Gravação da Polícia do DF expõe conflito entre Gim Argello e Roriz
“Não posso vacilar, isso vai ser um escândalo nacional”, afirma o senador Gim Argello (PTB) à jornalista da revista Veja, durante conversa telefônica gravada pela Polícia Civil do DF
Publicado 20/11/2007 15:16 | Editado 04/03/2020 16:42
Polícia Civil e o Ministério Público do Distrito Federal, através de interceptações telefônicas, descobriram uma conspiração planejada pelo senador Gim Argello (PTB) contra o ex-governador Joaquim Roriz (PMDB). Um plano da criatura contra o seu criador.
Através de gravações realizadas com sofisticados equipamentos eletrônicos, conforme autorização judicial nº 783389/2007 da 1ªVara (TJDF), a polícia soube que Argello teve encontros secretos com o editor chefe da sucursal em Brasília da revista Veja, Policarpo Júnior, e com o repórter Diego Escosteguy, também da revista Veja. Segundo as gravações, para conspirar contra Roriz, Argello chegou a viajar até o Rio de Janeiro para encontro com Policarpo Júnior. Depois, Argello foi a São Paulo para ser entrevistado por Diego Escosteguy.
Tudo isso foi apurado pela polícia através de conversas telefônicas interceptadas nos dias 26, 28 e 29 de setembro de 2007, material de investigação da Operação Aquarela.
A polícia monitorou os telefones 3315-7557 (da sala do jornalista Alexandre Oltramari, de Veja), 3315-7558 (do departamento de reportagem da revista Veja), 3315- 7554 (do escritório de Veja, em Brasília), 3329-8000 (do Blue Three Hotel) e 3429- 8000 (do gabinete de Gim Argello, no Senado Federal).
“Estive com o governador (Roriz) e ele me disse que recebeu uma carta ameaçadora”, disse Argello ao telefone em conversa com Policarpo Júnior.
“Da parte de quem?”, perguntou Policarpo. “Do Maurício Cavalcante, dono da agência Gimenez”, respondeu Argello. “Qual o conteúdo dessa carta?”, indagou Policarpo.
“Ameaçando ele (Roriz), dizendo que vai abrir o bico e falar toda a transação que foi feita com ele, dizer das notas que ele sacou no BRB. O governador (Roriz) não cumpriu um acordo com ele (Cavalcante) que tá puto da vida”, contou Argello ao telefone. “Vamos por tudo na revista logo então”, comentou Policarpo.
A partir de então, Policarpo designou um repórter de Veja, Escosteguy, para continuar os contatos com Argello. “Vou pedir pro Escosteguy entrar em contato com o senhor”, avisou Policarpo.
“Dinamite pura”, disse Escosteguy ao telefone, já em conversa com Argello sobre documentos repassados pelo senador.
“Tá vendo. Todo mundo ameaça o homem (Roriz)”, argumentou Argello.
“É muita chantagem em cima de uma pessoa só”, ponderou Escosteguy. “Bandido! Não tem mais onde por dinheiro”, acrescentou Argello.
“Tem de acabar com essa roubalheira sem fim deles (Roriz e aliados)”, continuou a falar o senador.
“O BRB não dura mais dois anos”, comentou Escosteguy.
“É saque toda hora de milhões, você checou a documentação e os extratos que lhe mandei?”, quis saber Argello. Sobre o caso, o DF Notícias
tentou mas não conseguiu entrevistar o senador Argello que, conforme documentos, teve suas conversas gravadas.
De sua parte, o jornalista Policarpo Júnior, de Veja, disse ao DF Notícias que “nunca falei com o senador Gim Argello”.
Policarpo Júnior nega que procurou Argello para
entrevista. “Isso é falso”.
Policarpo – “Alô!?”
Gim Argello – “Diga”
Policarpo – “Gim, é o Policarpo”
Gim – “Fala grande diretor”
Policarpo – “Como que vai ser? Tá confirmada a
entrevista?”
