência dele visitar o Brasil.O imperialismo norte americano tem como objetivo principal destruir as nações e os povos impedindo que a liberdade exista. Roubam as riquezas que as nações tem, e que deveriam de ser usadas pelo seu próprio povo, para fazer com que o capitalismo continue oprimindo e massacrando a soberania nacional a que os povos tem direito. Onde há resistência a isso os EUA utilizam da força bélica como fizeram no Afeganistão, no Iraque e como querem fazer com o Irã, com o nosso país irmão, a Venezuela, e com os demais países da América Latina que não concordam com essa linha.
O nosso país tem a sua realidade, a sua autonomia e ele [Bush] não é bem vindo aqui, ele veio fazer o quê aqui? Veio tentar retomar a discussão, na qual já foi derrotado, sobre a ALCA? Vem tentar debater a questão do nosso petróleo, das nossas reservas mineiras, da nossa água., ou a nossa liberdade de expressão que tem se manifestado no Fórum Social Mundial, no Fórum Social Brasileiro, na CMS? Essa é a visão fascista que o Bush representa. A vinda dele nada mais é do que uma provocação a unidade que existe na América Latina e que vem se fortalecendo entre os setores populares e democráticos anti-imperialistas.
Nós do movimento popular vamos colocar povo na rua para que as intenções norte americanas não logrem sucesso. Vamos anunciar essa visita a toda população como a vinda de um condenado por crime de guerra, como demonstrou a campanha realizada pelo Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade e Luta pela Paz) onde milhares de pessoas participaram de um julgamento que condenou Bush.
Alguns setores da grande mídia tem declarado que Bush prefere sentar com Lula ao invés de Chávez. O que você pensa sobre essas opiniões?
Primeiro que na nossa opinião não devemos ter nenhuma relação com o governo imperialista de George Bush porque da parte dele não há nenhum respeito conosco e nem com outras nações. Segundo, o que se quer é dividir aquilo que vem sendo construído com muita unidade. Quem é Bush para preferir sentar com um país ao invés de outro. O que é preciso é fortalecer a unidade dos países Latino Americanos pelo Mercosul, pela a ALBA e o eixo sul-sul.
Agora é preciso dizer que a co-relação de forças no Brasil e diferente da que se dá na Venezuela. A situação na Venezuela é diferente da do Brasil. A forma como se deu a tentativa de golpe lá fez com que o nível de rejeição ao imperialismo fosse muito mais forte do que no Brasil. O Chávez na Venezuela tem consolidado mais avanços do estamos consolidando aqui porque lá existe uma co-relação de forças no movimento social favorável ao processo da Revolução Bolivariana. No Brasil acabamos de sair de uma eleição onde pelo menos 40% votou naqueles que nós chamamos os “ofice boys” de Bush que são as candidaturas tucanas. Aqui as camadas sociais são muito mais divididas do que na Venezuela. O movimento social tem avançado, mas é preciso ainda unificar as bandeiras dos movimentos. È simplismo querer comparar. A chave do problema é unificação das lutas latino americanas através da mobilização.
Depois das invasões estadunidenses aos países árabes milhões de pessoas foram as ruas na Europa motivadas pela bandeira da paz. Aqui no Brasil a adesão foi grande mas não o suficiente para mobilizar milhões. Você acha que no Brasil há uma certa subestimação da luta pela paz?
Eu acho que na Europa a adesão é maior pela experiência que o continente já viveu com relação a guerra. Aqui no Brasil as guerras sempre estiveram a uma certa distância, por isso nosso povo ainda não tem essa concepção, essa clareza. O próprio nível de mobilização aqui passa por um estágio de enfrentar a resistência da década passada de neoliberalismo.
Estamos num crescente agora, mas ainda buscamos ressurgir de um período de grande enfrentamento. Sofremos grandes derrotas nos últimos dez anos, período FHC. Contudo, penso que nosso povo, se não expressa coletivamente na rua, expressa de forma individual ou de maneira muito localizada a sua rejeição ao espírito da guerra que Bush promove no mundo. O povo brasileiro ama a paz e a propaga através da solidariedade e da união entre os povos, tanto é que no Brasil existem colônias árabes, asiáticas, africanas, européias que vivem há mais de um século aqui. Então nem sempre essa relação se expressa em uma passeata. É claro que nós queremos fazer esse espírito evoluir, avançar.
As passeatas que aconteceram no nosso país, independente do número de pessoas presentes, foram recebidas com grande simpatia e apoio popular que construiu sim uma relação de forte insatisfação com o imperialismo, assim como em todos os lugares do mundo. É perfeitamente possível mobilizar uma passeata muito maior no dia 8 do que as que aconteceram em outros períodos.