Ocupação conquista afastamento de reitor da UnB por 60 dias
O reitor da Universidade de Brasília (UnB), Timothy Mulholland, anunciou, por meio de um comunicado divulgado pela assessoria nesta quinta-feira (10), que vai se afastar do cargo por 60 dias. O vice-reitor da universidade, Edgar Mamiya, vai assumir o carg
Publicado 10/04/2008 17:54
O objetivo do afastamento é ''assegurar os princípios constitucionais da eficiência, publicidade, moralidade, impessoalidade, legalidade e transparência na apuração dos fatos a mim imputados'', disse o reitor, em nota da assessoria da universidade. A decisão foi comemorada por professores e estudantes que participam de uma assembléia da Associação dos Docentes da UnB (AdUnB) nesta manhã.
Em apoio a ocupação a UNE estará realizando no próximo dia 17 uma mobilização nacional nas universidades federais. Trata-se de uma série de atos e aulas públicas em cerca de 20 instituições públicas do Brasil. O obejtivo é exigir a regulamentação das fundações de apoio, autonomia de gestão financeira dessas instituições, eleições diretas para reitor e paridade nos conselhos deliberativos.
Além destas questões, o Dia Nacional de Mobilizações pretende chamar a atenção para o fim da DRU, por 10% do PIB para a Educação e para a expansão de vagas nas universidades públicas.
Por volta das 15h30 desta quinta, o fornecimento de água ao prédio da reitoria foi retomado. A decisão foi dos próprios funcionários da UnB. A energia elétrica ainda não foi religada. Luz e água haviam sido cortados na segunda-feira (7) por ordem da Polícia Federal (PF).
Na sexta-feira (11), os estudantes vão apresentar ao Conselho Universitário (ConsUni), órgão formado por servidores, professores e estudantes, proposta para que se retire também o vice-reitor e se realizem eleições paritárias para o cargo, nas quais os votos de professores, alunos e funcionários têm o mesmo peso.
Segundo Fábio Felix, um dos coordenadores gerais do Diretório Central de Estudantes (DCE), a saída do vice-reitor é uma reivindicada pelo movimento desde o início. “Agora a gente tem que acirrar a mobilização para tirar o vice-reitor. Temos que descartar essa política de gestão”, disse.
Os estudantes informaram que, na próxima segunda-feira (14), realizarão mais uma assembléia para decidir se permanecem ocupando o prédio da reitoria.
Ocupação
Os estudantes da UnB haviam decido, na tarde da quarta-feira (9), manter a ocupação ao prédio da reitoria da instituição, ocupado no começo da tarde da quinta-feira passada (3), mesmo se houvesse o afastamento do reitor.
A decisão partiu de um assembléia que durou duas horas e meia e foi realizada em frente ao local ocupado – da qual teriam participado, segundo os alunos, 1,6 mil estudantes.
Os alunos também decidiram nessa quarta-feira suspender as negociações com a reitoria da UnB até que a energia elétrica e a água do prédio sejam religadas. O corte ocorreu na última segunda-feira (7), por ordem da Polícia Federal (PF).
Dinheiro desviado
Sopa-creme de abóbora e queijo brie ou quiche de queijo de cabra, abobrinha e amêndoas na entrada. Salmão grelhado ao molho normanda, tirinhas de filé mignon ao molho de manga e tomates como opções de pratos quentes. Frutas frescas, tortinha morna de maçã e passas na sobremesa. Esse é o cardápio de um dos almoços oferecidos pelo reitor da UnB com dinheiro que deveria ser usado em benefício dos índios. O evento, para 39 convidados, custou R$ 5.172,80 e foi pago com recursos da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
O almoço ocorreu em 16 de julho do ano passado, no restaurante Alice Brasserie, na QI 17 do Lago Sul. A pedido da Reitoria da UnB, o restaurante, um dos mais badalados (e caros) de Brasília, foi fechado naquele dia para Timothy e os convidados dele. Somente o aluguel custou R$ 500. O almoço, incluindo bebidas, saiu a R$ 116,70 por pessoa. Além do Alice, a UnB cotou os preços apenas de mais um espaço, o restaurante do hotel Blue Tree Park, que pediu R$ 1,5 mil a mais pela exclusividade do espaço. Com isso, perdeu a concorrência.