Gim – “Estive com o governador e ele me disse que
recebeu uma carta ameaçadora”
Policarpo – “Da parte de quem”
Gim – “Do Maurício Cavalcante, dono da agência
Gimenez”
Policarpo – “Qual o conteúdo dessa carta?”
Gim – “Ameaçando ele, dizendo que vai abrir o bico e
falar de toda a transação que foi feita com ele, dizer das
notas que ele sacou no BRB. O governador não cumpriu
um acordo com ele, e ele tá puto da vida”
Policarpo – “Vamos por tudo na revista logo então”
Gim – “Já pode marcar”
Policarpo – “Na academia?”
Gim – “Acho melhor em São Paulo”
Policarpo – “Vou acionar o pessoal de lá então”
Gim – “Pode confirmar e me deixa a par de tudo”
Policarpo – “Vou pedir pro Escosteguy entrar em contato
com o senhor”
Gim – “OK!”
Policarpo – “Então tá tudo certo, qualquer eventualidade
eu volto a ligar pro senhor”
Gim – “Até logo”
Transcrição da conversa, gravada em 28 de setembro de
2007, entre o senador Gim Argello e o repórter Diego
Escosteguy, da revista Veja:
Diego Escosteguy – “Alô! Gim Argello?
Gim Argello – “É ele, pronto!”
Escosteguy – “Gim é o Diego da Veja”
Gim – “Oi, tudo bem? O Policarpo me disse que você
ligaria”
Escosteguy – “Tudo em ordem. Tudo marcado no hotel
em São Paulo já, OK?”
Gim – “Os documentos que você pediu já estão comigo.
Vou deixar um envelope no bar Amadeus aqui no Blue
Three”
Escosteguy – “Tudo bem, então”
Gim – “É o tempo que chego em São Paulo. Não posso
vacilar isso vai ser um escândalo nacional”
Escosteguy – “Eu que vou fazer a entrevista”
Gim – “Eu sei. O Policarpo já tinha deixado tudo
acertado comigo, nós almoçamos ontem no Rio”
Escosteguy – “O senhor conseguiu saber sobre os
depósitos dos juizes do TRE?”
Gim – “Não foi depósito, foi transferência on-line”
Escosteguy – “OK!”
Gim – “Estive com o governador ontem. Ele tá levando
dura do juiz a toda hora”
Escosteguy – “É mesmo?”
Gim – “Tem de ventilar muita coisa do governador, caso
contrário não vai valer a pena todo o risco que eu tô correndo”
Escosteguy – “Por menos, muitos já foram pra cadeia”
Gim – “É o lugar dele lá, bem fechado. Bandido de
marca maior”
Escosteguy – “E a carta o senhor conseguiu cópia?”
Gim – “Tá tudo documentado já. Não se preocupe que
vai tá tudo no envelope no Amadeus”
Escosteguy – “Então, vou beber alguma coisa lá e pegar
envelope”
Gim – “Então fica combinado assim e quando eu chegar
em São Paulo entro em contato com você”
Escosteguy – OK! Até mais…”
Gim – “Até!”
Transcrição de outra conversa entre o senador Gim
Argello e o repórter Diego Escosteguy, da revista Veja,
gravada em 29 de setembro de 2007:
Diego Escosteguy – “Alô?!”
Gim Argello – “Oi, Diego”
Escosteguy – “Todos os documentos já estão no jurídico
para análise”
Gim – “Muita coisa né? Uma bomba!
Escosteguy – “Dinamite pura”
Gim – “Tá vendo? Todo mundo ameaça o homem”
Escosteguy – “É muita chantagem em cima de uma
pessoa só”
Gim – “Bandido! Não tem mais onde por dinheiro”
Escosteguy – “O BRB não dura mais dois anos”
Gim – “É saque a toda hora de milhões. Você checou a
documentação e os extratos?”
Escosteguy – “Tá no jurídico”
Gim – “Então tá. Tô indo pro aeroporto. Encontro com
você em São Paulo”
Escosteguy – “OK! Até logo”
Gim – “Tchau!”
Com informações do site: DF Notícias