Escandalo da “Moeda Verde”, leia a Entrevista com a Vereadora Angela Albino

“Resultados da operação moeda verde dependem da pressão popular”


A atuação de Angela Albino na Câmara de Vereadores tem o reconhecimento do povo de Florianópolis. Crítica e combativa, moldou um mandato de oposição construt

Qual o significado da operação Moeda Verde para a cidade e que impacto ela terá?


Angela – Florianópolis está sentindo na carne a saturação de um modelo que privilegia interesses econômicos e isso está expresso na especulação imobiliária. Hoje, é impossível compatibilizar o grande crescimento da cidade com essa forma antiga de fazer política, que entrou em colapso.


 


 


Quais as suas conseqüências, na sua opinião? 


Angela – As conseqüências virão na mesma medida da ação popular. Nós é que temos que nos mobilizar pra que chegue o dia em que um empresário sério possa entrar pela porta da frente de um órgão público e aprovar seu empreendimento se ele for saudável do ponto de vista ambiental. Eu não vejo a Câmara como espaço redentor, capaz de passar a limpo a cidade, como há expectativa. Foi uma ação de grande impacto, mas as forças que trabalham pra neutraliza-la estão aí, atuando, pra tentar levar pra um outro foco. A própria composição da CPI mostrou isso. Colocar o foco só na Câmara também é um equívoco, porque o executivo também foi protagonista. Só há um corrupto se há um corruptor e os dois devem ser tratados com o mesmo rigor da lei.


 


 


Como avalia a reação da população e dos órgãos institucionais frente às denúncias?


Angela – A Câmara cumpriu a parte que lhe cabe. Instituiu a Comissão de Ética e a Comissão Parlamentar de Inquérito, acionando todos os agentes mencionados pela operação. Mas os jornais já assumem um tom bem mais modesto nas suas linhas sobre esse tema. O governador recebeu um dos presos na Casa da Agronômica. Há uma tendência de classificar como pirotecnia a ação da polícia, numa tentativa de mascarar a situação, como se a polícia é que estivesse em julgamento. Então, os resultados vão depender da pressão da sociedade.


 


 


 


Você acredita na impunidade? Afinal, os empreendimentos irregulares não tiveram suas obras suspensas…


Angela – É um daqueles meandros da legislação que causam espanto. Como é que se prende alguém que licenciou o empreendimento, mas a obra continua? É uma coisa incompreensível que só encontra resposta nos labirintos da legislação ambiental, que é feita pra isso mesmo, pra criar confusão e facilitar negociata… Eu não acho que no Direito Penal, dentro do judiciário, vá haver impunidade. Mas o vereador apontado como chefe de quadrilha termina seu mandato daqui a um ano e meio. A justiça não vai ter uma resposta até lá e me preocupa que a Câmara aguarde a decisão judicial, o que vai corresponder a nada.


 


 


Que recado você deixa para população de Florianópolis?


Angela – Se é que tem um grande ensinamento de Marx é o de que nós somos os construtores da história. Eu espero que esse episódio deixe mais clara essa lição. A operação foi deflagrada pela Polícia Federal, mas iniciou com as denúncias do movimento social, que há anos dizia era errado construir em cima do mangue, que não podia construir o Costão Golf em cima de um aqüífero, por exemplo. O sentimento de insatisfação tem permeado toda a sociedade e a cidade de Florianópolis, desde os ambientes mais privilegiados economicamente até os mais empobrecidos. Precisamos buscar uma alternativa política e é nas eleições a gente pode fazer isso. É preciso organizar o movimento social, fazer a disputa de idéias e entrar nesses espaços institucionais. Neles, podemos dar uma resposta nova pra cidade, que concilie um modelo que não seja contraditório, conciliando desenvolvimento e meio ambiente. Afinal, essa é a nossa grande riqueza.


 


De Florianópolis


Por Ana Cláudia e Vinícius Puhl


Concedida ao “Jornal Camaradas” do PCdoB de Florianópolis