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Memorial sobre Guerra Civil divide libaneses

Ao longo da “Linha Verde” que dividiu Beirute durante a sangrenta guerra civil de 1975 a 1990 está um edifício marcado de balas — lugar onde se pretende erguer o novo “Museu da Memória”, em construção para contar a história da vida na capital durante os a

Mas depois de 17 anos do fim da complexa crise ainda existe desacordo sobre o tema. Autoridades libanesas e ativistas locais discordam de como representar a situação.



“Esse edifício deveria compreender todas as memórias, inclusive a guerra, ele deveria lembrar as pessoas de quantos morrera”, diz Mona Hallak, uma ativista a favor do projeto à al-Jazira.



“Você conhece? Sabe por que morreram? O que aconteceu? Qual é a história real da guerra?” pergunta ela.



Mas não existe ainda um consenso sobre o conflito, como também os textos de História do país ainda não tratam do controverso período da guerra.



Antoine Messaram, da Fundação pela Paz Civil, gastou muitos anos tentando concluir um estudo sobre a guerra e o seu legado, em uma tentativa de chegar a um ponto comum em relação à discórdia, mas o estudo dela jamais foi aprovado pelas autoridades.



“Historiadores acham um consenso em uma questão, mas os líderes não”, diz Antoine.



“Estudantes aprendem a respeito da guerra por meio de seus pais e de seus líderes políticos. Isso é perigoso”, completa ela.



Memórias dolorosas



Para incontáveis famílias espalhadas por todo o país, as feridas psicológicas e físicas dos 15 anos de guerra civil ainda permanecem abertas.



Mais de 17 mil libaneses permanecem desaparecidos. Acredita-se que muitos tenham sido raptados por milícias rivais libamesas, assim como por forças sírias e israelenses.



Maryam não vê seu filho Maher desde 1982. Quando ele completou 16 anos de idade tornou-se membro do Partido Comunista, e sua mãe disse que ele era muito jovem para saber o que estava fazendo.



Maher desapareceu durante o conflito e Maryam não foi capaz de achá-lo ou ao seu corpo.



“As autoridades nos ignoram e querem que fiquemos em silêncio”, diz Maryam. Eles dizem que se abrirem os arquivos estourará uma nova guerra”.



“Eu não acredito nisso. Acho só que não é do interesse deles resolver esse problema”.



Muitos dos atuais líderes políticos do país foram líderes de mílícias durante a guerra e qualquer ação que possa criar turbulência política é vista com desconfiança.



Em 1991, uma anistia geral foi decretada para aqueles que teriam praticado crimes por motivos políticos, prevenindo assim a abertura de processos contra membros e líderes de várias milícias.



Christine Rechdane, uma autoridade do Comitê Internacional da Cruz Vermelha na região, disse que essa medida evitou que as autoridades encarassem o problema com seriedade.



“Um comitê governamental afirmou que encontrou várias valas comuns mas eles não dizem nada a respeito disso. A questão não foi tomada com seriedade”, diz ela.



Alguns libaneses dizem que tem sido feito um grande esforço para esquecer todos os traços da guerra, mas o futuro do Líbano continua tão incerto como seu passado, já que o país atravessa hoje a pior crise política desde o fim do conflito há 17 anos.