'Tropa de Elite' arremata 9 troféus do Oscar brasileiro
Tropa de Elite ganhou nove prêmios na noite de gala do cinema nacional, promovida pela Academia Brasileira de Cinema, mas ficou sem o de melhor filme, concedido a O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias. Com 13 indicações cada um, os doi
Publicado 16/04/2008 22:27
Cao Hamburger fez cara e discurso de surpreso ao ouvir seu filme ser anunciado campeão da categoria longa de ficção, depois de ter perdido em tantas outras para Tropa – inclusive a de diretor, ganha por José Padilha, que não foi à premiação, segundo o produtor Marcos Prado, porque estava com suspeita de dengue, que acabou não confirmada. ''Estou surpreso mesmo. Mas o que a gente faz é filme. A gente não é criador de cavalo de corrida para ganhar'', disse Cao.
Antes de entregar o troféu batizado de Troféu Grande Otelo, o presidente da Academia, o cineasta Roberto Farias, havia saído em defesa de Tropa de Elite, que sofreu críticas duras de todos os lados, dentro e fora do Brasil.
''Vocês já perceberam como nós somos muito severos com o cinema brasileiro? Se não faz sucesso, a gente cobra. Se faz, a gente cobra também. Viram como cobraram do Tropa de Elite?'', disse Farias, que aproveitou para ratificar que as escolhas da Academia não têm ''conotação política''. A entidade é formada por atores, diretores e produtores, que este ano escolheram entre cem filmes, lançados entre julho de 2006 e dezembro de 2007.
Realizada no Vivo Rio, casa do patrocinador, a premiação foi longa, por vezes confusa, e começou com duas horas de atraso. Mas a noite foi salva por alguns discursos inspirados.
Wagner Moura, escolhido melhor ator, fez graça: ''Fui membro da Academia por dois anos, só que desta vez esqueci de pagar. Nesses dois anos, eu votei em mim, mas não ganhei.'' Ele foi um dos muitos que dedicaram o prêmio aos filhos. Hermila Guedes despediu-se do público assim: ''Filhota, eu estou chegando já pra te dar de mamar!'' Ela conseguiu para O Céu de Suely seu único prêmio da noite, o de melhor atriz.
Tropa versus Ano
Este ano, pela primeira vez em seis edições, o prêmio, para o qual concorreram filmes produzidos entre julho de 2006 e dezembro de 2007, abriu três categorias escolhidas pelo público: melhor filme para celular, melhor longa-metragem estrangeiro e melhor longa-metragem nacional, vencido por Tropa de Elite. Nas outras categorias, os vencedores são escolhidos pelos sócios da Academia Brasileira de Cinema, criada em 2002.
É justo esse caráter mais popular que deixou Tropa de fora do prêmio principal, na avaliação de diretores e produtores de Tropa e Ano, que negaram, contudo, haver qualquer mal-estar entre as duas produções.
O Ano é um filme bem de cinema. Tropa de Elite é mais popular, embora tenha cativado parte da intelectualidade. Mas O Ano é um filme sensacional e é muito justo'', disse o produtor de Tropa de Elite, Marcos Prado.
O diretor do Ano, Cao Hamburguer, também foi na linha amistosa. ''Acho que a gente não desbancou ninguém. Qualquer um dos indicados que ganhasse representaria bem essa safra do cinema brasileiro do último ano e meio. O prêmio é uma mera desculpa para estarmos juntos, para fortalecer o cinema brasileiro''.
O ator Wagner Moura foi o primeiro a botar panos quentes. ''Não tem essa de competição. Prêmio é assim mesmo. E não é uma surpresa O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias ter ganho. É um filme sensacional, foi merecido'', disse.
Prêmios
Tropa de Elite não deixou para ninguém: venceu nas categorias maquiagem, fotografia (Lula Carvalho venceu o pai, Walter, indicado por O Céu de Suely e também pelo documentário Santiago), ator coadjuvante (Milhem Cortaz), som, montagem, efeito especial, ator, diretor e ainda no voto popular (dado por celular e pela internet). O Ano ficou com direção de arte e roteiro original, além de melhor filme de ficção.
Esta edição teve até filme feito para celular (coisas do patrocinador…): o eleito foi Putz. Santiago, de João Moreira Salles, ganhou do superpremiado Estamira, de Marcos Prado, e de Jogo de Cena, do mestre Eduardo Coutinho.
No quesito figurino, deu Zuzu Angel. O Centro Brasileiro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro foi reconhecido por seu trabalho de preservação de filmes antigos. Os estrangeiros Pequena Miss Sunshine, americano, e A Vida dos Outros, alemão, venceram como melhor longa-metragem internacional, o primeiro pelo voto popular; o segundo pela escolha do júri. Cartola, Música para os Olhos, levou ''melhor trilha sonora''.
Homenagem
Renato Aragão, homenageado pelo conjunto da obra (quatro décadas de carreira, 46 filmes, vistos mais de 120 milhões de espectadores), emocionou a todos. Depois de ver um clipe de cenas de Didi Mocó e seus companheiros trapalhões, já subiu ao palco chorando bastante.
''Eu vim da minha terra pra fazer cinema. Quando fiz meu primeiro filme, eu já estava feliz, realizado, achei que podia voltar pra minha terra'', lembrou. ''(Nos filmes), os bandidos me batiam de um lado e a crítica de outro. Quanto mais batiam, a bilheteria subia.''