Visita de Serra a menina baleada é 'hipocrisia', diz PM
A visita do governador José Serra à menina Priscila Aprígio Silva foi “hipocrisia” para Jefferson Patriota, presidente da Associação dos Policiais Militares Portadores de Deficiência Física do Estado de São Paulo.
Publicado 06/03/2007 18:21
A garota, de 13 anos, ficou paraplégica depois de levar um tiro durante um assalto a uma agência bancária no bairro do Ibirapuera, zona Sul de São Paulo. Serra visitou Priscila no sábado, ofereceu tratamento no Hospital das Clínicas – o maior complexo hospitalar da América Latina, onde pacientes aguardam por meses uma vaga para atendimento.
– Se ele não cuida nem do quintal dele, vai querer cuidar da vida dos outros?
Patriota, PM que ficou paraplégico após ser baleado em serviço, se refere à falta de assistência do Estado de São Paulo aos PMs vítimas de tiros ou outros acidentes de trabalho que ficam em situação como a de Priscila e não recebem assistência governamental.
– Não é dado nada. É tomado.
O policial afastado do serviço por problema de saúde, afirma Patriota, perde os adicionais que recebia quando estava na ativa. Isso porque o governo considera que o PM só tem direito a ganhar, por exemplo, o Adicional Operacional de Localidade – determinado pela periculosidade da área onde o policial atua – enquanto está nas ruas. Se for baleado e tiver que sair da patrulha, ele perde o direito.
A assessoria de imprensa do governo do Estado afirma que o governador não fez promessas para Priscila, e que apenas levou até o hospital a dra. Lina Mara Batistella, médica fisiátrica do HC.
Leia os principais trechos da entrevista:
Qual o auxílio dado aos PMs num caso como esse?
Jefferson Patriota – Não é dado nada. É tomado.
Tomado?
É, porque quando um policial se licencia por motivo de saúde ele perde cerca de R$ 900 do salário-base. Hoje, um policial da ativa ganha miseravelmente R$ 900 a mais do que o inativo. Se um policial fica inativo por conta de um problema de saúde ele perde alguns adicionais, como o Adicional Operacional de Localidade, e o salário dele, de R$ 2.500, cai para R$ 1.100.
E a postura do governador em relação a esse caso?
Quando o governador vai fazer um negócio desses em razão de uma ocorrência que teve clamor público é hipocrisia. Se ele não cuida nem do quintal dele vai querer cuidar da vida dos outros? Ele não está cuidando nem do funcionário dele…
O policial, então, não tem apoio?
Não tem nenhum apoio. Passou a ter alguns benefícios a partir de 1993, quando nós criamos a associação. O policial que se tornava deficiente físico era posto em quarto, quinto plano. Nem assistência para reabilitação, fisioterapia, existia.
E isso é feito hoje?
Hoje nós temos um centro de reabilitação e fisioterapia no Barro Branco, organizado pela entidade, não há participação ativa do Estado aí.
E o dinheiro para isso vem de onde?
Nós temos cerca de 20 mil policiais da ativa que são associados. Daí temos a verba para fazer o trabalho.
Não há apoio nem da Caixa Beneficente da Polícia Militar?
Nada, nenhum.
Quantos policiais são portadores de deficiência hoje?
São cerca de 3 mil. A cada ano cerca de 120 ficam inativos por problemas de deficiência. Desses, 5% ficam com invalidez permanente.
Fonte: Terra Magazine