Niemeyer defende ''uma vida simples, todos iguais, solidários''
No ano do seu centenário, o mundo volta a reverenciar e prestar diversas homenagens ao gênio da arquitetura: Oscar Niemeyer. Nesta quinta-feira (20) foi a vez do Congresso Nacional homenagea-lo. Lembrando que era um ser humano como qualquer outro, o arqui
Publicado 20/12/2007 15:35
Com feições tranqüilas e palavras suaves, Niemeyer disse que era difícil para ele, “de improviso, responder a essa homenagem tão exagerada, tão amiga. Afinal, sou um ser humano como outro qualquer, sem menor importância, que olha para o céu e sabe como somos pequeninos nesse mundo difícil de viver. Mas tenho procurado manter o meu caminho no sentido de um mundo melhor, todos de mãos dadas. Que a gente tenha uma vida mais fraternal, que as pessoas se olhem sem procurar defeitos, achando na outra uma qualidade”.
Durante sua fala, o gênio da arquitetura declarou que quando vê um grupo de jovens nas ruas protestando, vê que o trabalho deles é mais importante do que o seu. Ele afirmou que “a juventude precisa ser cuidada com mais atenção, ela não sabe o que esperar, precisa de solidariedade. O importante para mim é a vida, procurar a juventude, ajudar os jovens”.
O arquiteto disse estar num “caminho de um mundo melhor…num mundo, enfim, que a gente espera”. Niemeyer participou da sessão por meio de videoconferência.
Discursos
O líder do PCdoB no Senado, Inácio Arruda (CE), definiu o camarada Niemeyer como arquiteto das formas esplêndidas e do sonho socialista: ''um militante incansável das nobres causas do povo brasileiro''.
O humanismo do arquiteto e o fato de que o homenageado sempre esteve ligado às causas do povo brasileiro foi destacado por Inácio durante o seu discurso. O senador foi o primeiro a falar durante a sessão especial em homenagem ao centenário do arquiteto Oscar Niemeyer. Inácio apresentou requerimento transformando a sessão do Senado em sessão do Congresso.
Se referindo aos senadores e deputados presentes, Inácio lembrou que eles estavam no “Espaço de Niemeyer”. “O Congresso Nacional é uma das suas grandes obras. Nós estamos dentro do ‘Espaço de Niemeyer’ e estamos a um passo da Praça dos Três Poderes, que também é um espaço de Niemeyer”.
“Essa é uma homenagem a um homem que na vida inteira reafirmou os seus ideais socialistas e comunistas. Nesse espaço coletivo, ele buscou produzir a sua arte, colocando-a a serviço do povo brasileiro e de várias nações no mundo”, falou Inácio.
“Suas obras geniais encontram-se espalhadas em vários Continentes: oito países, 39 cidades brasileiras, trabalhou e trabalha, incansavelmente, quase todos os dias de sua vida. Em um século de existência, desenhou, riscou, rabiscou uma infinidade de projetos que se transformaram em obras magistrais, o que lhes causam deslumbramento. Emprestou seu talento para as causas populares, projetando vários monumentos, em homenagem aos movimentos sociais”, disse o líder comunista.
No Brasil, o senador citou o Memorial da América Latina; o Memorial dos operários, o Monumento aos sem-terra assassinados; o Monumento erigido em Crateús. “E, mais recentemente, o projeto da nova sede da gloriosa União Nacional dos Estudantes, lá na rua da praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, e o Memorial dos Povos do Araguaia, em homenagem em memória à Guerrilha do Araguaia”.
PCdoB
Inácio lembrou que Niemeyer chegou a ceder seu escritório ao então senador da República, Luís Carlos Prestes, para que servisse de sede do Comitê do Partido Comunista. “Com simplicidade, solidariedade e firmeza, disse ele a Prestes: ‘Fica com esta casa. O seu trabalho é muito mais importante que o meu’”.
O líder lembrou a recente nota divulgada, por ocasião do centenário de Niemeyer, pelo presidente do PCdoB, Renato Rabelo, ressaltando o papel destacado do arquiteto:
“O Partido Comunista do Brasil destaca, entre tantos méritos de um dos arquitetos mais influentes do mundo, o fato de que sua obra tem projetado o Brasil de forma marcante. Um país se torna forte com a riqueza produzida pelo seu povo, mas também pela contribuição indelével de seus talentos, como o de Oscar Niemeyer. Por outro lado, devemos ressaltar sua coerência e o compromisso com o povo, com os oprimidos e com a causa do comunismo e da liberdade”.
“Niemeyer, dentre as suas inúmeras entrevistas, afirmou recentemente ao jornal britânico The Times que simplesmente não consegue recusar um novo projeto. Sem titubear, assegurou na entrevista: ‘O que me faz levantar todas as manhãs é o mesmo de sempre: a luta, a vontade de trabalhar, o comunismo puro e simples’”.
De Brasília
Alberto Marques