Entrevista com Lázaro Costalonga, candidato a prefeito pelo PCdoB de Cachoeiro de Itapemirim
O ano de 2008 deverá ser histórico para o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) em Cachoeiro de Itapemirim, ES. Organizado na cidade desde o fim da clandestinidade, no início década de 80, a sigla trabalha firme para ter uma candidatura própria a prefeito.
Publicado 26/09/2007 13:24 | Editado 04/03/2020 16:43
Recém filiado ao PC do B, o comerciante Lázaro, de 45 anos, tem longo histórico dentro dos movimentos sociais e atualmente é um dos membros da coordenação estadual e também da coordenação nacional do movimento “Fé e Política”, ao lado do deputado estadual, Cláudio Vereza, e de gente de prestígio internacional como Frei Beto, Leonardo Boff, Pedro Ribeiro, entre outros.
De formação cristã, Lázaro reforça que a ida para um partido genuinamente de esquerda que prega a solidariedade e a igualdade entre as pessoas casa com aquilo que vem aprendendo ao longo da sua trajetória de vida. Ele coloca ainda que a sua pré-candidatura a prefeito tem por objetivo ser um “grito” da sociedade cachoeirense para que a cidade saia do “marasmo político-eleitoral” onde se encontra e não permita retrocessos eleitorais em 2008, ainda estes venham disfarçados de modernidade.
Em 2004 o senhor foi candidato a vereador pelo PT, sendo sua primeira participação em eleições. A sua pré-candidatura a prefeito não parece ser um passo ousado demais?
Lázaro – A minha ousadia é só o reflexo da ousadia do meu partido. Da ousadia dos jovens que compõem este partido aqui em Cachoeiro e em todo o Brasil. O PC do B é um partido com muita força no seio da juventude. Um partido que participou em outros tempos de todas as lutas importantes do povo brasileiro, pela fundação da Petrobras, contra a ditadura militar… e que mais recentemente conclamou os jovens às ruas para tirar o presidente Collor do poder. Partido que fez um exame crítico do socialismo mundial, e de suas crises, e estabeleceu dentro seu programa uma nova linha de construção de um modelo que leva em conta as características do povo brasileiro. Então quando resolvi me filiar, não servia uma sigla qualquer. Ela tinha que ser jovem, ética, sem mancha de corrupção, solidária e que visa o socialismo democrático como bandeira única para reestabelecermos uma nova ordem social onde o ser humano seja valorizado na sua plenitude.
Sim, mas queria insistir na pergunta: uma candidatura a prefeito não é algo muito grande para um partido pequeno?
A minha pré-candidatura está conectada a uma política maior que o partido está aplicando no país. Teremos muitas candidaturas a prefeito. Nesta semana a Comissão Política Nacional destacou lançamento de candidaturas a prefeito em 17 capitais de estado e em mais outros 335 municípios do interior do país, particularmente entre 82 dos 267 municípios com mais de 100 mil habitantes. Então esse é o nosso desafio: o crescimento.
Neste aspecto passa-se então a observar um distanciamento do PC do B em relação ao PT. Mas tratando especificamente daqui de Cachoeiro, por que o partido, aliado histórico do PT, partiu para candidatura própria?
Nada contra o PT de Cachoeiro, do qual sou oriundo e é um partido honrado. Nada contra a candidatura do Carlos (Casteglione) que é meu amigo pessoal. Mas a nossa pré-candidatura surge como uma alternativa genuína de esquerda para enfrentar o marasmo político que a cidade vive. Desde que Valadão assumiu em 83, o poder vem se revezando entre ele e Ferraço, com uma pequena interrupção com Zé Tasso, mas que também só virou prefeito porque Ferraço o fez. Então, nada contra Ferraço ou Valadão, mas essa polarização histórica dos dois tem sido, de certa forma, responsável pelo esvaziamento que a cidade atravessa. Brigaram muitos anos e ainda brigam e, enquanto um puxa de lá e outro de cá, Cachoeiro não avança. Posso até considerar o prefeito Valadão mais progressista que Ferraço, e posso até dizer aqui que os dois deram, e ainda dão, às suas maneiras, contribuição para a cidade, mas essas contribuições têm sido insuficientes. É preciso avançar. A minha pré-candidatura é grito contra tudo isso.
Mas, o Casteglione não representaria mais esse avanço?
Entre Ferraço, Valadão e Camilo Cola, ele ainda é mais progressista, mas pelo que se vê e se ouve, terá que se aliar ao PMDB para tentar ser prefeito. Isso impõe uma pergunta: como seria esse governo do PT e do PMDB? Um ornitorrinco.
Ornitorrinco? Por que?
Ornitorrinco é um mamífero que dá leite, mas não tem tetas, se parece com uma lontra, mas não é lontra. Tem bico de pato, mas não é pato. Tem rabo de castor, mas não é castor…ou seja, seria um governo estranho que não se sabe como será.
Qual a sua avaliação do Governo Valadão?
