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Sérgio Vaz: Deusas do cotidiano

“De todos os hinos entoados em louvor às revoluções nos campos de
batalhas, nenhum, por mais belo que seja, tem a força das canções de
ninar cantada no colo das mães.” S.V.

O nome dessas mulheres eu não sei, não lembro e nem preciso saber. São
nomes comuns em meio a tantos outros espalhados por esse chão duro
chamado Brasil.


 



Mas a maioria delas eu conheço bem, são donas de um mesmo destino: as
miseráveis que roubam remédios para aliviar as angústias dos filhos.


 



É quando a pobreza não é dor, é angústia também. São as ladras de Victor Hugo.


 



Donas da insustentável leveza do ser, as infantes guerreiras enfrentam
a lei da gravidade. Permanecem de pé ante aos dragões comedores de
sonhos que escondem na gravidade da lei. Das trincheiras do ninho
enfrentam moinhos de mós afiadas para protegerem a pança dos
pequeninos. São as Quixotes de Miguel de Cervantes.


 



Místicas, não raro, estão sempre nuas em sentimentos. Quando precisam,
cruas, esmolam com o corpo, e se postam à espera do punhal do prazer
que cravam no seu ventre. È quando o prazer humilha.


 



São as habitantes do inferno de Dante.


 



Rainhas de castelos de madeiras, sustentam os filhos como príncipes, e
os protegem da fome, do frio, e da vida dura e cruel que insiste em
bater na porta das mulheres de panela vazia.


 



Quanto aos reis, também são os mesmos: os covardes dos vinhos da ira.


 



Mágicas, esses anjos se transformam em rochas, quando a vida pede grão
de areia.



Em flores quando rastejam e espinhos quando protegem.



Essas mulheres são aquelas que limpam tapetes, mas não admitem serem pisadas.



São domésticas, mas não admitem serem domesticadas.



Sim, são as deusas do dia a dia.


 


Homenagem às mulheres que nunca são homenageadas