Flávio Aguiar: Guerra para terceiros
A terceirização da guerra no Iraque pelos Estados Unidos continua repercutindo na Europa depois das 11 mortes, com 14 feridos, provocadas pela empresa de segurança Blackwater, com sede na Carolina do Norte.
Por Flávio Aguiar, par
Publicado 21/09/2007 10:08
No dia 16 de setembro, domingo, mercenários armados da companhia de segurança Blackwater, com sede na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, mataram 11 pessoas no Iraque, depois de se envolverem em vários tiroteios durante o dia.
As mortes foram descritas de modo diferente: policiais, médicos e enfermeiros iraquianos descreveram-nas como sendo de civis. Um porta-voz da companhia declarou que as mortes se seguiram a um ataque contra um comboio de carros do Departamento de Estados dos EUA, de cuja segurança os guardas da Blackwater estavam oficialmente encarregados.
O episódio levantou nova celeuma sobre a participação de companhias de segurança privadas no Iraque, em funções tão vitais como a proteção do próprio embaixador norte-americano.
Um porta-voz do governo iraquiano, o general de brigada Abdul Kerim Khalaf,, declarou que a Blackwater não poderia mais atuar no Iraque. Mas o correspondente da revista Der Spiegel em Nova Yorque, Marc Pitzke, escreve que dificilmente essa determinação irá além das palavras, pois há uma crença generalizada entre oficiais e agentes do próprio governo norte-americano de que as atividades das forças de ocupação em geral seriam inviabilizadas caso essas companhias como a Blacwater fossem impedidas de atuar.
A Blackwater foi fundada em 1997 por um arqui-conservador norte-americano, Erik Prince. Oficialmente, como se lê em sua página na internete, sua “visão” é “apoiar a democracia, a segurança, a paz e a liberdade em qualquer parte do mundo”. Na prática isso significa que a Blackwater mantém mais de 2 mil soldados mercenários em atuação, 1.000 deles no Iraque.
A exasperação das autoridades iraquianas, além de mostrar sua impotência, vem do fato de que a atuação dos mercenários está acima de qualquer lei. Eles não podem ser julgados no Iraque, pois são membros de uma companhia norte-americana com funções definidas pelo próprio governo norte-americano. Muitos dos mercenários, no entanto, não são tampouco norte-americanos, o que lhes cria uma sensação de absoluta impunidade.
Desde sua atuação em terras iraquianas, que começou em 2003, sob um ato do governo norte-americano conhecido como Memorando 17, a Blackwater se envolveu em dezenas de incidentes graves, e teve muitas baixas porque seus membros são mais odiados do que os outros. Mas com a firme disposição de republicanos no Congresso norte-americano de, em maioria, apoiarem o governo Bussh, e com os democratas contemporizando na maioria à espera das próximas eleições, há pouca esperança de que algo de fato venha a ser feito para no mínimo controlar esses mercenários na maior guerra terceirizada que o mundo já viu, bem ao molde neo-liberal.