A estupidez da guerra

Por Enilton Gril


“Os Estados Unidos fizeram 228 intervenções sem mandato da ONU (…).
Com a ação da CIA, sete milhões de homens, mulheres e crianças perderam a vida, apenas entre 1949 e 1987″.
Johan Galtung, norueguês, especialista em qu

Eu só peço a Deus que a guerra não me seja indiferente, escreveu León Gieco e cantou Mercedes Sosa.


Afeganistão. Sete de outubro de 2001. As primeiras bombas foram jogadas sobre o solo afegão. Mais uma vez os Estados Unidos apertaram o gatilho da morte. Há seis anos teve início mais uma guerra na história do mundo. E quem quiser imaginar o que está em jogo na guerra é só pensar nas ruínas fumegantes do prédio da ONU, túmulo de quatro seres humanos que lutavam por um mundo melhor. As palavras não bastam.



A noite afegã já estava ferida de morte. Naquela guerra os verdadeiros objetivos do governo estadunidense ficavam muito distante dos acampamentos talibãs. Diante de uma ordem internacional em crise Washington queria mais que tudo, consolidar seu poder imperial sobre todos os outros. Somente tendo em vista este objetivo é que foi possível avaliar cada passo da ofensiva que teve o Afeganistão por teatro. Debaixo do nosso nariz e com o aplauso de muitos vimos a repetição da história.



Há seis anos foi o Afeganistão. Antes foi a Coréia, o Vietnã, Cuba, Nicarágua, México, o financiamento aos anos de chumbo no continente e mais recentemente o Plano Colômbia. Os bombardeios contra os afegãos espalharam seus efeitos também pelo resto do Terceiro Mundo. E qual será a bola da vez agora? Não precisa ter bola de cristal pra saber que a Venezuela está na mira. Parece até bangue-bangue, mas não é. Trata-se, porém de um bangue-bangue real, que se passa na grande tela planetária.


 


E o duelo acontece entre mocinhos superarmados e teimosos seres do atraso, mal saídos da Idade Média, a ponto de merecerem dos primeiros, que se dizem representantes da Civilização, o apelido de não-civilizados. Haveria, portanto, um confronto da Civilização contra a Barbárie. A bomba. E caso as bombas caiam sobre o solo venezuelano servirão, também, pra entupir os cofres da indústria cinematográfica dos Estados Unidos.


 


A guerra do Vietnã ainda não terminou. Pelo menos nas telas do cinema. E enquanto ‘eles’ não conseguirem mostrar pra todos nós que ‘ venceram’ a guerra a guerra vai continuar. Mas diferente do que costuma mostrar o cinema de Hollywood, com raras exceções, em 1973 um exército norte-americano derrotado abandonou o Vietnã. Essa guerra custou aos norte-americanos 50 mil mortos e aos vietnamitas mais de dois milhões. Mas o mundo conta até hoje o número de mortos nessa guerra como sendo 50 mil.



Para o mundo os vietnamitas são o quê então? Se a história não acabou, corremos o risco de ver um filme infinita e tragicamente repetido. Até por que, fora da tela grande, a imagem que corre o mundo é a daquela criança da foto correndo das bombas com o pavor estampado no rosto. Em oito de junho de 1972, um avião norte-americano bombardeou a população de Trang Bang com napalm. Ali se encontrava Kim Phuc e sua família. A menina foi levada para um hospital onde permaneceu por durante 14 meses sendo submetida a 17 operações de enxerto de pele. Hoje Pham Thi Kim Phuc está casada, com dois filhos e reside no Canadá onde preside a “Fundação Kim Phuc”, dedicada a ajudar as crianças vítimas da guerra e é embaixadora da UNESCO. Ela sobreviveu e se chama Pham Thi Kim Phuc.


 


Mas desta guerra restou também uma outra história. É a história de uma outra criança. Era uma criança de 13 anos, que antes da guerra escrevia versos e depois nunca mais. Essa criança atendia pelo nome de Ding-Hug Juglar. E essa é mais uma amarga história que nos conta a guerra. Qual será a próxima? 



Enilton Grill
Radialista e ativista cultural