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Marxismo pode contribuir para evitar degradação ambiental

O professor César Benjamin, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), rebate as críticas que vem sendo feitas ao marxismo de que este não responde às questões atuais de enfrentamento à degradação do meio ambiente.  Ele participou da exposi

Para responder às críticas dos ecologistas de que a teoria marxista estaria ultrapassado para as questões do século 20 e 21 e que eles (ecologistas) traziam nova questão teórica que iria substituir o marxismo, Benjamim fez uma explanação em que conclui “os ecologistas dizem que isso não vai dar certo por que tem limites externos – vai faltar água ou acabar camada de ozônio”, enquanto o marxismo avalia que o homem não é um animal qualquer, é especial, tem memória e patrimônio que varia de um a um, de geração a geração, e que pode, pelo processo social, alterar a realidade.



Para ele, “a grande ameaça à humanidade é a própria humanidade e esse é o desafio – superar a nós mesmo, criando uma nova organização social – e não faremos isso com o ecologismo, mas com a revolução social”.



Benjamin fez reflexões sobre o futuro, apresentando duas situações previstas no marxismo. Aquela em que “as massas humanas secundarizem as relações mercantis, se apropriem da tecnologia e faça o que só o homem é capaz de fazer – poesia, sinfonia …”, acrescentando que seria “a capacidade técnica colocada a serviço do homem”.



A outra possibilidade descrita é aquela em que a força do capital permaneça e as massas excluídas e a tensão advinda disso gerem guerras.



Essência de Marx



A partir dessa análise, em que Marx previu essas situações em meados do século 18, ele jogou de volta para a platéia a pergunta que se propunha responder; “a teoria marxista tem o que dizer ao mundo atual ou está ultrapassada?” Para ele, a crise atual dos Estados Unidos é a expressão dessa segunda possibilidade prevista por Marx. E enfatizou que o marxismo é essencial para se ver o mundo atual.



Na sua obra O Capital, Marx adota como ponto de partida a mercadoria, responsável pela reorganização da sociedade humana. A expansão desse mundo ocorreu com a transformação de todos os bens em mercadorias – bens materiais e simbólicos. A partir daí, o mundo se concentra em aumentar população para consumir mercadoria e criar novas necessidades, não apenas fisiológicas, mas da fantasia, que tem poder  ilimitado. Tudo isso com objetivo de manter expansão do capital, que incluia ainda a busca de programa contínuo para encurtar tempo de acúmulo de riqueza.



O capital não se valoriza sem precisar do processo produtivo, portanto a tendência do capitalismo é a adoção de um circuito que não passe pela mercadoria e processo gerador, que produz graxa, fumaça etc, elementos incômodos. Nesse momento, o capital perde o caráter de processo civilizatório, repudia o trabalho, e passa a ser força de sistema desorganizador da vida social. Benjamim chamar atenção para a coincidência da análise de Marx e a crise econômica atual nos Estados Unidos.



Relação cortada



O jornalista José Carlos Ruy, que também participou da apresentação do tema, fez uma interpretação da obra marxista, enfatizando que a relação do homem com a natureza não é apenas biológica, mas também social, acompanhando o raciocínio de Benjamim. Lembrou que o modo de produção condiciona a relação do homem com a natureza.



Ele lembrou que na época pré-capitalista, essa relação era direta e visível, o trabalho do homem era direto com a natureza. No capitalismo, há uma ruptura, que se torna cada vez mais acentuada, e o trabalho passa a ser mediado pelo capital. Essa cisão entre humanidade e natureza cria a ilusão de que estamos fora da natureza.



Ruy analisa ainda que, em busca da potencialização do lucro, o capitalismo esvazia o campo, expulsa o homem da terra e cria um contingente de pessoas nas grandes cidades que, sem emprego, se tornam os excluídos da sociedade. Nesse ponto, Benjamim já havia falado que nas sociedade antigas não existiam os excluídos – cada um era alguém – servo ou nobre; na sociedade atual existem os excluídos, que não são nada.



Ao alertar para a necessidade do debate sobre meio ambiente dentro do contexto geral, Ruy destaca que em 1667, Marx já dizia que “ninguém é proprietário da terra, são apenas posseiros, que devem cuidar bem dela para as próximas gerações”.



O capitalismo faz o contrário, se apropria dos bens da natureza para transformar em mercadoria (e lucro) e não em benefício coletivo da humanidade. Por isso, Marx sugeria, e Ruy destacou da obra dele, a proposta de “superar a forma de produção para restabelecer relação harmônica com a natureza”.



De Brasília
Márcia Xavier


 


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