PEbodycount protesta marcando nas ruas os mortos de Recife
O blog PEbodycount, organização integrada por jornalistas, está protestando desde o início do mês contra a violência no estado. Eles desenham um corpo vermelho no chão do local onde ocorre cada uma das mortes no Recife. Nesta semana, a violência se tornou
Publicado 18/10/2007 14:27
Desde o dia primeiro de outubro, para chamar a atenção para a violência da polícia na periferia, o blog PEbodycount faz a contabilização do número de homicídios em Pernambuco.
''A mancha está no asfalto, no caminho. Lembrar dói, mas esperança. A marca vermelha é de homicídio, a nossa maior doença. No vermelho, cabe muito. Bem mais do que espanto. Cabe a cobrança, o incômodo, o beliscão nos poderes constituídos, o tapa na falta de compromisso, a desconstrução do discurso político, o abrir o olho e também o amanhã. Cabe o basta. A marca no chão é do tamanho da interrogação da criança de oito anos, moradora do bairro do Coque: 'É para dizer que morreu gente é?''', diz o texto do blog nesta quarta (17).
Segundo blog, a intenção do protesto é fazer com que as pessoas lembrem dos mortos no estado em função da violência.
''É sim. É para dizer que as pessoas precisam não esquecer. Lembrar que ali jaz o evitável. Não esquecer que estamos numa guerra. Aqui, as balas, as nossas balas de sempre, seguem a disciplina de um relógio suíço. De janeiro a agosto de 2006, foram anotados no Recife 712 homicídios. No mesmo período deste ano, o número ficou em 713. Uma morte a mais'', explica o texto.
O PEbodycount informa ainda que os oito primeiros meses de 2007 foram mais violentos quando se analisam os números de todo o Estado. Este ano, ocorreram 3.144 execuções, contra 3.012 de janeiro a agosto de 2006, um crescimento de 4,3% no número de homicídios.
''Pois bem. A marca na memória, que também atende por lembrança, é um dos maiores segredos da mobilização. Nesta nova caminhada do PEbodycount, descobrimos a mobilização do olhar. O marcador de homicídios quebrou a barreira da internet e chegou ao asfalto. Ampliou a difusão das nossas mazelas. Reconhecê-las é o primeiro passo. Queremos incomodar sim. Desde o dia primeiro de outubro, em cada local de homicídio do Recife há esta marca incômoda. Absolutamente em todos os locais. Não importa o endereço. Estaremos lá, cutucando a lembrança das pessoas. Quem não quiser olhar, desvie o caminho. Vamos continuar incomodando e construindo'', conclui o texto dos jornalistas.
Da tela para a realidade
Por ironia da vida e a convite do PEbodycount, Rodrigo Pimentel estava dando uma palestra sobre o filme, na Faculdade Maurício de Nassau, Zona Norte do Recife, no momento em que o agente penitenciário, de 39 anos, apareceu morto por um tiro no peito ao final de umas das sessões do Tropa no cinema do shopping Tacaruna.
Embora a Polícia Civil suspeite que tenha sido suicídio, o fato gerou polêmica no já badalado filme de José Padilha. Há quem defenda que o longa influênciou na morte de Ivson.
Em coletiva a imprensa na terça (16), o roteirista Pimentel, que também é capitão reformado da Polícia Militar do Rio de Janeiro e ex-integrante do Bope (Batalhão de Operações Especiais), disse não acreditar que a obra tenha causado a morte, Ivson.
''Entendo que o filme não foi o causador [da morte], mas pode ter sido um catalisador. O filme provoca introspecção, agonia e tristeza na sociedade e desperta esses sentimentos com mais intensidade nesses profissionais'', declarou.
Além de reforçar a tese de suicídio, Pimentel disse não sentir culpa.
''Não me sinto culpado. A tela retrata a violência da sociedade. A violência não sai da tela para a sociedade. Não motiva, não tortura, não assassina. É o inverso o que acontece'', concluiu.
O que é PEbodycount
Segundo o blog, ''o PEbodycount nasce da inquietação. Surge para transformar a perplexidade passiva, de um Estado de vidas abreviadas à bala, em sentimento de que é possível construir saídas coletivas.Acreditamos que não basta indignação. Os caminhos existem e descobri-los é uma missão difícil. Mas possível. É preciso iniciar o percurso.''
O PEbodycount se apresenta ainda como uma ferramenta para ajudar a trilhar esse desafio. ''Não queremos apenas contar cadáveres. Queremos também contar histórias e ajudar a mudar realidades'', acrescenta.
O blog é uma organização apartidária e sem fins lucrativos e busca ser um ponto de confluência de análises, críticas, denúncias e sugestões para implementação de políticas de segurança pública.
''O espaço aberto funciona, terminantemente, como um centro irradiador de cobrança diante do quadro de alarme. Cada morte registrada no contador alimenta a cobrança e, especialmente, a busca por saídas coletivas. A necessidade de utilizar o nome em inglês num Estado culturalmente tão forte se impõe ao fato de que o site une-se ao Riobodycount e Iraqbodycount, locais onde os mortos já começaram a ser contabilizados e divulgados diariamente na internet'', conluiu o texto do blog.
Quem faz o PEbodycount
Carlos Eduardo Santos – Formado em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco, Carlos Eduardo Santos (KK), 28, cursa atualmente especialização em Ciência Política na mesma univerdade. Vencedor dos prêmios Embratel e Vladimir Herzog de Direitos Humanos. Também foi finalista do Prêmio Cristina Tavares de Jornalismo por duas vezes. (csantos@pebodycount.com.br)
João Valadares – Formado em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco, João Valadares, 28, já recebeu os prêmios Vladmir Herzog, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Direitos Humanos e Embratel (duas vezes). Também foi finalista por três vezes do Cristina Tavares. (joao@pebodycount.com.br)
Rodrigo Carvalho – Formado em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco, Rodrigo Carvalho, 28, atuou como repórter em vários veículos de comunicação. Exerceu a atividade em jornais, revistas, televisão, rádio, internet e assessorias de imprensa. Ainda estudante, conquistou a terceira colocação nacional na 9ª Exposição de Pesquisa Experimental (Expocom), em 2002, na categoria documentário. (rodrigo@pebodycount.com.br).
Eduardo Machado – Formado pela Universidade Federal de Pernambuco, Eduardo Machado, 30, cursa atualmente Especialização em Políticas Públicas de Segurança, na Faculdade integrada de Pernambuco e Direito, na Universidade Católica de Pernambuco. Vencedor dos prêmios de jornalismo Esso, Embratel, Vladmir Herzog e Cristina Tavares com matérias sobre Direitos Humanos e Segurança Pública. (eduardo@pebodycount.com.br).