Perpétua reúne instituições para salvar Rio Acre

 “A questão não é ambientalismo exacerbado. Dependemos muito mais do Rio Acre, do que ele de nós. É portanto uma questão de sobrevivência mútua”-Perpétua Almeida (PcdoB-Ac).


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Partindo desse princípio a deputada Perpétua Almeida do PcdoB , convocou uma reunião com todas as instituições e organismos ligados a questão ambiental.                                                                                                                       A reunião que acontece na próxima segunda-feira às 14:30, na sala ambiente do departamento de Geografia da Ufac objetiva criar um grupo de trabalho envolvendo cientistas da natureza e sociais para o desenvolvimento de um trabalho emergencial. “ São ações para ontem. Desde a década de 1980, os cientistas alertam para a possibilidade da extinção do Rio Acre enquanto permanecemos inertes, vendo a cada ano que passa seu volume diminuir”, disse a deputada que envolveu especificamente nessa luta, o departamento de Ciências da Natureza e o Mestrado em Ecologia da Ufac.      Historiadores e geógrafos garantem que os primeiros desbravadores que  chegaram à região em grandes navios contemplaram deslumbrados uma floresta de imensas árvores e animais de todas as espécies. Elas formavam um corredor verde que ladeava o Rio Acre, antes robusto, profundo e largo. Uma paisagem que em nada se assemelha à atual.                                                                                                                    Esse mesmo rio era a única via de acesso para o transporte dos produtos que abasteciam os primeiros povoados que se formaram na área  da Gameleira. Porém, a ação do homem ao longo dos tempos causou mudanças drásticas nesse cenário, que em nada lembra o cartão-postal que encantou os primeiros forasteiros  que aqui chegaram.                                                                                                               


Dados do departamento de ciências da natureza, da Universidade Federal do Acre, revelam que a calha do Rio Acre estreitou 8 metros nos últimos 10 anos e a profundidade de seu leito vem se tornando menor a cada verão.
 Locais onde até a metade da década passada navegavam  embarcações de médio porte nesta época do ano, hoje estão tão rasos que é possível atravessar o leito andando.                          De acordo com estudos realizados principalmente na Ufac, a  intensa ocupação das margens,  acarretou efeitos danosos à bacia hidrográfica do Rio Acre. Tais efeitos transformaram o rio em um problema durante o ano todo. Ou porque irá causar alagações, no período do inverno amazônico, de novembro a março, ou porque irá secar e deixar as áreas urbanas sem abastecimento de água, no período de verão amazônico, de abril a outubro. Nesse período, o Rio Acre retoma todos os anos, época de forte estiagem e queimadas, o seu processo de morte lenta., o que é sentido com grande intensidade principalmente pelas famílias ribeirinhas, que têm o Rio Acre como principal via de acesso para o transporte de seus produtos até os mercados da capital.                                                                                                 Muitos deles passam até dois dias inteiros dentro de barcos e batelões para se deslocar de seus seringais e colocações até Rio Branco nessa época do ano, quando o tempo máximo gasto para fazer o mesmo percurso durante o período chuvoso é de no máximo quatro horas.                                                                          “ Esse Rio não é só um Rio, ele é o mais importante do mundo para as milhares de pessoas que dele dependem, ou seja, todas as pessoas que habitam a chamada  Mesorregião do Vale do Rio Acre que envolve 13 municípios,  sendo 11 do estado do Acre e 02 do estado do Amazonas. Em território acreano, abrange  os municípios de Porto Acre, Acrelândia, Bujari, Senador Guiomard, Rio Branco, Plácido de Castro, Capixaba, Xapurí, Brasiléia, Assis Brasil e Epitaciolândia e, na área pertencente ao Estado do Amazonas, encontram-se os municípios de Boca do Acre e Pauini. Além dos que fazem  fronteira com a Bolívia e Peru”, salientou a deputada.                                                                                                                                   Isso significa também que o Rio Acre recebe o esgoto dessas cidades. Segundo os pesquisadores pelo menos 8 cidades despejam seus esgotos sem nenhum tratamento, em vários pontos também de Rio Branco é jogada uma grande quantidade de esgotos no leito do rio, o que aumenta sobremaneira a poluição inclusive com óleo diesel, querosene, alumínio e graxa, principalmente  dos lava-rápidos, o que altera o PH da água.                                                                                                                             Além dos esgotos, residências são construídas nas proximidades dos barrancos do rio, contribuindo para aumentar o nível de contaminação do rio Acre,( inclusive com a proliferação de algas tóxicas que durante a noite capturam oxigênio), a única fonte de abastecimento de água da capital acreana, o que associado ao  avanço do desmatamento em suas margens, que provoca o aterro das vertentes de onde vem a renovação das águas, forma a situação atual do Rio e seu comprometimento futuro se continuar recebendo as mesmas agressões.                                                                                                 O rio Acre nasce em cotas da ordem de 300m. Seu alto curso, até a localidade do Seringal Paraguaçu, atua como divisa entre Brasil e Peru e deste ponto até Brasiléia entre Brasil e Bolívia. A partir daí, adentra em território brasileiro, percorrendo mais de 1.190 Km, desde suas nascentes até a desembocadura, na margem direita do Purus, na cidade de Boca do Acre, e, mesmo com todos os problemas que vem apresentando, ainda é o lazer de muita gente. Seja para os que gostam de apreciá-lo no calçadão da Gameleira, onde diversos bares e restaurantes funcionam e as pessoas vão fazer caminhadas, seja para passeios de barco, ou de diversão para as crianças que vão nadar em suas águas barrentas. Uma tradição que tende a se extinguir junto com o Rio, ficando na lembrança coletiva, como ficou na memória do poeta acreano J. G. de Araújo Jorge:


( ó meus barcos de sonho, em rios de sombra que               ainda hoje correm sem margens, no tempo)


Onde estás Rio Acre, de Rio Branco


vermelho que o tempo azulou,


Que corres para a distância


E que foges de mim ?


Rio Acre da minha infância


Que sempre vais de onde vim…”


 


 


“ Não podemos permitir que as águas barrentas do Rio Acre que sustentaram nossas vidas e de nossos antepassados se transforme numa imagem esmaecida em nossas memórias, apesar da beleza inspirada do poeta. Vamos agir, e, logo para tentar salvar o Rio Acre, que na verdade é nos salvar, porque muito mais do que  ele depende de nós, nós dependemos do Rio Acre”, concluiu a deputada.                        De  acordo com acompanhamento  que vem sendo realizado  desde a década de 1970, o nível das chuvas que é fundamental para o nível do Rio Acre, diminuiu entre 20% a 30% até o final do ano passado, como conseqüência tanto  do aquecimento global como da queda da biomassa, o que comprova que  as ações em defesa do Rio Acre,  não podem se resumir a ações isoladas, que no fim das contas  não passam de paliativos. Apesar de emergenciais, as ações devem ser integradas e praticadas a curto, médio e longo prazo, afirmam os pesquisadores.                                                                                                                            “É por isso que estamos dando tanta importância e fazemos um apelo para um engajamento não apenas da  sociedade científica que já se dispôs a trabalhar junto com a gente, mas também da sociedade civil, nessa luta”, disse a deputada Perpétua Almeida (PcdoB), justificando a importância dessa 1ª reunião na segunda- feira 01 de outubro.