José Dirceu: “A transição na Cuba pós-Fidel”
A saída de Fidel Castro da chefia do Estado e do governo abre uma nova fase na vida de Cuba. Mas, a transição já havia começado sob seu comando, se acentuado quando do primeiro acidente sofrido por ele anos atrás – caiu e se feriu gravemente numa manif
Publicado 20/02/2008 13:04
Nesse processo pós-renúncia de Fidel, a comunidade internacional tem um papel-chave a cumprir na medida em que se disponha a colaborar, e o Brasil um papel decisivo, tanto junto ao mundo político-econômico-financeiro internacional quanto, e principalmente, à comunidade latino-americana de nações. Nossos governo e diplomacia podem e devem conduzir os vizinhos latinos a uma política ativa com relação a Cuba, apoiando o fim do embargo norte-americano e todo o esforço cubano para o desenvolvimento.
A incógnita é saber, realmente, que papel a comunidade internacional e latino-americana quer jogar nesta transição – se vai apoiar o governo e o povo de Cuba ou insistir na fracassada política norte-americana de derrubar seu governo e apoiar as organizações político-militares que pululam em Miami e faturam com os negócios da oposição a Fidel e à Revolução.
A economia cubana já esta associada ao capital privado externo em importantes setores, como turismo, mineração (níquel), cigarro e tabaco, bebidas, telefonia, construção civil. As autoridades cubanas antecipam que, à exceção das áreas de defesa, saúde e educação, em todas as demais Cuba está disposta a se associar ao capital externo para o seu crescimento.
A agricultura cubana precisa de apoio técnico e de capitais. O país não tem uma indústria de ração, não produz milho e soja para atender a demanda interna, o que a impede de desenvolver sua pecuária, avicultura e suinocultura. Precisa, até mesmo de alimentos básicos do dia-a-dia, sendo um grande importador dos EUA dos quais compra US$ 500 milhões/ano, num acordo humanitário. Um acordo que, diga-se de passagem, a despeito do bloqueio, atende bem ao interesse americano dando vazão ao excesso de sua produção de cereais.
Cuba precisa, agora, de empréstimos e créditos para importar alimentos e tecnologia, equipamentos, modernizar sua indústria açucareira e investir na infra-estrutura de transportes e urbana. Precisa criar empregos e melhorar os serviços públicos. O país se ressente da ausência do comércio e da prestação de serviços autônomos e particulares, ainda estatizados, e não tem – a não ser na agricultura – micro e pequenas empresas, abastecimento, saneamento e habitação e transportes públicos.
A primeira medida a ser adotada, agora, portanto, é a comunidade internacional e o Brasil exigirem o fim do bloqueio econômico dos EEUU, vigente desde 1962, e que se constitui no maior entrave ao desenvolvimento da ilha. Toda história de Cuba revolucionária está marcada pela dependência do petróleo e pela necessidade de conseguir divisas para suas importações. E nenhuma análise pode ser feita, ou será honesta, se não considerar os efeitos calamitosos deste bloqueio, as agressões que obrigaram Cuba a manter Forças Armadas e gastos militares que fazem falta para investimentos na infra-estrutura e à economia do país. O país sobreviveu, graças ao seu povo, à sua resistência e dignidade.
Não se pode apagar o crime cometido pelos EUA com este bloqueio. Daí ser uma grande vitória do povo e do governo de Cuba, os altos índices sociais do país, a universalização da educação e saúde, da seguridade social. Para atrair investimentos pós-bloqueio, Cuba já tem o mais importante, que é seu povo e sua soberania, aliados a altos índices de escolaridade, razoável desenvolvimento tecnológico em varias áreas, como saúde, biotecnologia e outras, um serviço de saúde exemplar, excelentes índices sociais e uma economia voltada para o exterior, para o comércio internacional, para o turismo, para a exportação de serviços.
Fonte: Blog do Zé Dirceu