Beba Elza Soares no Dragão
O Dragão do Mar recebe neste sábado e domingo, dia 12 e 13, a bossa negra de Elza Soares para mostrar no show “Beba-me” clássicos consagrados na sua voz única e rouca como “Se acaso você chegasse” de Felisberto Martins e “Meu Guri” de Chico Buarque. Espec
Publicado 10/01/2008 13:36 | Editado 04/03/2020 16:36
O repertório contempla ainda músicas de Luiz Melodia, Billy Blanco, Caetano e uma composição feita especialmente para Elza por Chico Buarque, “Dura na Queda”.
Quem a vê no palco não imagina por tudo o que já passou Elza da Conceição Soares.
A cantora foi criada na favela de Água Santa, no Engenho de Dentro, subúrbio do Rio de Janeiro. A favela, construída próxima à Pedreira da Harmonia, tinha suas casas cobertas pelo pó das explosões da pedreira. Talvez seja por isso que até hoje, quando vê em sua casa qualquer vestígio de poeira, Elza amarra um lenço na cabeça e põe-se a esfregar o local. Com 12 anos já era casada, teve três filhos e, contrária ao gosto do marido, foi trabalhar em uma fábrica de sabão. Foi demitida por cantar enquanto trabalhava.
Para dedicar-se à música, passou por cima da desaprovação do marido e inscreveu-se no Calouros em Desfile, programa da Rádio Tupi comandado por Ary Barroso. Elza pegou um vestido antigo e deu várias voltas com o tecido em seu corpo, prendendo-o com alfinetes. Ao entrar no palco, a platéia começou a gargalhar. Ainda em choque, o apresentador perguntou “De que planeta você veio?”. Rápida, respondeu: “Do planeta fome. O mesmo que o seu.” A platéia emudeceu. Quando acabou a música, o público aplaudiu-a de pé, e Ary Barroso a abraçou.
Mas acima de qualquer drama, Elza é uma cantora maravilhosa. Como diz Chico, “(…) A flor também é ferida aberta e não se vê chorar.” Elza envolve a platéia com todo o sentimento que deposita em suas canções. É contemporânea, antenada e ousada, à frente de seu tempo. Seu estilo de improvisações incorporado ao samba não tem, até hoje, nenhuma seguidora à altura. Lição para quem tem ouvidos mocos de tanto escutar babados ou ivetes.
Elza, ao entrar no palco, deixa para trás das cortinas todas as mágoas. Como pessoa tem uma relação com a vida que só se aprende no sofrimento. Mas como diz Chico, Elza é dura na queda e “o sol ensolará a estrada dela, a lua alumiará o mar, a vida é bela, o sol,a estrada amarela e as ondas, as ondas, as ondas, as ondas(…)”
Fonte: evaldolima.blogspot.com