Não podemos misturar a história do prefeito com seu governo. É uma pessoa de bem, que combateu a ditadura militar enquanto muita gente que hoje se apresenta como progressista estava do lado dela, mamando nas tetas fartas dela. Valadão a combateu, assim como o seu irmão Arildo, que, aliás, somos o único partido na cidade que tem na sua Sede um quadro homenageando ele (Arildo) e o chamando de “herói do povo brasileiro”. Então diria que o prefeito deu sua contribuição, mas precisamos ir além de um governo que hoje está mal avaliado nas pesquisas. Se é mal avaliado é porque está, ainda que momentaneamente, reprovado pelo povo. E se o povo reprova, eu estou com o povo e reprovo também.
A pesquisa que hoje avalia mal o Governo Valadão é a mesma que diz que Ferraço pode ser o próximo prefeito. O que o senhor acha dessa possibilidade?
Uma tragédia. Uma lástima porque esse é pior do que todos os outros juntos. Ele é o principal culpado pelo atraso que a cidade atravessa. Com ele no poder perdeu-se a dimensão da autonomia dos poderes e hoje essa confusão de vereador querer ser pai de obras por toda cidade começou aqui com ele. Ele deturpou as funções do Executivo e Legislativo, misturou alhos com bugalhos, mergulhou a cidade no obscurantismo, realizou obras à sua maneira desordenadamente e sabe-se Deus como. Não sou eu quem digo isso. O exemplo está aí. Dia desses aqui neste mesmo jornal saiu uma matéria falando que o Ginásio que ele fez está interditado porque está com rachaduras. Mas não é só isso. Fez outras obras sem planejamento, à sua maneira. Uma delas até chega a envergonhar a cidade, e chegou a ser apelidada pelo deputado Camilo de “elefante branco”, porque, se não me engano, até foi inaugurada por ele mesmo, mas não funciona até hoje. Olha, essa obra, que me recuso de chamar de hospital, é mais vergonhosa para Cachoeiro do que a “torre de fazer chover”, que ele também, fez, porque a outra, ainda que tortamente, chegou a funcionar, mas essa obra do Aquidaban não funciona. É uma chacota. E vou além: por que ele não investiu mais na Santa Casa e no Hospital Infantil ao invés de querer fazer uma obra que me recuso a chamar de hospital…
Então essa história de hospital geral…
Veja bem. Isso tudo me parece muita falácia em cima de um assunto sério que é a saúde. Agora ele fica aí querendo envolver todo o sul do estado nessa discussão, mas por que ele não envolveu a sociedade quando pensou em fazer? Por que não reuniu os médicos da cidade e fez um conselho para avaliar o assunto? Não fez nada disso, criou da própria cabeça essa idéia, mas agora como fracassou, quer unificar a cidade em torno dessa história. Olha, se um dia tiver a graça de governar esta cidade, a Santa Casa será valorizada como nunca foi, um pouco por obrigação de governante mesmo, um pouco por necessidade de se investir em Saúde, e em parte como gratidão minha e de toda a sociedade pelo trabalho que ela realiza.
Mas ele (Ferraço) não deu, como o senhor mesmo diz “à sua maneira”, contribuições para a cidade?
Num todo, acho que ele prejudicou mais do que contribuiu. Até o seu ex-partido, o PTB, já colocou essa liderança dele em xeque. A própria presidente do PTB disse que ele não é liderança coletiva, mas dele mesmo, porque se fosse coletiva o partido teria crescido aqui na cidade, e não cresceu e ele perdeu o comando aqui. Então, é isso, ele é carreirista, só pensa nele e por isso prejudica mais do que contribui. Então, se próprio PTB reconhece isso, não serei eu a não reconhecer. A cidade agora precisa reunir suas melhores cabeças e precisa ser planejada, pela sociedade, por todos nós, precisa ser repensada. Essa será a minha contribuição. É isso que quero chamar a atenção nessa minha pré-candidatura.
O Camilo Cola também pode ser o candidato do PMDB. Como o senhor vê isso?
Com tristeza. Porque Camilo, que é um empresário bem sucedido com uma bela experiência de vida, deveria, primeiro, cuidar do seu mandato de deputado e depois dar outras contribuições à cidade dentro da sua área de atuação que é o ramo empresarial. Ele, por ser o único deputado aqui do sul do estado, deveria se conscientizar de que tem muito mais a contribuir do que ser prefeito de Cachoeiro. Ele deveria cumprir seu mandato até fim porque se sair para ser candidato vai abrir espaço para outro deputado do norte, que seria o Marcus Vicente. Sua candidatura deixa o sul do estado órfão em Brasília.
Fugindo um pouco da Majoritária, como andam as conversas para a chapa de vereadores?
Estamos trabalhando para ter chapa completa de vereadores. Ela está sendo composta de pessoas honradas e que atuam em movimentos sociais da cidade. Inclusive gente de perfil cristão que se filiou ao PC do B com este objetivo. Ainda temos espaços para novos nomes, mesmo já tendo mais de 20 pré-candidatos. Importante dizer que também estamos em entendimentos com outras siglas partidárias e não descartamos possíveis coligações.
Para encerrar, a partir de agora, com sua pré-candidatura posta, o que o senhor espera?
Espero que o povo compreenda que o Lázaro não depende de política para sobreviver, embora seja político nato. O meu perfil executivo, dentro do meu dia-a-dia, me permite ser uma nova opção para romper com o atraso e estabelecer um novo momento político em Cachoeiro. É para isso que me proponho. Para isso escolhi o PC do B.
Fonte: Atenas Notícias.