PCdoB marca presença no 21 de abril de Ouro Preto

Os comunistas foram destaque nas comemorações do 21 de abril em Ouro Pr

O curioso é que as atenções do mundo político, e motivo de comentário de toda a imprensa, foi uma comunista que nem estava presente, a deputada federal Jô Moraes. Pré-candidata a Prefeitura de Belo Horizonte, Jô já recebera a Medalha em 1999, mas foi a mais comentada do ato. O nome da deputada foi saudado pelo orador oficial da solenidade, o presidente em exercício, José Alencar.


 


Por trás da gentileza da lembrança, um recado para os dirigentes do PT e do PSDB, presentes em grande número. Alencar reforçava ali a sua opção e do seu partido, o PRB, para a disputa da capital. Na quinta-feira próxima, com a presença do próprio vice-presidente, deve ser selada a aliança com o PCdoB.


Cenário de articulações


 


Articulações


 


Todo o ano o cenário se repete. Na histórica cidade de Ouro Preto, mais precisamente na Praça Tiradentes, os olhos da política brasileira se voltam para Minas. O 21 de abril marca a data em que o mártir da Inconfidência Mineira, patrono e herói nacional, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi enforcado em 1792, acusado de conspirar pela libertação do Brasil da metrópole portuguesa.


 


Esta tradição nasceu com outro mineiro, o então governador Juscelino Kubitscheck, que instituiu a entrega da Medalha da Inconfidência, em 1952. Se o cenário se repete, os personagens e o enredo sempre se alteram. Como neste dia se deslocam centenas de políticos e personalidades do país inteiro para a antiga capital, o 21 de abril passou a ser um momento de grandes articulações políticas.


 


Este ano, o governador Aécio Neves e sua poderosa equipe de propaganda montou, minuciosamente, à custa de muito investimento, o coroamento das suas últimas movimentações rumo ao Palácio do Planalto. No palco, colocou variados matizes políticas e fez discurso falando do papel de Minas nos rumos da nação.


 


Um elemento não poderia faltar, o público. Para isso, foram contratados jovens de várias partes da região metropolitana, que chegavam a ganhar 40 reais para participar e balançar centenas de bandeiras do PSDB e outras com a logomarca de Aécio.  “É o dinheiro que move o mundo”, justificava um jovem morador da periferia de Belo Horizonte, que é só uma vítima do sistema.


 


Datas articuladas


 


As datas foram bem articuladas por Aécio, pois a semana que se passou praticamente selou sua principal cartada nos últimos tempos, a aliança dos tucanos com os petistas em Belo Horizonte.


 


No sábado, o PSB aprovou em pré-convenção o nome do secretário de desenvolvimento econômico, Márcio Lacerda, que fora enxertado no ano passado por indicação do prefeito Fernando Pimentel e com bênção do deputado Ciro Gomes.  No mesmo dia, os petistas sacramentaram o nome do deputado estadual Roberto Carvalho, braço direito de Pimentel.


 


Aécio comemora também seus últimos giros pelo país, divulgando seu nome e o namoro com uma parte do PMDB ligada ao presidente da sigla, Michel Temer, um dos agraciados do dia.


 


Zé Alencar


 


Apesar de todo o peso jogado pelos tucanos, os planos não saíram como desejados. A começar pela indignação demonstrada pelos peemedebistas mineiros e pelo próprio vice-presidente. Com a decisão de Alencar de caminhar com os comunistas, a candidatura de Jô Moraes se torna bem mais competitiva. Vale lembrar que ela lidera todas as pesquisas de opinião feitas até então. Com a vinda de Alencar, aumenta a possibilidade da vinda do PMDB.


 


O discurso de José Alencar manteve a coerência com o seu perfil nacionalista. Lembrando Juscelino Kubischeck, ele falou da necessidade do país crescer e se desenvolver, mas que para isso precisa se libertar das amarras, como os entraves colocados com as altas taxas de juros. Colocou esta necessidade como a herança atual da luta dos inconfidentes.


 


Em entrevista para a imprensa em Outro Preto, Alencar disse que a alta da taxa básica de juros foi desnecessária. Segundo ele, o Brasil precisa chegar à média praticada pelo resto do mundo desenvolvido. “Os juros têm que cair para padrão de mercado internacional. Isso, do ponto de vista nominal, seria no máximo uns 5%, porque a taxa básica real média do mundo é menos de 1%.”, disse, referindo-se aos atuais 11,75% praticados no Brasil.


 


Militância presente


 


Os militantes do PCdoB fizeram coro com as preocupações de José Alencar. Uma das faixas trazidas pelos comunistas fazia referência à campanha nacional do Partido “Juros Altos Não!”, com os dizeres: “Traidores do Brasil, do passado e do presente: Silvério dos Reis e Henrique Meirelles”. Joaquim Silvério dos Reis foi o traidor que denunciou os planos dos inconfidentes ao governador de Minas Gerais. Meirelles é o atual presidente do Banco Central do Brasil.


 


Outra faixa fazia referência à postura e posição do Vice-presidente da República, José Alencar, um dos principais atores na briga contra o aumento de 0,5% na taxa Selic promovido pelo Banco Central na última quarta-feira.


 


A União Estadual dos Estudante (UEE-MG) e a União Colegial de Minas Gerais (UCMG) também estavam presentes e gritaram palavras de ordem contra o descaso do governo com o ensino no estado, denunciando o fato dos gastos com publicidade serem muito mais altos do que os aplicados na área educacional.


 


No final da cerimônia, os militantes comunistas ainda distribuíram ao público mil exemplares do jornal A Classe Operária, que foi recebido com entusiasmo pelos presentes.