Traição pró-Kassab irrita Alckmin e amplia crise no PSDB
O ex-governador Geraldo Alckmin rompeu ontem o estilo contido e reagiu à articulação de vereadores do PSDB em apoio à reeleição de Gilberto Kassab (DEM) à Prefeitura de São Paulo. Em resposta ao terceiro documento produzido pela bancada em favor da ali
Publicado 19/03/2008 17:42
“Claro que sou favorável [à manutenção da aliança]. Agora, por que quem está em primeiro lugar precisa abrir mão para quem está em terceiro? Eu nunca vi isso”, afirmou, para completar em seguida: “Só se for para ajudar o PT”.
Alckmin participou de homenagem a Franco Montoro. Horas antes, vereadores do PSDB deram novos sinais de apoio a Kassab. Em resposta a um ato organizado pelos apoiadores de Alckmin, a bancada convocou para semana que vem reunião pró-aliança.
Falando contar com “ampla maioria da bancada”, o líder Gilberto Natalini divulgou um artigo em que não apenas defende a aliança como exalta o que chamou de conquistas da administração “Serra-Kassab”.
Questionado sobre o artigo, Alckmin disse: “Não vi o documento, mas sem ver já achei bom, porque as pessoas devem ter todo o direito de expor suas idéias”. O ex-governador defendeu a realização de prévias no PSDB. “Acho que o PSDB já estabeleceu que para 2010 vai ter as primárias e acho que nós deveríamos fazer já”, disse.
Nos bastidores, Alckmin manifestou sua irritação a integrantes do comando do PSDB com as declarações de tucanos em favor do atual prefeito.
Kassab chegou ao evento de ontem à noite 10 minutos após a saída de Alckmin e disse preferir “não falar da hipótese de não existir a aliança”, por acreditar na manutenção dela. Questionado sobre a declaração do tucano citando pesquisas, disse apenas: “Nunca minimizo as pesquisas, que são importante retrato do momento”.
Artigo da bancada
No artigo de Natalini, o nome de Kassab está em cinco de oito parágrafos. Não há menção a Alckmin. “Serra e Kassab tomaram posse e, com eles, fincou raízes um princípio ético que se estende até hoje, em cada ação pública. Pouco discurso e muita ação concreta. Seriedade e competência no trato com o dinheiro público”, diz o texto do vereador. Natalini afirma que “todos [os vereadores] endossaram o documento”.
“Este governo, comandado pelo prefeito Kassab e pelos secretários e subprefeitos, em sua maioria do PSDB, deram [sic] uma nova “cara” para São Paulo com a Lei Cidade Limpa”, complementa o texto.
Embora diga não ter restrições à candidatura de Alckmin, Natalini não declarou voto no tucano em caso de duas candidaturas. “Isso é um problema particular meu. Sou extremamente partidário, fiel ao partido, mas em quem vou votar ou deixar de votar é um problema muito particular meu, de foro íntimo”, disse em entrevista.
Reunidos na sede do partido, os vereadores informaram ao secretário municipal Andrea Matarazzo a decisão de realizar um ato em favor da aliança no dia 29 –dois dias após a manifestação dos alckmistas.
Os vereadores também decidiram cobrar da direção do partido uma resposta à carta em que sugerem que o diretório municipal seja consultado sobre a aliança. O documento é endereçado ao presidente do partido, José Henrique Reis Lobo. Mas ele não o leu.
Ontem, mais uma vez, Lobo faltou à reunião e designou Matarazzo, vice-presidente do partido, como representante.
Nêumanne: “erro diabólico”
Em artigo publicado no Jornal da Tarde, o jornalista José Nêumanne ironiza a briga entre tucanos e demos: “O que talvez nem os mais otimistas estrategistas petistas imaginavam é que tucanos e dêmicos fossem de um egocentrismo tal que terminariam por pôr em risco até esse bastião em que se instalaram nas últimas eleições, desde que desalojaram o PT da Prefeitura da capital em 2004. Os antigos romanos diziam que “errare humanum est, sed in errore perseverare diabolicus est” (“errar é humano, mas perseverar no erro é diabólico”). Se na Roma dos Césares houvesse um PSDB ou um DEM, é provável que eles substituíssem o diabólico por tucano ou dêmico. Pois a dura batalha entre o ex-governador Geraldo Alckmin, do PSDB, e o prefeito Gilberto Kassab, do DEM, para disputar com o PT é a estulta preservação do erro da última campanha presidencial: um fogo amigo que só poderá levar às cinzas da derrota.”
Da redação,
com agências