Na lista de convidados do reitor, há 18 funcionários da UnB. Os outros 21 são integrantes da Embaixada da Espanha no Brasil, do governo espanhol e do Instituto Cervantes.
Na época da visita dos espanhóis, o site da UnB destacou o encontro em diversas reportagens feitas pela equipe da Secretaria de Comunicação (Secom) da universidade. Mas em nenhuma das matérias informou que o convênio foi assinado em almoço oferecido pelo reitor e pago com recursos da Funsaúde. Muito menos o preço da recepção. Três jornalistas da Secom, nenhum concursado, estavam na lista de convidados oficiais de Timothy.
Na oportunidade, Timothy assinou o convênio de intercâmbio entre as instituições, criação de cursos de formação de professores e a realização de cursos, conferências e outras atividades dirigidas à promoção da língua espanhola. Nada em favor dos índios brasileiros ou da Funasa, de onde saiu o dinheiro do almoço.
Na Justiça
O promotor de Justiça do MPDFT Ricardo Souza intimou, na quarta-feira (9), Mulholland a comparecer a uma audiência para tratar dos contratos firmados entre a UnB e a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), ligada à instituição.
Segundo a assessoria de imprensa do MPDFT, o encontro deve ocorrer na quarta-feira que vem (16). O reitor é obrigado a comparecer ao local, também segundo a assessoria.
A situação de Mulholland à frente da UnB começou a se complicar no início de fevereiro, quando a relação entre a instituição e a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), ligada à UnB, foi questionada pelo Ministério Público do Distrito Federal (MPDF).
O MPDF acusou a Finatec de ter financiado, com recursos públicos, a reforma de um apartamento funcional, até então usado por Mulholland, bem como a compra de móveis e utensílios domésticos para o imóvel. O valor do gasto: R$ 470 mil, segundo o MPDF – sendo R$ 1 mil só para uma lixeira. A UnB diz que o gasto não ultrapassou os R$ 350 mil.
O Ministério Público Federal (MPF) e o MPDFT entraram, nesta terça-feira (8), com uma ação de improbidade administrativa contra o reitor da UnB e o decano de administração da UnB, Erico Paulo Weidle, na 21ª Vara da Justiça Federal no DF. Eles são acusados de usar recursos destinados ao financiamento de projetos de pesquisa e desenvolvimento institucional da UnB para decorar o apartamento funcional utilizado pelo reitor até o mês de fevereiro.
Multa
A respeito da multa a que está sujeito o movimento estudantil por conta da invasão – estimada, até as 16h desta quarta-feira (9), em R$ 700 mil, pela UnB -, Diogo disse que o DCE da UnB não tem verba para pagá-la.
Na sexta-feira (4), a juíza federal substituta Cristiane Pederzolli, da 17ª Vara do Distrito Federal, ordenou a desocupação do gabinete do reitor da UnB.
Segundo a decisão, a cada hora de desobediência, o movimento tem de pagar R$ 5 mil de multa.
Leia a íntegra do comunicado do reitor.
Comunicado à comundiade acadêmica da UnB
Na data de hoje, venho a público comunicar que decidi me afastar, pelo período de 60 dias, do cargo de reitor da Universidade de Brasília.
Esta decisão foi tomada com o objetivo de assegurar os princípios constitucionais da eficiência, publicidade, moralidade, impessoalidade, legalidade e transparência na apuração dos fatos a mim imputados.
Assim, de acordo com a lei, neste período de afastamento, assumirá o exercício do cargo de reitor o vice-reitor da universidade de Brasília.
Brasília, 10 de abril de 2008
Timothy Martin Mulholland
Reitor da UnB