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Khader Ottmann: um estado palestino já? Não, muito obrigado!

De repente, toda a mídia mundial começa a repetir uma idéia que parece ter se tornado uma receita milagrosa para ser aplicada no oriente médio e livrá-lo de todos os seus males: a criação de um estado palestino. O presidente George Bush, a União Europé

É aí que nos cabe perguntar: que estado palestino é esse que seu nascimento e sua conformação passam a ser arquitetados e disciplinados pelos tradicionais inimigos dos sonhos palestinos que assolam a nossa pátria por mais de 100 anos? Que missão ou contribuição para a civilização humana ou para a paz mundial terá esse estado no futuro? Ou será que nada mais é do apenas uma ponte para facilitar as realizações dos planos imperialistas e sionistas de dominar o mundo para obter mais lucros e mais poder?
 


Que contribuição terá a criação de um estado palestino, decidida pelos seus inimigos? Ela mais aparece como a tentativa de uma solução internacional unicamente para a ponta do gelo acima da água, deixando todo o iceberg submerso, com toda a sua gama de problemas, sem que as lideranças se dignem a discutir ou buscar saídas.  
 


Que missão terá este estado se as lideranças do mundo todo seguem ignorando a tragédia de seis milhões de palestinos que sofrem há mais de 60 anos sem que ninguém aceite que se coloque em prática um direito conquistado que é o de retorno ao seu lar?
 


Que contribuição terá este estado, criado nestas circunstâncias, como solução internacional, uma vez que dá ao presidente George Bush o direito de decidir sobre as fronteiras, deixando para  Israel o domínio destas fronteiras e até do céu,  constrangendo qualquer movimento que autoridade palestina queria fazer?
 


Que missão terá este estado, com uma solução internacional que considera os fatores demográficos uma ameaça para a segurança do estado de Israel? O que dizer quando autoridades nacionais e internacionais reconhecem Israel como um estado puramente judeu, legalizando assim a futura expulsão de mais de um milhão de palestinos cristãos e muçulmanos que estão morando nos seus lares e em suas terras? Isso não seria criar novos problemas políticos e humanos, e aprofundar os que já existem?
 


Que missão contribuição terá essa idéia como uma solução internacional que faz os palestinos perderem duas vezes: primeiro uma perda moral perante os solidários que lutaram junto, através das gerações. Aceitar essa solução bárbara é reconhecer que estávamos errados na luta. E segundo, haveria uma perda material se concordássemos em aceitar menos de 22% da Palestina histórica deixando mais de 78% para o estado de Israel.


 


Além disso, haveria o agravante de que o problema do território e do poder não ficaria resolvido, afinal não há equilíbrio na proposta imperialista. Toda a proposta está fortemente inclinada a favor daqueles contra os quais lutamos durante anos, exigindo que corrigissem os graves erros que cometeram desde a criação do estado de Israel.
 


Por conta disso é que não podemos aceitar uma solução que, vinda do inimigo, não nos favorece. Todo o processo de construção do estado palestino precisa ser discutido com o povo e deve garantir todos os direitos pelos quais temos lutado esse tempo todo. Da forma como a questão está sendo discutida, a impressão que se tem é de que a Palestina, nestes moldes, nada mais será do que um gueto, onde os palestinos ficarão confinados, tão prisioneiros quanto são hoje.


 


*Khader Ottmann é do Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino.