Sessão oficial de 'Tropa de elite' tem confusão e protesto
Em vez das bancas de camelôs, o mais luxuoso cinema carioca. Sob protestos contra a pirataria e confusão na porta do cinema, o filme Tropa de Elite foi exibido na noite desta quinta-feira (20), em sessão de gala que marcou a abertura do Festival
Publicado 21/09/2007 16:26
Com a sala lotada de atores e convidados, o dono do estabelecimento, Nelson Krunholz, mandou trancar a porta. O resultado? Muita gente ficou de fora. A assessora de imprensa do filme, Claudia Belém, foi uma das prejudicadas pela desorganização. Outra mulher, muito irritada, se apresentou como representante da distribuidora do longa no Brasil, a Paramount Pictures – mas também não conseguiu entrar e ficou no sereno.
A angústia das duas não durou muito. Cerca de 20 minutos depois, uma porta lateral se abriu, e elas puderam assistir ao filme que está sendo considerado a aposta do ano do cinema nacional. No tapete vermelho a polêmica era sobre quem viu ou não viu a cópia pirata.
A atriz Fernanda Machado, que interpreta Maria no longa e Joana, na novela Paraíso Tropical, foi a única que confessou ter assistido a uma versão de camelô. “Uma amiga comprou uma cópia pirata e me deu. É claro que eu assisti, conta ela sem constrangimento. “E o filme não pára na minha casa. Todo mundo quer ver.”
Com um vestido longo, a atriz Bruna Lombardi disse que não assistiu à fita por causa dos compromissos profissionais, mas que gostaria de ter visto. “Por que não? Pirataria não é indústria. Indústria é o cinema”, filosofa sob o olhar atento do marido Carlos Alberto Riccelli.
Reações distintas
Já o ator José Wilker demonstrou estar inconformado com a situação e disparou frases contra as pessoas que optaram por ver o filme pirata. “Eu tenho caráter. Faço questão de ter. Pirataria é a mesma coisa do que dar pro seu filho um prato de feijão podre”, alfinetou.
Luciano Huck também não aprova esse tipo de comércio. O apresentador defende que é hora de a indústria do cinema se abrir para discutir formas de facilitar o acesso das classes menos favorecidas às salas de projeção. “Devemos discutir o preço dos ingressos e facilitar o acesso aos cinemas”, argumentou.
Toda de vermelho, a atriz Betty Faria deu uma declaração otimista sobre a questão da pirataria. Para ela, tanto falatório sobre a produção dará bons frutos para a bilheteria. “Eu ainda não vi, mas ele está começando muito bem porque está tendo uma publicidade maravilhosa!”
Antes de as luzes se apagarem, todo o elenco subiu ao palco do Cine Odeon, para agradecer a presença do público. A diretora-executiva do Festival do Rio, Valquíria Barbosa, aproveitou para pedir que as pessoas “levantem a bandeira de não à pirataria”. Feliz com tanto alvoroço em torno do seu trabalho, o diretor José Padilha, comentou: “Finalmente mostrei o filme como eu queria”.
O festival
Foi apenas o começo da nova edição de um dos maiores eventos cinematográficos do país, que vai exibir mais de 300 filmes de 60 países em 30 locais do Rio de Janeiro até o dia 4 de outubro. Nos últimos anos, o Festival do Rio se notabilizou como a principal vitrine do cinema nacional, antecipando quais filmes merecerão atenção da crítica e do público.
Na edição atual, não deverá ser diferente, com uma seleção de grande força, com 34 longas e 24 curtas. Além de Tropa de Elite, alguns dos destaques devem ser Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho, primeiro filme do documentarista a utilizar atrizes profissionais em décadas (no caso, Fernanda Torres, Marília Pêra e Andréa Beltrão); Mutum, de Sandra Kogut, e A Via Láctea, de Lina Chamie, ambos exibidos com sucesso em Cannes; e os documentários Andarilho, de Cao Guimarães, e Rita Cadillac – A Lady do Povo, de Toni Venturi.
Mas a força do festival não se resume aos brasileiros. Na mostra Panorama do Cinema Mundial, a principal dedicada ao cinema estrangeiro, estão filmes como 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, do romeno Cristian Mungiu, Palma de Ouro em Cannes; Lust, Caution, do taiwanês Ang Lee, vencedor do Festival de Veneza, I Don't Want to Sleep Alone, do malaio Tsai Ming-liang; e Belle Toujours, do português Manoel de Oliveira.
A seleção americana também impressiona pelos nomes dos diretores envolvidos: Império dos Sonhos, do David Lynch; Paranoid Park, de Gus Van Sant; À Prova de Morte, de Quentin Tarantino; Sicko, novo documentário de Michael Moore.
Nesta edição, o país homenageado será a China, com 12 produções recentes, como A Maldição da Flor Dourada, de Zhang Yimou, e oito clássicos das décadas de 30 e 40, como This is My Life, de Shi Hui. Outros eventos especiais serão as mostras dedicadas à produtora da estilista francesa Agnes B., ao documentarista americano Stanley Nelson e ao mito do faroeste John Wayne.